Capítulo 06

Maya Collins 

O espelho do banheiro é pequeno e está manchado, mas é o que tenho. A luz fluorescente pisca sobre meu rosto enquanto aplico uma camada de base para esconder as olheiras que o cansaço pintou sob meus olhos. Uso o gel para domar meus cachos em um coque bem apertado e impecável — o tipo de penteado que diz “não me toque, só estou aqui para servir”.

Toda essa produção não é por vaidade, e muito menos porque aceitei o convite de Megan para a festa. Recusei, claro. Mas quando ela me ligou ontem, com outra “solução”, não pude dizer não.

— Minha tia é coordenadora de eventos. Precisam de garçons para uma festa beneficente na casa do prefeito. É só uma noite, Maya. E pagam bem.

Pagam bem. Essas foram as palavras mágicas.

Saio de casa pouco depois das cinco, fechando a porta sem fazer barulho. Kisha e Celina ainda dormem, imersas no sono pesado de quem só chega ao amanhecer. O metrô está estranhamente silencioso a esta hora, cheio de pessoas com expressões sonolentas e roupas de trabalho. Sinto o uniforme dobrado na mochila como um disfarce, uma pele temporária que vestirei para entrar em um mundo que não me pertence.

A empresa de eventos fica em um prédio de vidro no limite do centro. A coordenadora — uma mulher de cabelo grisalho preso em um rabo-de-cavalo apertado — apresenta-se como Sra. Ellis. Tia de Megan. Seus olhos percorrem-me de cima a baixo, avaliando, mas há um brilho de aprovação quando me vê de uniforme: preto, impecável, discreto.

— Megan falou muito de você — diz ela, sem sorrir. — Espero que esteja à altura.

Algo em seu tom me faz endireitar as costas. Não é uma ameaça, mas um lembrete: aqui, sou invisível, mas preciso ser perfeita.

Recebemos instruções rápidas — não falar com os convidados a menos que necessário, não fazer contato visual prolongado, servir com elegância e sumir. É um ballet de submissão, e todos sabemos os passos.

Entramos em uma van com outros cinco garçons. Conforme nos afastamos do centro, a cidade começa a mudar. As ruas estreitas e as fachadas descascadas dão lugar a avenidas largas, arborizadas, onde cada casa é uma fortaleza de tijolos e grades ornamentadas. Os jardins são impecáveis, sem uma folha fora do lugar. Pela janela, observo crianças em uniformes caros brincando sob a supervisão de babás, e carros silenciosos e brilhantes deslizando pelas ruas como fantasmas.

Quanto mais nos aproximamos do nosso destino, mais o ar parece diferente — mais limpo, mais leve. E mais pesado, também.

Até que a van reduz a velocidade e para diante de portões dourados enormes, flanqueados por seguranças austeros. A casa do prefeito não é uma casa — é um palácio, iluminado contra o céu que escurece, com janelas altas que cintilam como diamantes.

Meu estômago se contrai. Lá dentro, os poderosos de Nova York — humanos e Aurélios — se misturam, enquanto pessoas como eu servem canapés e vinho.

A Sra. Ellis vira-se para nós, com um último aviso:

— Lembrem-se: vocês são parte da mobília. Ninguém deve notar vocês. E ninguém — repito — ninguém — cruza a linha entre servir e ser visto.

Assento com a língua seca. Megan avisou que não estaria aqui — ela odeia estes eventos. De repente, sinto um alívio por isso. Pelo menos não terei seus olhos me observando, nem sua tentativa bem-intencionada de me incluir em um mundo onde não passo de uma sombra.

A van adentra a propriedade, e eu respiro fundo.

É só uma noite, Maya, lembro a mim mesma.

Sirva e desapareça.

Mas, mesmo assim, um frio percorre minha espinha — a sensação nítida de que, às vezes, o mundo muda nos momentos em que menos esperamos.

E esta noite… esta noite parece diferente.

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