Quando o Destino Nos Separou
Quando o Destino Nos Separou
Por: Carol Da Costa
Te Espero

Capítulo 01

Tudo dói, até os músculos dos olhos. Olho à frente e vejo

minha mãe, meu pai, minha irmã com o namorado, dois policiais

e o advogado da família. Tenho que relatar o acidente. Em algum

momento tenho que falar, não posso mais postergar.

Levanto-me e peço água à minha mãe. É tão raro vê-la

sem maquiagem, com cabelo desalinhado e repetindo a mesma

roupa, ainda mais por dois dias.

Já faz dois dias que estou aqui?

― O.k.! Querem que eu fale o quê, exatamente?

O advogado, com seu terno caríssimo, se aproxima e puxa

uma cadeira próximo a minha cama.

― Iara, se você quiser descansar, pode deixar para

amanhã...

Faço que não com a cabeça

― Vamos acabar com isso! ― falo, com os olhos

tremendo. ― Lucas me mandou mensagem dizendo que estava

indo me buscar, que era para eu esperá-lo pronta no hall do

prédio. Ele tinha terminado um projeto e queria comemorar. Me

arrumei e desci. Fomos ao shopping para assistir a um filme,

depois fomos jantar...

“Quando estávamos indo embora, antes de sair do

estacionamento (queria deixar tudo claro), ligamos o som e

colocamos nossa banda preferida dos anos 80 para tocar.

Estávamos muito felizes, pois íamos marcar a data do nosso

casamento. Começamos a cantar ‘Forever’. Saindo para a rua, só

lembro do caminhão e do braço do Lucas no meu rosto. O que um

caminhão estava fazendo ali? A rua era mão única!”.

Quando término meu relato, minha mãe e meu pai estão

chorando. Eles não sabiam dos nossos planos. Gostavam do Lucas

e esperavam por esse momento. Os pais dele também, mas antes

ele queria terminar o primeiro projeto sozinho. Eu ainda não tinha

meu consultório, mas atuava na mesma clínica que meu tio. Era

veterinária, e ele arquiteto.

― Só precisamos do seu relato para ter provas e condenar

o motorista. Ele estava drogado.

Fico ali, apenas absorvendo minhas lembranças, enquanto

meu pai, que parece ter envelhecido cinquenta anos, acompanha

os policiais e o advogado. Minha mãe se aproxima e passa a mão

no meu cabelo; parece que faz dias que eu não lavo.

― A médica disse que amanhã poderá te dar alta. Mandei

limpar seu quarto. Seu tio disse que pode tirar umas férias. Está

tudo certo na clínica e na ONG, ele e o Tomás estão com tudo sob

controle.

Meu tio havia montado uma ONG junto com o namorado.

Fiz faculdade de veterinária por causa disso, queria cuidar dos

animais abandonados, e na minha cidade tem muitos. No começo,

meu pai me atormentava, dizendo que eu tinha que me preocupar

com gente, mas minha mãe o convenceu de que temos que

trabalhar com amor.

Me formei há um ano, mas trabalho com eles desde o

ensino médio.

― Não quero férias, só quero que isso tudo acabe!

― A Bia e a Iza vieram mais cedo, mas como você estava

dormindo, foram embora. Amanhã elas vêm te visitar.

Balanço a cabeça. Não quero visitas, só quero dormir e

voltar nove anos, reviver tudo e mudar os últimos três dias.

― O Lucas não está me olhando!

Não fazia sentido, mas a Bia não parava de dizer isso. Eu

era vista como a metida, e ele era o mais mulherengo. Até fazia

sentido, já que todos comentavam que eu tinha tirado 10 na prova

de química. O professor José disse para todos que deveriam

seguir meu exemplo e estudar. Agora, era mais admirada na

escola.

― Ele deve estar pensando em pedir emprestada a minha

prova para estudar para a recuperação... ― respondi, rindo da

cara da Isa, quando ele se aproximou com um amigo.

Lucas era alto e tinha cabelos pretos na altura da orelha.

A camiseta do uniforme era meio justa, mostrando que ele era

atleta; jogava futebol no time da escola, e por isso não estudava

tanto.

― E aí, tudo bem? ― ele perguntou.

― Sim. Foram bem na prova? ― respondeu Bia, que

tinha tirado 9,5 e a Isa 9,0. Eram as melhores notas da sala, e o

professor deixou isso claro.

― Não. E queremos fazer uma proposta pra vocês. Será

que conseguem nos ajudar na recuperação? Senão, vamos

reprovar, e perdemos muito tempo nos treinos do intercolegial.

Foi assim que tudo começou, nas aulas na biblioteca, duas

vezes na semana. Fiquei sabendo que os pais dele eram donos da

mais conceituada construtora da cidade. Lucas já era apaixonado

por arquitetura desde pequeno. Nos tornamos amigos, e em cinco

meses ficamos pela primeira vez.

Acordo com a enfermeira entrando no quarto. Ela mede

minha temperatura, afere minha pressão e pergunta como me

sinto. Respondo com um sorriso.

Chega a ser irônico as pessoas perguntarem como você se

sente quando você se encontra em um quarto de hospital...

Ouço uma batida na porta e vejo minha mãe com a Dra.

Cristina, que é muito amiga dela, desde os tempos de escola. Ela é

alta, tem cabelos pretos presos em um rabo de cavalo curto, seus

olhos escuros estão atrás dos óculos discretos, e seu corpo é estilo

mignon. Ela veste jeans, uma camiseta azul-claro, um jaleco por

cima e o estetoscópio no pescoço.

― Olá, Iara, como se sente hoje? ― pergunta, com seu

sorriso amável.

― Como acha que me sinto? ― Não queria ter sido

irônica, mas cansa toda hora ouvir essa pergunta, sabendo que

quem a faz já sabe a resposta.

Minha mãe só suspira. Eu vejo o medo que ela tem que eu

entre em depressão. Ela viu a minha avó morrer assim há alguns

anos.

― Tenho boas notícias, você pode ir para casa. Vai ficar

de repouso. Seu trauma foi apenas psicológico, por isso peço que

procure um psicólogo. Vou deixar uma guia e recomendar uma

amiga querida, Dra. Adriana. Você vai gostar dela.

― Ela vai, sim, Cris, pode deixar! ― afirma minha mãe,

aliviada e esperançosa.

― O.k. ― É tudo o que eu consigo dizer.

Juntamos as coisas e vamos para casa. Quando entro no

carro, sinto meu coração disparar. Respiro fundo, pois não quero

dar espaço para uma síndrome do pânico também.

Quando percebo que entramos no nosso bairro, sinto um

aperto no peito e os olhos se enchem de lágrimas. Não será nada

fácil retomar a vida como era antes do acidente, olhar as ruas por

onde tanto andamos... Aquele caminhão acabou com tudo. Como

voltaria a rir com minhas amigas? A estudar e trabalhar? Parece

que faz uma eternidade que saí para encontrar com Lucas, mas foi

há apenas três dias. Ele ficou na UTI, enquanto levei três pontos

na testa e quebrei o pulso...

Como gostaria de voltar e pedir para ficarmos em casa

assistindo a algum streaming. Talvez isso tivesse evitado o

acidente.

― Oh, Iara, não chore, ele vai ficar bem...

Minha irmã, Nayara, entrou no quarto e eu nem percebi.

Ela vem até mim, que estou na janela, e me abraça. Ela é três anos

mais nova que eu, mas somos parecidas em tudo. Ambas de

estatura mediana, magras, cabelos castanhos-claros, olhos

castanhos, como minha mãe. Nayara usa o cabelo curto na altura

das orelhas, repicado, e muda a cor constantemente; hoje está

preto com lilás. Eu já sou mais clássica e deixo o meu longo.

― Eu sei, mas não é muito fácil esperar.

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