Auriel Pov
“O que foi, Auriel? Você parece que viu um fantasma,” Thorne declara preocupado, sua testa franzida em minha direção.
“Eu… eu…” As palavras ficam presas em minha garganta.
Thorne se levanta e fica de pé ao meu lado. Ele coloca as mãos em meu rosto e seu toque me causa um arrepio por todo o corpo. Seu rosto está muito próximo do meu, sua respiração está quase se misturando com a minha. O que ele está fazendo tão próximo assim de mim?
“Você está bem? Está se sentindo mal? Quer que eu te leve para casa?” Thorne indaga com preocupação na voz.
Eu nego com a cabeça, sem conseguir organizar os meus pensamentos. Thorne acaricia as minhas bochechas com os polegares e a sensação é confortável, mas estranha.
“Cara, você que está agindo estranho. Senta aí,” Darius diz com estranheza na voz.
Isso faz com que Thorne solte o meu rosto e ele balança a cabeça, como se tentasse sair de um transe. Eu limpo minha garganta e me sento ao lado de Darius e Thorne volta para o seu lugar, de frente para nós.
“Deve ser o nervosismo para amanhã…” Thorne comenta pensativa, seus olhos castanhos ficam focados em mim.
Tento desviar o olhar, mas me sinto compelida a encará-lo de volta. Thorne tomou a poção do amor e eu não faço ideia de quais serão as reações dele a partir de agora.
“É normal, cara. Por isso que estamos aqui hoje, para curtir. Amanhã, você vai voltar a ser o príncipe herdeiro prometido a se casar com a Amara Evernight,” Darius comenta.
“Você virá, Auriel?” Thorne pergunta de repente, me fazendo engasgar com a cerveja que comecei a tomar.
“O quê? Para onde?” Eu pergunto, assustada.
“Para o baile.” Thorne comenta com humor na voz. Ele sorri de forma gentil e é a primeira vez que eu o vejo fazer isso, é estranho.
Eu olho para Darius que está com a testa franzida e o olhar frio na direção de Thorne.
“Não, eu não fui… bem, eu não fui convidada,” respondo constrangida.
“Darius não te chamo para ir?” Thorne indaga surpresa.
“Auriel precisa trabalhar amanhã, não é?” Darius responde de forma rápida. “Ela também nem curte muito isso, afinal ela é uma plebeia.”
As palavras de Darius me atingem como adagas envenenadas e me sinto deslocada agora no bar. Noto o olhar de frieza em Darius, o que é o oposto quando meus olhos se cruzam com os de Thorne.
“Minha mãe era plebeia também. Antes de virar duquesa e agora rainha,” Thorne responde com a voz cheia de gentileza. “E quem é que não gosta de comida grátis, não é?” Ele instiga com humor e isso me faz soltar uma risada. “Venha para o baile amanhã, está bem? Com minha convidada.”
“Auriel provavelmente nem deve ter um vestido apropriado para o baile, Thorne,” Darius declara com a voz firme.
“Não, eu tenho sim, tenho o vestido perfeito para o baile!” respondo animada. “Eu adoraria ir ao baile, príncipe Thorne.”
Thorne abre um sorriso meigo que me contagia a fazer o mesmo.
“Guarde uma dança para mim, então…” Thorne declara com uma voz sedutora que me deixa com o coração derretido por alguns instantes.
“Isso se a Amara, sua noiva, permitir,” Darius comenta com acidez na voz.
Thorne pisca surpreso com a menção do nome de Amara, ele se inclina para trás no banco e concorda com um aceno de cabeça.
“Tenho certeza de que minha futura noiva não vai se importar com muitas coisas sendo feitas no baile,” Thorne responde com melancolia na voz.
“Você está ansioso para se casar?” pergunto curiosa.
Thorne dá de ombros e toma o restante da cerveja que há na caneca. Isso faz o meu coração saltar do peito, a poção do amor foi ingerida completamente e outra vez eu vejo um brilho avermelhado surgir na íris de Thorne e sumir rapidamente. Thorne pousa seus olhos em mim, mas por alguns segundos eu não sinto que ele está de fato olhando para mim. Seu olhar carrega um vazio, como se ele estivesse encarando um véu invisível.
“Ele está bem?” Eu balbucio preocupada.
Darius toma um gole da própria cerveja antes de me responder.
“Sim, é só um tique nervoso que ele tem, daqui a pouco passa. Relaxa,” Darius responde de forma desdenhosa.
Thorne pisca e tudo volta ao normal, como se ele tivesse acabado de acordar.
“Estou ansioso para o baile de amanhã, será algo inovador.” Thorne declara de repente, com um sorriso animado nos lábios.
***
“Não acredito que você vai ir ao baile de noivado do príncipe Thorne!” minha colega declara animada do outro lado da linha de telefone. “Darius finalmente tomou alguma atitude, logo mais ele deve te pedir em namoro.”
Estou me olhando no espelho do meu quarto, o vestido de baile que eu tenho pertencia à minha mãe, é modesto e elegante.
“Bem, na realidade, não foi Darius quem me convidou,” respondo acanhadamente. “Foi Thorne.”
Não contei para minha colega de trabalho que fiz a poção de amor e que, acidentalmente, foi o príncipe que tomou. Durante toda a noite, Thorne foi gentil comigo, atencioso e até mesmo um pouco romântico. Isso deixou Darius desconfortável e isso infla meu ego. Se Darius estava com ciúme, então significava que ele gostava de mim.
“Por que o príncipe que te chamou? Que esquisito!” Minha colega responde do outro lado da chamada.
“Não é esquisito” rebato. “Ele foi cordial! Enfim, preciso ir. Darius vem me buscar, tchau.”
Assim que entrou no carro de Darius, não fui recebida com o habitual beijo ou o sorriso despreocupado que sempre ilumina seu rosto quando estamos juntos. Ele mantém o olhar fixo na estrada, as mãos apertadas no volante como se fossem as únicas coisas o ancorando ao momento. O silêncio inicial é quase ensurdecedor, cheio de uma tensão que não consigo nomear. Darius não está nem um pouco animado em me ver, e isso me deixa desconcertada.
“Você devia ter dito não, Auriel,” ele declara, sua voz firme, mas com uma nota de frustração que corta o silêncio como uma lâmina.
Minhas sobrancelhas se erguem, surpresas com suas palavras, e sinto um nó de confusão se formar no meu peito. Tento ajeitar o vestido em meu colo, mas o gesto é mais uma tentativa inútil de ocupar minhas mãos nervosas. Um desânimo começa a se espalhar pelo meu corpo, como uma nuvem escura cobrindo o pouco entusiasmo que ainda restava.
“Mas por quê? Eu quero ir ao baile,” digo, minha voz carregada de incerteza. “Não se fala de outra coisa que não seja isso.”
Darius desvia o olhar da estrada por um breve instante, mas não para me confortar. Sua expressão endurecida deixa claro que não está convencido pelas minhas palavras. Ele solta um suspiro curto, quase exasperado.
“Porque não é o seu lugar,” Darius responde enquanto dirige. “É um bando de almofadinhas fazendo alianças políticas para ganharem mais poderes. É cobra engolindo cobra lá,” Suas palavras pesam no ar, e eu quase consigo sentir a mágoa e o desprezo que ele tem por tudo aquilo.
Ele se vira para me encarar por um instante, e vejo que sua expressão se suaviza. Por trás da rigidez, há algo mais profundo — preocupação, talvez?
“Você é pura demais para se misturar com eles, acredite,” ele completa, e suas palavras são ditas com uma honestidade tão desarmante que quase me fazem esquecer sua severidade inicial.
“Mas eu tenho você, Darius,” declaro, tentando preencher o espaço entre nós com alguma leveza. “Eu quero ficar ao seu lado, dançar contigo. Sabe, nos divertimos essa noite.”
Por um instante, minha tentativa parece funcionar. Ele solta uma das mãos do volante e segura a minha, apertando-a com cuidado. Sua palma é quente, e o gesto carrega um carinho que me faz sentir como se o mundo pudesse ser um lugar menos complicado. Meu coração derrete com esse toque, e um sorriso suave escapa dos meus lábios, uma centelha de felicidade que me aquece por dentro.
“Prometo que vamos nos divertir,” ele diz, e sua voz está mais gentil agora. Mas, antes que eu possa me deixar levar por essa calmaria momentânea, ele acrescenta: “Apenas não gosto da forma que você age perto do príncipe. Thorne é meu melhor amigo, mas tome cuidado com ele… a família Frost é difícil.” Darius me alerta.
Seus olhos, normalmente tão vivos, agora estão obscurecidos por algo que não consigo entender completamente. Minhas sobrancelhas se franzem em curiosidade.
“Por quê? É difícil trabalhar para eles?”
Darius solta um longo suspiro e volta ambas as mãos ao volante. Seus olhos ficam sombrios e percebo o seu corpo ficar tenso.
“Sim, quando se sabe das coisas que eu sei sobre eles. Mas não vamos falar mais sobre isso, apenas não fique perto do príncipe Thorne.”
“Nem se eu quisesse, iria conseguir,” digo, tentando manter minha voz animada para afastar a tensão. “Esse baile é o noivado dele com a duquesa Amara, todos vão querer estar perto deles.”
Minha mente tenta focar no lado positivo da noite, mas a preocupação de Darius continua pairando como uma sombra.
“Apenas quero comer e dançar no baile,” acrescento, mais para mim mesma do que para ele.
Decido mentalmente que farei de tudo para ficar longe da vista de Thorne. Não sei se a poção que despejei em sua bebida funcionou corretamente, mas, sinceramente, torço para que não. Não posso, de jeito nenhum, ter um príncipe herdeiro comprometido, apaixonado por mim. É um desastre esperando para acontecer.