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Olho meu quarto e não é mais o mesmo. Onde antes
ficava Lúcia, hoje tem o Bruce, um Lhasa branco e preto de 3 anos que ganhei do Lucas, numa tentativa de me confortar pela morte da Lúcia, que morreu aos 13 anos. Minha cama agora é de casal, com cortinas corta-sol, tapetes cinza e guarda-roupa grande, que ocupa uma parede inteira. No lugar da escrivaninha, há uma poltrona e uma TV na parede acima das prateleiras. Bruce levanta a cabeça, se anima com a minha presença e, abanando o rabo, vem fazer a festa que sempre faz, e isso me faz chorar. ― Papai ainda está dormindo, bebê, mas logo vem te ver ― digo, na tentativa de me confortar.― Olha o leite, Iara. Trouxe também um sanduíche
maravilhoso que a Ester fez... ― Minha irmã chega no quarto. ― Obrigada ― respondo. ― Coloca na mesa de cabeceira, por favor... A mãe e o pai chegaram? Duvido que eu vou comer, mas, para agradá-la, eu ia tentar. ― Eles foram ver como o Lucas está. ― Que bom, vou comer e vou lá também. ― A mãe disse que não precisa, é pra você descansar, não me cause problemas. Percebi que não adiantava tentar lutar. Consegui comer o lanche e deitei com o Bruce, que se aninhou na minha barriga. Olhei para a foto na mesa de cabeceira: nós três no parque. Lucas tinha um dom para selfies que eu não entendia. Na foto, o Bruce está me lambendo e o Lucas está me abraçando com o braço esquerdo, com a cabeça encostada na minha. Tiramos no feriado passado. Quando acordo, vejo que meus pais chegaram. Levanto-me e vou atrás deles. Meu pai está sentado na sua poltrona com um copo de uísque. Observo as olheiras que surgiram e percebo que ele andou trabalhando. Não sei se é impressão, mas ele parece ter mais cabelos brancos do que antes. Quando eles me veem, me dão um sorriso confortador.― Olá, menina, conseguiu descansar? Comeu alguma
coisa? Meu pai sempre me chama de menina, principalmente quando eu não estou bem. ― Sim, a Nay cuidou de mim. O que disseram sobre o Lucas? Minha mãe dá suspiro e se senta ao meu lado no sofá cinza, comprado na última reforma do apartamento, quando trocamos todos os móveis. Ela pega na minha mão e dá dois tapinhas. ― Ele vai ficar bem, mas ainda está em coma. O cérebro está inchado, e precisa desinchar, o que está acontecendo devagar. ― Mas ele vai ter sequelas? Ele vai se lembrar de mim? ― Tudo depende do tempo, pequena ― responde meu pai, com o mesmo olhar que ele dá para os pacientes quando não tem mais o que dizer. Levanto-me e vou para meu quarto. Eu queria ficar sozinha, e sabia que eles não podiam mais fazer nada.Depois que fizemos um ano de namoro, nossas famílias se
conheceram. O pai dele chama-se Artur Lima e a mãe Olivia Vasconcelos. Ambos são donos de uma construtora civil. Ele é moreno alto, de olhos claros, e ela tem olhos e cabelos castanhos. Ambos são muito simpáticos e atenciosos. Lucas é filho único,pois dona Olívia teve complicações no parto e não pôde mais ter
filhos. Para compensar, eles ajudam várias instituições que atendem crianças órfãs. Na minha festa de 16 anos, os pais do Lucas foram convidados, e minha mãe acabou se tornando amiga da mãe do Lucas. Foi uma festa grande, pois minha mãe sempre dizia que todo aniversário deveria ser comemorado em grande estilo, já que a vida é muito valiosa para não festejar. No sábado seguinte à festa, às 18h, fomos ao nosso lugar preferido, o Café no Bosque. Lá, ele me deu de presente nossa aliança de compromisso, e jurou seu amor por toda a vida. Naquele mesmo ano, perto do fim de ano, faríamos nossa primeira viagem em família. ― A minha mãe tem planos de convidar a sua família para a festa de Ano-Novo na nossa chácara. Meu pai sempre manda matar um leitão e minha mãe faz uma seleção de todas as frutas que existem na natureza. O que acha? ― disse Lucas. ― Acho que não vou comer carne este ano... Estávamos na sala da minha casa, comendo pipoca e vendo vikings. Ele deu risada e encheu a boca de pipoca. Depois que Lucas foi embora, estávamos jantando quando minha mãe contou sobre o convite que recebemos. ― Nós vamos, né? ― falou a Nayara, toda empolgada.― Eu disse que seu pai tem que ver a escala dele no
pronto-socorro, mas acredito que dá para irmos para passar a noite, né, Felipe? ― Claro, Nita. Se eu estiver escalado, posso ver se troco. Fiquei muito empolgada. Ano passado nossos pais não nos deixaram passar juntos, alegando que ainda era muito prematuro. Agora, quando minha família marcava um jantar, ou mesmo uma pizza básica, sempre perguntavam se o Lucas iria, além da família dele também. Até mesmo em um evento que teria no hospital, onde toda família iria, meu pai fez questão de pedir para Lucas nos acompanhar. A partir de então, passamos a estar sempre na casa do outro, mas nada de dormir juntos... Na noite de Ano-Novo, ele me chamou para caminhar, dizendo que queria me mostrar o lago à noite. Quando chegamos, vi o motivo. Era realmente lindo. A lua cheia iluminava tudo, refletindo na superfície do lado e deixando tudo mais claro. Nos sentamos no gramado, ele me abraçou e me beijou. Seus lábios estavam quentes, o coração disparado. Nos deitamos na grama e o calor entre nós foi aumentando... Foi uma noite mágica para fechar um ano e começar outro, onde nos unimos em um só.






