A Loba Desprezada

A Loba DesprezadaPT

Lobisomem
Última atualização: 2025-08-12
Deypi  Atualizado agora
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Índice

Lara foi encontrada recém nascida, na floresta. Estava nos braços de uma mulher morta, chorando desesperada. A equipe que ouviu o seu choro, perseguia um bando de lobos desgarrados que ousou invadir a Alcateia. O Alfa aceitou que criassem a filhotinha, que cresceu pulando de casa em casa como uma serviçal. Não recebeu amor e era menosprezada por não ter nada e ninguém por ela. Sua situação piorou quando chegou a época de sua transformação e nada aconteceu, foi considerada escrava da Alcateia, até que sua real identidade foi descoberta. Júlio não ligava muito para a criança que seu pai trouxe em uma das vezes que precisaram defender a Alcateia. Mesmo quando assumiu o lugar de seu pai, que foi morto, não ligou para cuidar daquela que chamavam de a sem família. Piorou quando ela se tornou jovem e ele a desprezou em seu coração. Seu lobo o advertiu sobre a importância dela, mas ele a maltratou. O que eles não sabiam era que, o risco de extinção os espreitava e a salvação estava nas mãos da Loba desprezada.

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Capítulo 1

Capítulo 1. Boa Loba

O dia de Lara começou muito cedo para dar tempo de fazer tudo e ainda sobrar para dedicar ao que gostava de fazer, realmente. Correu por entre as casas do condomínio, para chegar rapidamente ao herbário.

Infelizmente, ela não foi rápida o suficiente, pois ouviu a voz da senhora Corina lhe chamando. 

— Pronto! Meu tempo foi embora.— murmurou baixinho, diminuindo o passo.

Aproximou-se da governanta do Alfa, sorriu e cumprimentou-a:

— Bom dia, senhora Corina. Em que posso lhe servir? — perguntou Lara, sempre educada e simpática.

— Amanhã é a comemoração do aniversário do Alfa Júlio e receberemos muitos convidados, preciso de toda mão de obra disponível.

— Aqui estão, estas servem? — mostrou suas mãos.

Aprendeu a muito tempo, que era melhor sorrir do que chorar, obedecer do que apanhar e ser solícita do que reclamar, fazia as pessoas serem muito menos rudes e agressivas com ela.

— Então, venha, querida, tome o café da manhã e suba, preciso que lave os banheiros do segundo andar.

Fez uma cara de espanto, pois no segundo andar têm dez suítes, ou seja, dez banheiros, fora o do corredor.

— Todos? — perguntou, mostrando preocupação.

— Calma, não será só você, mais duas jovens irão ajudar. Vamos, quanto antes começar, mais rápido irá terminar.

Seguiu ela atrás de Corina até a cozinha, tomou uma xícara de café e comeu um pão com manteiga, rapidamente. Não era o tipo de comida que os lobisomens comiam, mas ela era só uma serva e comia o mais prático. Ninguém se importava em alimentar bem uma fêmea que não tinha liberado seu lobo.

Terminou de comer, foi até a despensa, pegou o mop, os materiais de limpeza e subiu as escadas para o segundo andar.

Sabia que o Alfa já havia saído, pois os caçadores passaram a noite trabalhando e como líder, ele tinha que fiscalizar os animais caçados.

Foi rápida, iniciando pelos quartos de hóspede. As outras duas faxineiras chegaram quando ela já havia lavado dois banheiros, passou para o terceiro e quando saiu, foi cercada pelas duas, que mandaram, como se fossem superiores a ela:

— Aí, você limpa o banheiro do Alfa e pode ir, nós completamos os que faltam.

Sorriu, como se fosse uma boba e assentiu, indo para o quarto do Alfa. Sabia bem qual a intenção delas, ficou com quatro banheiros, enquanto elas limparam sete, ou seja, menos que ela. Não discutiria por besteira, confiava em sua força, o bastante para não ficar cansada por lavar banheiros.

— Hei, não vai falar nada? — As duas ainda quiseram provocar.

— Para quê? Não gosto de perder tempo. Bom trabalho. 

Lara virou-se e marchou para o quarto do Alfa, deixando as duas resmungando sobre ela.

Entrou no quarto do Alfa e antes de ir limpar o banheiro, arrumou o quarto, juntando a roupa suja e esticando a cama. Inspirou fundo, amando o perfume que pairava por todo o lugar.

— Cheiro de macho Alfa com eucalipto. Muito bom.

Foi para o banheiro e limpou tudo rapidamente. Estava terminando de limpar o blindex do box, quando o Alfa entrou sem  perceber que ela estava ali e urinou, gemendo, como se estivesse muito necessitado de se aliviar. Ela ficou quietinha, esperando que ele saísse sem a ver.

Mas não teve tanta sorte.

Estava de costas para ele, encostada nos azulejos, quando a mão grande segurou o seu braço e puxou-a para fora do box.

— O que você faz aqui me espreitando? O que te dá o direito de espionar o seu Alfa?

Ela baixou a cabeça, agradecendo por estar de boné e poder se ocultar na sombra de sua aba.

— Eu só estava…

— Não interessa, está no lugar errado e será castigada por me espionar.

Foi arrastada até o corredor quase caindo, mas ainda bem que encontraram a senhora Corina, terminando de subir as escadas.

— Largue a jovem, meu Alfa, fui eu que mandei ela lavar os banheiros. — pediu Corina, parando no caminho dele.

— Ela estava espiando eu urinar. — rosnou ele, em resposta.

Lara abaixou mais a cabeça, sem responder, era melhor não provocar mais a fera. Corina, com sua audição lupina, ouviu bem quando o Alfa entrou e urinou e sabendo que Lara estava lá, subiu correndo para evitar a confusão.

— Ela já estava no banheiro e foi você que entrou correndo e não a viu, eu ouvi. Largue-a, por favor, meu Alfa.

Ele não só a largou, mas também a empurrou, fazendo-a desequilibrar e rolar pela escada abaixo. Ela bateu com força no piso térreo, gemendo com a dor. Mas ouviu o rosnado do lobo e se esforçou para se levantar rapidamente, mesmo sentindo a dor. Percebeu que a perna direita não se firmava e saiu pulando em um pé só.

Foi tão rápida, que o Alfa desistiu de a seguir, principalmente porque Corina, pediu que ele a deixasse ir.

— Que infeliz! Todo se achando, como se fosse a última bolacha do pacote. — resmungou Lara, saindo da casa.

Enquanto  resmungava, ela chegou ao herbário e o mestre Schein a recebeu com a cara amarrada.

— Além de atrasada, está machucada. O que houve? — perguntou ele, aborrecido, pois ela nunca chegava no horário.

— Houve um Alfa no meu caminho. — respondeu ela, sem dar muita explicação, pois nem ele era capaz de se compadecer por ela.

Ele não falou mais nada, ajudou-a a entrar e andar até a sala dos preparos.

— Vou dar um jeito nisso e já vou cuidar das ervas. — falou ela, como desculpa.

— Quer ajuda?

— Não será necessário, não foi nada demais. — falou ela, sorrindo e disfarçando a dor.

Ela entrou na sala e fechou a porta. A sala era toda branca, com prateleiras em todas as paredes, contendo um estoque de medicamentos e unguentos. Um balcão, no centro da sala, continha os apetrechos que necessitavam para preparar todas as drogas.

Por sorte, ela havia preparado no dia anterior, o que precisaria usar, agora.

Desceu a calça jeans, com muito cuidado e dor. Percebeu que bateu a perna e o tornozelo, por isso não conseguiu se firmar. Pegou um dos potes de unguento verde musgo, gaze e uma atadura. Passou o unguento de cheiro forte na perna e cobriu com gaze. 

Fez o mesmo com o tornozelo, imobilizando-o com uma atadura e uma tornozeleira. Sentiu o alívio na hora, em dois dias estaria curada.

Se ela tivesse a sua loba, curaria bem mais rápido, mas não conseguiu se transformar, ou melhor, não deixaram. 

Para que ocorra a transformação, é necessário ter a idade certa e estar sob a lua cheia em seu ápice. Mas as famílias com quem ela estava na ocasião, sempre a trancavam no porão e tem sentido sua loba definhando a cada ano que passa e ela não consegue sair.

Mas decidiu que daria um jeito de fugir e se transformar. Dali a duas semana faria 21 anos e será sua última oportunidade de conseguir se transformar e deixar de ser escrava.

“ Meu nome é Lara, a sem família, da  Alcateia Black, amo pesquisar ervas e plantas e criar medicamentos. Me visto sempre com calça jeans e camiseta larga, escondo os cabelos vermelhos, presos debaixo de um boné e procuro não chamar a atenção. Longe de mim levar mais surras ou ser acorrentada como já fiquei. Mas prometo que um dia, serei livre e ninguém mais me humilhará.”

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Capítulo 3. Cachorrinha
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