Auriel Pov
Toda a frente do castelo está imersa em um esplendor quase irreal, uma verdadeira obra de arte criada para o baile de noivado. Do lado de fora, a música suave de uma orquestra flutua no ar, criando uma atmosfera que é, ao mesmo tempo, grandiosa e mágica.
Fico paralisada, sem saber para onde olhar primeiro, completamente perdida diante de tamanha elegância. Cada detalhe parece cuidadosamente planejado para impressionar. Há lycans de diferentes matilhas, enchatrix com suas vestes cintilantes e humanos nobres trajando seus melhores adornos, tudo misturado em um espetáculo de cores e estilos. É um cenário que até pouco tempo eu só imaginava existir em Halerion, o reino mais cosmopolita que conheço. Aqui, em Veridiana, a diversidade é uma visão surpreendente e ainda um tanto incomum.
O reino de Veridiana não é exatamente conhecido por ser um centro de convivência entre espécies, especialmente considerando os anos em que os enchatrix foram relegados às periferias sombrias de Grimroot Forest. Isso por decreto do rei Caelum, que ironicamente é um híbrido, fruto de duas espécies, e que, em seu primeiro casamento, uniu-se a Seraphina, uma poderosa enchatrix. Eu era pequena quando tudo isso aconteceu, e nem sequer morava aqui naquela época. Mas é bom ver como as coisas mudam com o tempo, como as barreiras parecem estar se dissolvendo lentamente.
“Pelo jeito, a campanha de união da rainha Aria tem funcionado, não é?” comento, minha voz carregada de admiração enquanto meus olhos continuam absorvendo cada detalhe do ambiente. O número de convidados de diferentes espécies é impressionante, quase surreal.
Darius por sua vez, não responde, ele está concentrado em achar uma vaga para estacionar o carro. Finalmente, ele estaciona o carro no fundo do estacionamento, longe das entradas principais e de qualquer possível tumulto. Darius não demora a vir até mim. Ele segura minha cintura com firmeza, seu toque ao mesmo tempo, protetor e possessivo.
“Lembre-se, fique longe do…” começa ele, mas antes que possa terminar, eu o interrompo, revirando os olhos.
“Príncipe Thorne, eu sei, você já me disse isso,” completo com impaciência. “Ele nem sequer vai saber que eu estou aqui. Para que tanta preocupação com isso?”
Ele não responde imediatamente. Em vez disso, cruza meu braço no dele e começa a me conduzir pelo gramado em direção à entrada do salão de baile. Seus passos são firmes, deliberados, e ele ajusta a postura de uma maneira que o faz parecer um membro da nobreza. O nariz levemente empinado, as costas eretas, cada movimento seu exala confiança. Tento imitá-lo, mas meus saltos altos são um desafio maior do que imaginei, e a grama fofa só piora a situação. Quase tropeço, mas antes que possa cair, Darius me segura com firmeza, mantendo-me de pé ao seu lado. Seu toque não é repreensivo, mas é firme, como se quisesse me lembrar de que ele está no controle.
Assim que entramos no salão, sou invadida com uma nova onda de decoração e atmosfera alegre. Somos recepcionados por uma enchatrix que nos conduz até uma mesa marcada com nossos nomes. A mesa está decorada com um arranjo de flores enfeitiçado, que flutuam e mudam de cor.
“Uau, nem mesmo lá na loja a gente conseguiria replicar esse feitiço,” comento admirada.
“Fique aqui, preciso resolver algumas coisas…” Darius declara de repente, se levantando da cadeira.
“Mas…” começo a dizer, mas ele já está indo embora. Seus passos são rápidos, determinados, e antes que eu possa protestar, ele desaparece por um dos corredores laterais, deixando-me sozinha em meio ao brilho e ao barulho do salão.
Observo ele cruzar todo o salão com passos rápidos, até ele entrar em um corredor e sumir da minha vista. Fico sentada sem saber exatamente o que fazer, olho ao redor a procura de algum rosto familiar.
Não conheço ninguém aqui e isso me deixa desconsertada. Foco minha atenção no arranjo de flores a minha frente e tento imaginar qual feitiço foi necessário para fazer tudo isso. Resolve tocar no arranjo por puro tédio, assim que meus dedos tocam na fita que segura as flores, o arranjo se desmonta todo e cai na mesa com um baque. Tomo um susto e noto nas mesas vizinhas as pessoas olhando para mim, também surpresas com o que aconteceu.
“Droga, droga, droga…” eu resmungo.
Tento juntar o arranjo de volta no lugar, mas minha mente apaga qualquer feitiço que eu conheço de flutuação. Até que uma voz feminina surge atrás de mim. Ela recita um feitiço e o arranjo se junta e volta a flutuar novamente.
Me viro para agradecer e percebo que é a Amara, a noiva de Thorne. Há um sorriso divertido em seus lábios e uma taça de champagne em suas mãos. Ela se aproxima de mim e eu rapidamente me levanto, quase trombando com ela.
“Desculpa, eu sou um desastre ambulante, perdão, duquesa!” eu atropelo minhas palavras e Amara apenas ri.
“Fique tranquila. Ontem à noite, eu derrubei vários desses enquanto ajeitávamos, são tentadores, não acha?” Amara comenta risonha.
“São lindos, duquesa. Tudo isso aqui é lindo, parabéns pelo noivado com o príncipe Thorne,” respondo com nervosismo.
Amara puxa a cadeira que deveria ser de Darius e ela se senta, eu imito seu gesto e me sento tão. Sinto minhas mãos nervosas e não sei onde enfiá-las. Amara bebe um pouco do champanhe e eu sinto a minha garganta seca.
“Você seria a Auriel, não é? Thorne voltou ontem para o castelo e não parou de falar sobre você… ele me deixou curiosa. Você está aqui com o Darius?” Amara indaga curiosa e eu afirmo com a cabeça. “Homens são esquisitos, não são? Darius não comentou nada sobre você e Thorne, ontem, não parava de falar sobre você.”
Arregalo meus olhos com a nova informação. Pelos deuses, será que a poção do amor funcionou com Thorne?
“Darius é reservado e bem… a senhorita conhece o príncipe Thorne melhor do que eu, imagino…” respondo com delicadeza. “E como a senhorita disse, homens são esquisitos.”
“Me chame apenas de Amara. Temos praticamente a mesma idade, não é?” Ela pede com humor na voz.
Concordo com a cabeça e me controlo para não contrariá-la. A realidade é que Amara tem vinte e oito anos e eu apenas vinte. Ela tem a mesma idade de Darius. Quem está próximo de mim em questão de idade é o príncipe Thorne, com vinte e cinco anos. Ou então o irmão mais novo dele, duque Alex Kingsley que tem a mesma idade que eu.
Antes que a conversa com a duquesa Amara continue, meus olhos são capturados por uma figura que se aproxima lentamente por trás dela. É Thorne. Ele está vindo diretamente em nossa direção, seu sorriso largo iluminando o ambiente ao seu redor, seus olhos fixos nos meus de uma maneira que faz meu estômago revirar. A elegância com que ele caminha contrasta com o caos que imediatamente se instala na minha mente.
Merda, merda, merda.
Meu coração dispara, como se estivesse prestes a fugir do meu peito. Tento pensar rápido, buscar uma saída para escapar daquela situação, mas as palavras saem gaguejadas e desordenadas.
“Duquesa, se você me der licença, eu preciso ir ao…” começo, mas minha voz trai minha tentativa de parecer natural.
Amara arqueia a sobrancelha, intrigada. Antes que eu consiga inventar uma desculpa decente, Thorne já alcança a mesa. Sua presença parece dominar o espaço, impossibilitando ignorá-lo.
“Estava procurando por você…” diz ele, e sua voz soa como um murmúrio sedutor em meio ao burburinho ao redor. Por um instante, fico confusa sobre a quem ele se refere — a mim ou a Amara? Meu coração parece tropeçar em si mesmo.
Amara ergue o rosto para ele, e Thorne pousa a mão no ombro dela com uma ternura que me deixa sem graça. O toque é breve, mas a intimidade entre eles é clara quando trocam sorrisos afetuosos. Amara, sempre impecável, afaga a mão dele com a delicadeza de quem já está acostumada a esse tipo de demonstração pública.
“Vim conhecer a famosa Auriel, a dona de uma loja de poções e feitiços,” declara Amara para Thorne, com um sorriso que mistura curiosidade e aprovação.
“Ela é interessante, não é? Muito inteligente e uau… você está linda, Auriel,” diz Thorne, com uma sinceridade que quase me desmonta. O elogio é inesperado e direto, como uma flecha disparada sem aviso. “Não está, Amara?”
O sorriso de Amara se amplia, e ela assente com a cabeça. Sinto minhas bochechas queimarem, um calor que sobe rapidamente e faz meu rosto corar. Não sei onde enfiar as mãos, então apenas sorrio, nervosa, enquanto tento processar o que está acontecendo.
“Não chego aos seus pés, duquesa. Você está perfeita!” respondo com uma sinceridade apressada, tentando desviar o foco de mim mesma.
Amara, com seus cabelos negros volumosos que parecem fluir como um rio de seda e seus olhos alaranjados, brilhantes como o pôr do sol mais quente do verão, é realmente a visão de perfeição. Ela sorri modestamente, mas há algo em seu olhar que parece estudar cada uma das minhas palavras.
Thorne se inclina ligeiramente em minha direção, estendendo a mão. Seus dedos longos e firmes pairam no ar como um convite irresistível.
“Você prometeu guardar uma dança para mim, lembra?” ele comenta baixinho.
A tensão no ambiente parece crescer, como se todas as partículas ao nosso redor tivessem parado para observar esse momento. Tento formular uma resposta, mas Amara intervém, sua voz carregada de preocupação.
“Thorne, a gente ainda não dançou a nossa primeira dança. As pessoas vão comentar, você sabe disso…” diz ela, a preocupação evidente no tom.
“As pessoas vão comentar de qualquer maneira, Amara,” responde Thorne, dando de ombros com uma leveza que contrasta com o peso da situação. “É uma simples dança, não é?”
Amara suspira e revira os olhos, como se estivesse resignada ao destino inevitável de estar ao lado de um príncipe tão teimoso. Ela se acomoda na cadeira, cruzando os braços de maneira elegante.
“Depois não venha reclamar para mim, príncipe…” Amara responde, contrariada.
“Acho que é melhor você dançar com ela, príncipe Thorne. A duquesa tem razão,” tento argumentar, minha voz tremendo levemente.
“Amara sempre tem razão, mas eu quero que a minha primeira dança seja com você…” insiste Thorne, suas palavras como um golpe inesperado que desmonta qualquer resistência que eu ainda tenha.
Antes que meu bom senso me impeça, sinto um ímpeto de coragem — ou loucura — e aceito o convite. Seguro na mão de Thorne, e, por um momento, o tempo parece desacelerar. O toque dele é quente, firme, como se carregasse um mundo de promessas não ditas.
Ele me conduz para o meio do salão, onde a pista de dança reluz sob a luz de lustres encantados. À medida que avançamos, percebo o silêncio que se instala no ambiente. Todos os olhares estão sobre nós, avaliando, julgando, sussurrando. Meu nervosismo cresce como uma onda prestes a quebrar.
“Não foque neles, foque em mim…” murmura Thorne, inclinando-se para sussurrar no meu ouvido. Sua voz é como um comando suave que me puxa de volta para ele. Seus dedos deslizam suavemente até o meu queixo, erguendo meu rosto para que nossos olhos se encontrem.
Aos poucos a orquestra começa a tocar uma música lenta e suave. Thorne passa uma mão pelas minhas costas e a outra segura a minha mão. Começamos a dançar uma valsa lenta e harmoniosa.
“Passei o dia inteiro pensando em você, sabia?” Thorne confessa com sussurro. “Quase passei na loja mais cedo para ir vê-la.”
Cada palavra dele parece encontrar um caminho direto até o meu coração, que agora b**e tão rápido que mal consigo respirar. Mas, ao mesmo tempo, minha mente grita o nome de Darius. Tento buscar por ele entre as pessoas que nos observam, mas não consigo encontrá-lo. É como se ele tivesse desaparecido do mundo.
“Majestade, eu… eu preciso contar uma coisa,” começo, mas minha voz falha.
Antes que eu consiga continuar, Thorne me puxa para mais perto, seus olhos presos aos meus, como se ele estivesse tentando decifrar meus pensamentos. Seu rosto se aproxima do meu, e o mundo ao nosso redor parece sumir.
“Majestade…” tento novamente, mas ele me interrompe, pressionando seus lábios contra os meus.
O beijo é doce, tímido e, ao mesmo tempo arrebatador. É como se o chão abaixo de mim tivesse desaparecido. Sinto-me completamente perdida, sabendo que aquilo não deveria estar acontecendo.
Droga, o príncipe Thorne está enfeitiçado por mim.