POV Salvattore Bianchi
A dança começou como qualquer outra. Um convidado qualquer puxando Rafaella para a pista. Mas não era, era o Lensky. Algo dentro de mim quebrou. Aron Lensky. O herdeiro dos Lensky. Herdeiro direto da máfia russa. Jovem, sorridente, carismático — e sorrateiro. Por fora, charme e polidez. Por dentro, um homem treinado para destruir. Como o pai dele. Como o avô. Uma dinastia de sangue e manipulação. E ele estava com as mãos no corpo da minha Rafaella. Meu sangue ferveu, mas fiquei imóvel, encostado na pilastra como uma estátua, fingindo indiferença. Por dentro, eu queimava. Cada risada que ela dava. Cada vez que os olhos dela brilhavam pra ele. Cada maldito segundo que aquele russo a girava com os braços. Eu quis atravessar o salão, arrastá-la dali, gritar que ela era minha. Mas... ela não era. Ainda não. Porque eu não tinha tido coragem. Porque todos esses meses, eu me escondi atrás de códigos, deveres, da lealdade ao Erich, como se o que eu sentia pudesse ser sufocado só com disciplina. Mas ali, vendo ela sorrir pra outro, eu entendi. Eu a amava. Loucamente. Perigosamente. E isso me assustava mais do que qualquer inimigo. Porque na máfia, amor é fraqueza. Amor é brecha. Amor é arma nas mãos erradas. E eu tinha muitas cicatrizes para saber que, cedo ou tarde, alguém tentaria usá-la contra mim. E mesmo assim… eu a queria. Toda. Sem máscaras. Sem freios. Quando a vi sair pro jardim, fui atrás. O resto foi inevitável. O beijo... o toque... aquele momento roubado sob a noite italiana. Nunca algo me pareceu tão certo e tão condenado ao mesmo tempo. Mas, como sempre, a realidade veio me lembrar de quem eu sou. Antonella Ricci. O nome ecoou como um soco seco no peito assim que a vi cruzar o salão, minutos depois. Alta, elegante, loira como porcelana e com o veneno nos olhos de quem sabe que ainda pode destruir um homem com um sorriso. — Salvattore. — A voz dela era mel e veneno. — Me disseram que você estava aqui. A festa está linda. Embora… não tenha me mandado um convite. — Você não foi convidada — respondi seco. — Mesmo assim, vim. A saudade de você é teimosa, caro. E eu precisava te ver… antes de voltar para Roma. Não precisei olhar para sentir o impacto. Rafaella. Ela estava parada a poucos metros. Os olhos arregalados. A expressão partida entre incredulidade e dor. Antonella se virou devagar, encarando-a com um meio sorriso. — Ah… e essa é? — Rafaella. — A voz dela saiu arrastada, saboreando cada sílaba. — Agora entendi por que não atende minhas ligações. — Antonella — tentei intervir. — Vai embora. — Claro. Só vim ver com meus próprios olhos. — Ela tocou meu peito de leve, sabendo o que estava fazendo. — Até logo, dolce amore. Quando me virei, Rafaella já havia desaparecido. Corri pelos corredores, pelo jardim, pelos fundos da casa. Mas ela não estava em lugar algum. E quando finalmente entrei em casa, encontrei a porta do quarto dela trancada. — Rafaella, abre. — Encostei a testa na madeira. — Por favor. Nenhuma resposta. Bati outra vez. — Não era o que você pensa. Antonella faz parte do passado. De um tempo que eu odeio lembrar. Ela não significa nada pra mim. Silêncio. E então, a voz dela, firme e baixa: — O problema não é ela. O problema é você. Você disse que me queria. Que se segurou pra me merecer. Mas ainda está com metade do coração preso ao seu passado, Salvattore. E eu... eu me recuso a ser mais uma mulher na sua lista. — Você é diferente. — Minha voz saiu rouca, quase um sussurro. — Não pareço ser. E isso... me mata. O som do trinco girando não veio. Apenas passos se afastando do outro lado. E eu fiquei ali. Sozinho. Com o gosto do beijo dela ainda na boca... e a maldita sensação de que talvez o destino estivesse certo. O amor é uma fraqueza. E eu estava quebrando por dentro.