Lara foi encontrada recém nascida, na floresta. Estava nos braços de uma mulher morta, chorando desesperada. A equipe que ouviu o seu choro, perseguia um bando de lobos desgarrados que ousou invadir a Alcateia. O Alfa aceitou que criassem a filhotinha, que cresceu pulando de casa em casa como uma serviçal. Não recebeu amor e era menosprezada por não ter nada e ninguém por ela. Sua situação piorou quando chegou a época de sua transformação e nada aconteceu, foi considerada escrava da Alcateia, até que sua real identidade foi descoberta. Júlio não ligava muito para a criança que seu pai trouxe em uma das vezes que precisaram defender a Alcateia. Mesmo quando assumiu o lugar de seu pai, que foi morto, não ligou para cuidar daquela que chamavam de a sem família. Piorou quando ela se tornou jovem e ele a desprezou em seu coração. Seu lobo o advertiu sobre a importância dela, mas ele a maltratou. O que eles não sabiam era que, o risco de extinção os espreitava e a salvação estava nas mãos da Loba desprezada.
Ler maisO dia de Lara começou muito cedo para dar tempo de fazer tudo e ainda sobrar para dedicar ao que gostava de fazer, realmente. Correu por entre as casas do condomínio, para chegar rapidamente ao herbário.
Infelizmente, ela não foi rápida o suficiente, pois ouviu a voz da senhora Corina lhe chamando. — Pronto! Meu tempo foi embora.— murmurou baixinho, diminuindo o passo. Aproximou-se da governanta do Alfa, sorriu e cumprimentou-a: — Bom dia, senhora Corina. Em que posso lhe servir? — perguntou Lara, sempre educada e simpática. — Amanhã é a comemoração do aniversário do Alfa Júlio e receberemos muitos convidados, preciso de toda mão de obra disponível. — Aqui estão, estas servem? — mostrou suas mãos. Aprendeu a muito tempo, que era melhor sorrir do que chorar, obedecer do que apanhar e ser solícita do que reclamar, fazia as pessoas serem muito menos rudes e agressivas com ela. — Então, venha, querida, tome o café da manhã e suba, preciso que lave os banheiros do segundo andar. Fez uma cara de espanto, pois no segundo andar têm dez suítes, ou seja, dez banheiros, fora o do corredor. — Todos? — perguntou, mostrando preocupação. — Calma, não será só você, mais duas jovens irão ajudar. Vamos, quanto antes começar, mais rápido irá terminar. Seguiu ela atrás de Corina até a cozinha, tomou uma xícara de café e comeu um pão com manteiga, rapidamente. Não era o tipo de comida que os lobisomens comiam, mas ela era só uma serva e comia o mais prático. Ninguém se importava em alimentar bem uma fêmea que não tinha liberado seu lobo. Terminou de comer, foi até a despensa, pegou o mop, os materiais de limpeza e subiu as escadas para o segundo andar. Sabia que o Alfa já havia saído, pois os caçadores passaram a noite trabalhando e como líder, ele tinha que fiscalizar os animais caçados. Foi rápida, iniciando pelos quartos de hóspede. As outras duas faxineiras chegaram quando ela já havia lavado dois banheiros, passou para o terceiro e quando saiu, foi cercada pelas duas, que mandaram, como se fossem superiores a ela: — Aí, você limpa o banheiro do Alfa e pode ir, nós completamos os que faltam. Sorriu, como se fosse uma boba e assentiu, indo para o quarto do Alfa. Sabia bem qual a intenção delas, ficou com quatro banheiros, enquanto elas limparam sete, ou seja, menos que ela. Não discutiria por besteira, confiava em sua força, o bastante para não ficar cansada por lavar banheiros. — Hei, não vai falar nada? — As duas ainda quiseram provocar. — Para quê? Não gosto de perder tempo. Bom trabalho. Lara virou-se e marchou para o quarto do Alfa, deixando as duas resmungando sobre ela. Entrou no quarto do Alfa e antes de ir limpar o banheiro, arrumou o quarto, juntando a roupa suja e esticando a cama. Inspirou fundo, amando o perfume que pairava por todo o lugar. — Cheiro de macho Alfa com eucalipto. Muito bom. Foi para o banheiro e limpou tudo rapidamente. Estava terminando de limpar o blindex do box, quando o Alfa entrou sem perceber que ela estava ali e urinou, gemendo, como se estivesse muito necessitado de se aliviar. Ela ficou quietinha, esperando que ele saísse sem a ver. Mas não teve tanta sorte. Estava de costas para ele, encostada nos azulejos, quando a mão grande segurou o seu braço e puxou-a para fora do box. — O que você faz aqui me espreitando? O que te dá o direito de espionar o seu Alfa? Ela baixou a cabeça, agradecendo por estar de boné e poder se ocultar na sombra de sua aba. — Eu só estava… — Não interessa, está no lugar errado e será castigada por me espionar. Foi arrastada até o corredor quase caindo, mas ainda bem que encontraram a senhora Corina, terminando de subir as escadas. — Largue a jovem, meu Alfa, fui eu que mandei ela lavar os banheiros. — pediu Corina, parando no caminho dele. — Ela estava espiando eu urinar. — rosnou ele, em resposta. Lara abaixou mais a cabeça, sem responder, era melhor não provocar mais a fera. Corina, com sua audição lupina, ouviu bem quando o Alfa entrou e urinou e sabendo que Lara estava lá, subiu correndo para evitar a confusão. — Ela já estava no banheiro e foi você que entrou correndo e não a viu, eu ouvi. Largue-a, por favor, meu Alfa. Ele não só a largou, mas também a empurrou, fazendo-a desequilibrar e rolar pela escada abaixo. Ela bateu com força no piso térreo, gemendo com a dor. Mas ouviu o rosnado do lobo e se esforçou para se levantar rapidamente, mesmo sentindo a dor. Percebeu que a perna direita não se firmava e saiu pulando em um pé só. Foi tão rápida, que o Alfa desistiu de a seguir, principalmente porque Corina, pediu que ele a deixasse ir. — Que infeliz! Todo se achando, como se fosse a última bolacha do pacote. — resmungou Lara, saindo da casa. Enquanto resmungava, ela chegou ao herbário e o mestre Schein a recebeu com a cara amarrada. — Além de atrasada, está machucada. O que houve? — perguntou ele, aborrecido, pois ela nunca chegava no horário. — Houve um Alfa no meu caminho. — respondeu ela, sem dar muita explicação, pois nem ele era capaz de se compadecer por ela. Ele não falou mais nada, ajudou-a a entrar e andar até a sala dos preparos. — Vou dar um jeito nisso e já vou cuidar das ervas. — falou ela, como desculpa. — Quer ajuda? — Não será necessário, não foi nada demais. — falou ela, sorrindo e disfarçando a dor. Ela entrou na sala e fechou a porta. A sala era toda branca, com prateleiras em todas as paredes, contendo um estoque de medicamentos e unguentos. Um balcão, no centro da sala, continha os apetrechos que necessitavam para preparar todas as drogas. Por sorte, ela havia preparado no dia anterior, o que precisaria usar, agora. Desceu a calça jeans, com muito cuidado e dor. Percebeu que bateu a perna e o tornozelo, por isso não conseguiu se firmar. Pegou um dos potes de unguento verde musgo, gaze e uma atadura. Passou o unguento de cheiro forte na perna e cobriu com gaze. Fez o mesmo com o tornozelo, imobilizando-o com uma atadura e uma tornozeleira. Sentiu o alívio na hora, em dois dias estaria curada. Se ela tivesse a sua loba, curaria bem mais rápido, mas não conseguiu se transformar, ou melhor, não deixaram. Para que ocorra a transformação, é necessário ter a idade certa e estar sob a lua cheia em seu ápice. Mas as famílias com quem ela estava na ocasião, sempre a trancavam no porão e tem sentido sua loba definhando a cada ano que passa e ela não consegue sair. Mas decidiu que daria um jeito de fugir e se transformar. Dali a duas semana faria 21 anos e será sua última oportunidade de conseguir se transformar e deixar de ser escrava. “ Meu nome é Lara, a sem família, da Alcateia Black, amo pesquisar ervas e plantas e criar medicamentos. Me visto sempre com calça jeans e camiseta larga, escondo os cabelos vermelhos, presos debaixo de um boné e procuro não chamar a atenção. Longe de mim levar mais surras ou ser acorrentada como já fiquei. Mas prometo que um dia, serei livre e ninguém mais me humilhará.”Corina saiu para preparar o café, pois logo o Alfa entraria para comer. Lara ficou pensando sobre o que Corina falou, chegando à conclusão de que aquelas pessoas que rodeavam o Alfa Júlio, não eram boas. Todos os Betas, com família e prósperos, roubavam a Alcateia usando ela como escrava.Porém, algo que Corina falou a deixou preocupada: o cheiro de sua loba estava aflorando. Isso era um risco, pois o Alfa poderia sentir e descobrir que ela estava ali. O bom é que, com sua loba presente e tendo seu próprio aroma, poderia descobrir mais facilmente de qual alcateia ela era.Ouviu, durante o banquete do Alfa, que ela era filha de desgarrados, mas isso não era comentado pela Alcateia, não devia ser uma coisa certa, pois se fosse, teriam-na rejeitado ou até matado, assim que a encontraram. Havia algo muito estranho em toda essa história. Quem sabe conseguiria, morando ali, pesquisar algo na biblioteca.Lembrava bem de quando aprendeu a ler e escrever com a filha do Beta Gomes, ali na bibli
Lara acordou sem ter noção de onde estava, até que viu o Sr. Schein sentado em uma cadeira ao seu lado.— Até que enfim, acordou. Como está se sentindo?Ela olhou em volta e percebeu que estava na clínica. Lembrou do banquete do Alfa e da dor, mas agora, não sentia nada. Tentou se levantar e a dor nas costelas apareceu.— Não se esforce, você tem fratura em três costelas. — Pensei mesmo que teria. Aquele Alfa estúpido me tratou como um cachorro, jogando pedaços de carne para eu comer do chão e me chutava se eu não comece.Schein franziu o rosto, preocupado. Todos sempre trataram a jovem como uma empregada, serva, e até escrava, mas nunca soube que ela foi agredida ao ponto de quebrar os ossos. Isso era uma crueldade, porque ela não tem uma loba para curá-la rapidamente e vindo do Alfa, a agressão ainda era pior, pois vinha acrescida de humilhação.— Qual é a família que está contigo esta semana? — perguntou o mestre das ervas.— A do Beta Gomes, chefe da manutenção. — respondeu ela.
O Alfa Júlio era conhecido pela sua selvageria, um macho forte, grande e sem piedade. Era filho do antigo Alfa, que era mais cruel que ele e foi morto em uma cilada dos rebeldes. Não teve mãe, pois ela morreu no parto e quem o criou foi Corina.Já tinha mais de 100 anos e não tinha encontrado sua companheira. Corina achava que toda aquela violência, devia-se ao fato dele estar sozinho. Apesar dele ser rude, era justo e isso amenizava sua grosseria.Neste momento, Corina se preocupou com Lara, pois também não estava entendendo a implicância dele, que se levantou e pegou a jovem pelo braço, onde o sangue já escorria e jogou-a no chão, aos pés dele, que tornou a sentar-se à mesa.— Vamos ver se agora você fica quieta, cachorrinha.Depois disso, ele continuou comendo e conversando e de vez em quando, jogava um pedaço de carne para ela e se ela não pegasse do chão e comesse, ele a chutava. Lara trincou os dentes no pedaço de carne, para conter o gemido de dor, se ele continuasse a chutá-la
No dia seguinte, ainda cedo, começaram a chegar os convidados. Alfas e Betas, com suas famílias que vieram de longe para festejar e apresentar suas filhas ao Alfa. Corina chamou Lara, que não pode se esquivar e atendeu-a:— Bom dia, senhora Corina. Em que posso lhe servir?— Venha hoje, às seis horas, para ajudar na cozinha com a limpeza, está bem?— Sim, senhora, estarei aqui.Lara correu para o herbário e chegou cansada e com o tornozelo doendo.— Bom dia, senhor Schein.— Bom dia, Lara. Como está seu tornozelo?— Vou trocar o emplastro e já inicio o trabalho. O senhor vai à festa do Alfa?— Quem não vai? — respondeu ele sorrindo, sequer lembrando que Lara não era alguém.— Eu fui convocada, preciso chegar às seis horas.— Até lá dá para fazer bastante coisa, inicie logo. Precisa plantar as mudas, colher as plantas para o spray ocultador e arrumar as prateleiras de medicamentos.— Pode deixar, senhor Schein, deixarei tudo pronto antes de sair.Rapidamente ela trocou o curativo, pôs
O dia de Lara começou muito cedo para dar tempo de fazer tudo e ainda sobrar para dedicar ao que gostava de fazer, realmente. Correu por entre as casas do condomínio, para chegar rapidamente ao herbário.Infelizmente, ela não foi rápida o suficiente, pois ouviu a voz da senhora Corina lhe chamando. — Pronto! Meu tempo foi embora.— murmurou baixinho, diminuindo o passo.Aproximou-se da governanta do Alfa, sorriu e cumprimentou-a:— Bom dia, senhora Corina. Em que posso lhe servir? — perguntou Lara, sempre educada e simpática.— Amanhã é a comemoração do aniversário do Alfa Júlio e receberemos muitos convidados, preciso de toda mão de obra disponível.— Aqui estão, estas servem? — mostrou suas mãos.Aprendeu a muito tempo, que era melhor sorrir do que chorar, obedecer do que apanhar e ser solícita do que reclamar, fazia as pessoas serem muito menos rudes e agressivas com ela.— Então, venha, querida, tome o café da manhã e suba, preciso que lave os banheiros do segundo andar.Fez uma c
Último capítulo