Cap 4

Capítulo 04

Hoje

Acordo em meu quarto, lembrando de tudo que aconteceu

nos últimos dias, e sinto um enjoo por lembrar que Lucas ainda

não acordou. Vejo que são 8h. Vou ao banheiro, lavo o rosto,

escovo os dentes, passo creme no rosto e ignoro as profundas

olheiras. Prendo o cabelo com uma piranha.

Chego à cozinha, e Ester me assusta.

― Bom dia, Iara! Quer ovos?

― Bom dia. Não, só quero uma xícara de café, vou ao

hospital.

― Seu pai saiu cedinho com a sua mãe. Ela ia passar lá

antes da clínica, disseram que você deveria ficar deitada.

― Eu tô bem...

Engulo o café e vou antes que a Nayara acorde. Vou de

Uber, para evitar falatório.

Quando chego à recepção do hospital, sou informada de

que terei que ir até o terceiro andar. Vou caminhando pelas

rampas, mas o cheiro piora a cada passo, me embrulhando o

estômago. Quando chego ao andar, preciso ir direto ao banheiro e

vomitar todo o café. O estresse está me causando uma gastrite.

Quando saio do banheiro, dou de cara com a dona Olívia.

Seu cabelo está oleoso, preso em um rabo de cavalo, e ela está

com olheiras piores do que as minhas. Eu ao menos estou

dormindo, mas ela, com o único filho aqui, provavelmente está

vivendo de café e água.

― Minha querida, deveria estar descansando... ― Me

abraça e me dá um beijo.

― Dona Olívia, vim para ver se consigo acordá-lo. Vai

tomar um banho e descansar com o seu Artur. Ligo se tiver

alguma alteração.

― Artur precisou ir até o escritório. O mundo não para,

né?

― Entendo, mas pode ir. Eu fico aqui ― falo, pois é

visível que ela precisa sair daqui.

― Tudo bem. Eu vou tomar um banho e passar na igreja,

mas o celular vai ficar ligado.

― Claro, dou notícias se houver qualquer alteração.

Ela se vai e entro no quarto de UTI onde Lucas está. Ao

vê-lo daquele jeito, sinto um nó na garganta. Lucas está ligado a

vários fios, inclusive saindo de sua cabeça, além de acesso na veia

dos braços e um oxímetro em seu dedo. Os monitores indicam os

sinais vitais, que, aparentemente, estão normais. Sento-me na

cadeira ao lado dele e dou um leve suspiro, procurando o cheiro

característico dele, mas só sinto cheiro de hospital. Então lembro

que conversar com pessoas em coma pode ajudá-las a dar forças

para se recuperarem.

― Oi, Luli. Sabia que não fui pra clínica hoje? Milagre,

né!? E o dia está lindo, não tem uma nuvem no céu, perfeito para

deitar-se na grama. Ontem à noite o céu estava bem estrelado.

Queria ter estado no campo para ver os cometas, aí poderíamos

fazer vários pedidos.

No meio do meu monólogo, a médica entra.

― Oi, Iara, como tem passado?

― Oi, Dra. Bem, obrigada. E ele, quando vai acordar? Vi

na internet que o inchaço pode diminuir em dois dias.

Ela dá um suspiro

― Sim, mas varia de caso a caso. Pode levar semanas. A

pancada que ele levou foi na fronte, esses casos são mais

delicados, mas ele está diminuindo bastante. Hoje mesmo, ao

fazer os exames, vimos que o inchaço reduziu bem. Os sinais dele

estão bons. Ele está reagindo bem.

Ela dá um sorriso consolador, vê os monitores, mexe no

soro e fico apenas observando, tentando identificar se ela diz a

verdade. Peço licença para enviar uma mensagem para dona

Olívia, enquanto ela está ali examinando o Lucas.

Ao olhar a minha caixa de entrada, vejo que há mensagens

da minha mãe, irmã, e no grupo com a Bia e a Isa:

Como você está? Fomos te ver e tinha saído, avisa

quando voltar, queremos te ver!

Penso na resposta. Como dizer que não quero ficar em

casa? Meu lar está aqui, deitado nessa cama, ligado a vários fios.

Vim ver o Lucas, talvez a noite esteja lá!

Assim que clico em enviar, Bia começa a digitar.

Entendo, amiga. Se não tiver problemas, estaremos lá!

Vejo que a médica saiu e mando um emoji de beijos.

O embrulho no estômago volta, assim como as lágrimas.

Sinto um bolo na garganta, volto para o corredor e pergunto onde

fica o banheiro à primeira enfermeira que vejo. Vomito apenas

bile, lavo o rosto e depois volto para o quarto.

― Lucas, é bom você reagir de uma vez ― começo a

falar, chorando.

Acho melhor falar tudo de uma vez. Do jeito que estou, é

bem capaz de ficar na cama amanhã, principalmente se não parar

de vomitar. Então continuo meu desabafo:

― Isso está acabando comigo. Eu e você somos um, não

dá para eu ficar sozinha. Não estou comendo, e estou vomitando

até o ar que respiro... Se você se importa comigo e com a sua

mãe, reaja, por nós! ― falo, e soluço, com a vista embaçada

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