POV Salvattore Bianchi
A ausência dela me corroía. Desde que Rafaella partiu para o Brasil, a casa parecia sufocante. O silêncio, que antes era reconfortante, agora era um lembrete constante de que ela não estava mais ali — da risada doce ecoando pelos corredores, do cheiro de perfume que invadia os ambientes quando ela passava. E eu, homem feito, braço direito de Matteo, herdeiro de sangue e pólvora, me via em pedaços por uma garota de olhos intensos e alma inquieta. Tentei afogar esse desejo. Busquei prostitutas. Exigi que fossem morenas, com olhos castanhos grandes, curvas suaves, voz doce. Algumas tinham até o mesmo corte de cabelo que ela usava quando chegou na Toscana. Mas, na hora, quando tiravam as roupas, não era Rafaella. Quando gemiam, não era a melodia que meu corpo queria ouvir. Eu as usava e descartava, com uma frustração que só crescia. Era como alimentar um vício com veneno. Nada preenchia. Nada era ela. Foi nesse vazio que Antonella Ricci voltou à minha vida — como um lembrete cruel do mundo ao qual pertenço. Filha de Romano Ricci, um dos pilares da velha guarda, Antonella sempre foi arrogante, intensa, bonita demais para o próprio bem. Tivemos algo no passado. Apenas carne. Mas ela sabia o jogo e sabia jogar. Com Rafaella distante, Antonella viu brecha para se aproximar de novo — não por amor, mas por poder. — Pense com a cabeça da máfia, Salvattore — disse Romano Ricci, com a voz firme, os olhos de aço que pareciam perfurar. — Essa união traria estabilidade entre nossas famílias. Você sabe o que isso significa. Eu sabia. Significava fortalecer alianças, consolidar territórios, preparar o terreno para Matteo alcançar voos ainda mais altos. Seria o casamento perfeito aos olhos da Cosa Nostra. Mas aos meus olhos, era uma sentença. Antonella veio até mim como se já tivesse vencido. Com um sorriso seguro, ela disse: — Podemos fazer isso funcionar. Você tem seus desejos, eu tenho os meus. Seremos poderosos, respeitados, temidos. Não é isso que importa no fim? Mas eu não queria poder. Não queria respeito. Eu queria Rafaella. Queria os olhos que me desarmavam, o jeito que ela me chamava de cafajeste e depois corava, como se só eu existisse no mundo. Queria a menina que me fazia sorrir sem perceber, que lia cartas minhas com as mãos trêmulas e que me desafiava com aquele gênio impossível. Fechei os olhos naquela noite, sozinho na varanda da casa de Matteo, com um copo de uísque que já nem queimava mais na garganta. A carta que mandei pra ela dias atrás — cheia de promessas indecentes e confissões que jamais fiz a outra mulher — não teve resposta. E mesmo assim, meu coração continuava preso à ideia de que ela era a única que poderia me redimir. Mas agora, havia uma guerra dentro de mim. O amor era uma fraqueza — sempre foi. Mas e se fosse minha única salvação? Entre os interesses da máfia e o amor da minha vida, eu estava entre a cruz e a espada. E cada dia que passava, a lâmina afundava mais.