KAELEN
O despertador não existia no meu quarto. Meu ciclo circadiano interno era um relógio preciso, normalmente inabalável. Mas hoje, a luz do meio-dia já filtrada pelos painéis de controle de luminosidade das janelas encontrou-me ainda mergulhado em um sono pesado e desagradável. Acordei com a cabeça latejante, uma sensação espessa e opaca atrás dos olhos. O cansaço, finalmente, reivindicara seu preço.
O estresse dos últimos dias era uma entidade constante. Primeiro, a perda da gestação da Lyra. Mais uma linha vermelha num gráfico já saturado de falhas. A hemorragia não pudera ser contida. O pequeno clarão de batimentos cardíacos no holograma se apagara silenciosamente, e com ele, um pedaço da esperança do nosso povo. O Conselho, liderado pelo meu pai, claro, aumentara a pressão até ela ser física, uma dor constante nas têmporas. As reuniões eram interrogatórios disfarçados, as cobranças por uma "solução definitiva" ecoavam nos corredores de mármore do poder.
E, como se não bastass