Mundo ficciónIniciar sesiónPatrícia acreditava que sua vida estava nos trilhos: um namoro estável com Rafael, planos de casamento e uma carreira promissora. Mas tudo desmorona após um exame de rotina que muda sua vida para sempre. Por um erro médico, ela é inseminada com o único embrião de Enrico Duarte, o herdeiro mais poderoso — e mais cobiçado — de toda a cidade. Um mês depois, Patrícia descobre a gravidez. Rafael, desconfiado e humilhado, rompe com ela, certo de que foi traído. Sem saber a verdade, Patrícia decide seguir em frente sozinha — até ser procurada por Bianca, noiva de Enrico, que a chantageia para manter o segredo e dar à luz em silêncio. Mas o destino não segue regras. Um encontro inesperado entre Patrícia e Enrico os aproxima de forma arrebatadora. Ele se encanta por sua força, por sua luz, sem imaginar que ela carrega seu filho. Quando a verdade vier à tona, Patrícia terá que decidir: proteger seu filho... ou lutar pelo amor que nunca planejou viver.
Leer másPatrícia sempre acreditou que a vida precisava de ordem para fazer sentido.
Planos, horários, metas. Tudo encaixado como peças de um quebra-cabeça silencioso que ela vinha montando desde muito jovem. Aos vinte e oito anos, tinha um emprego estável, um relacionamento duradouro e a sensação confortável de que estava exatamente onde deveria estar.
Ou pelo menos era isso que ela repetia para si mesma.
Naquela manhã de sexta-feira, a cidade de Veláris acordara sob um céu pesado, cinza, como se o dia também estivesse indeciso sobre o que se tornaria. A chuva da madrugada ainda deixava o asfalto úmido, refletindo luzes e movimentos. Patrícia observava tudo pela janela do táxi, com a testa apoiada no vidro frio, sentindo o balanço suave do carro enquanto tentava ignorar um incômodo estranho no peito.
Não era dor. Era inquietação.
Ela respirou fundo e ajeitou a bolsa no colo. O motorista seguia em silêncio, e aquilo lhe dava espaço demais para pensar. Pensar em Rafael. No casamento que viviam adiando. Nas discussões pequenas que vinham se acumulando como poeira embaixo do tapete. No cansaço que ela não sabia explicar.
— Chegamos, senhora — avisou o motorista, estacionando em frente à Clínica Vitta+.
Patrícia agradeceu, pagou a corrida e desceu. A fachada de vidro espelhado refletia sua imagem: cabelo castanho bem alinhado, maquiagem discreta, roupa social elegante. Por fora, tudo parecia sob controle. Por dentro, algo sussurrava que aquela manhã não seria apenas mais uma.
A Vitta+ era conhecida em Veláris como uma clínica de alto padrão. Tudo ali era pensado para transmitir confiança: a recepção ampla, os sofás claros, o aroma suave de chá e limpeza. Patrícia caminhou até o balcão com passos firmes, entregando os documentos.
— Nome completo, por favor — pediu a recepcionista, sem levantar os olhos.
— Patrícia Navarre.
Os dedos da atendente correram pelo teclado.
— Documento?
Ela entregou o CPF, assinou alguns papéis sem ler com atenção. Era um exame de rotina. Apenas isso. Nada que merecesse preocupação.
O detalhe invisível, porém, estava ali: em outro horário, no mesmo dia, uma paciente chamada Patrícia Navarro também estava agendada. Um sobrenome quase idêntico. Um prontuário trocado. Um erro pequeno demais para ser percebido — grande demais para ser desfeito depois.
Patrícia sentou-se na sala de espera e puxou o celular. Havia uma mensagem de Rafael.
“Você vai se atrasar hoje? Preciso saber se jantamos juntos.”
Ela suspirou antes de responder.
“Não sei. Tenho exame agora. Te aviso.”
Bloqueou a tela e fechou os olhos por um instante. Ultimamente, até as conversas simples pareciam exigir esforço.
— Patrícia Navarre? — chamou uma enfermeira.
Ela se levantou, seguindo pelo corredor branco, iluminado demais, limpo demais. Tudo parecia normal. Seguro. Profissional.
A consulta começou como qualquer outra. Perguntas padrão, exame físico, coleta de sangue. Em determinado momento, um médico explicou rapidamente um procedimento complementar, usando termos técnicos que Patrícia não compreendeu por completo.
— Faz parte do protocolo — disse ele, com naturalidade. — É rápido.
Ela confiou. Deitou-se na maca. Sentiu um desconforto incomum, um frio percorrendo o corpo, mas nada que despertasse alarme imediato. Minutos depois, estava liberada.
Na volta para casa, o cansaço veio como uma onda pesada. Dormiu no táxi, algo que não costumava acontecer. Quando chegou ao apartamento, tomou um banho demorado, tentando afastar a sensação estranha de que algo dentro dela havia sido tocado — não fisicamente, mas em um lugar mais profundo, impossível de nomear.
Os dias seguintes trouxeram mudanças sutis.
Primeiro, o enjoo leve ao acordar. Depois, a aversão ao cheiro de café, que sempre fora seu ritual matinal. O sono excessivo. A sensibilidade exagerada aos cheiros, aos sons, às emoções.
— Você anda estranha — comentou Rafael certa noite, observando-a empurrar o prato de comida. — Deve ser estresse.
Ela concordou, mesmo sem acreditar totalmente.
Até o dia em que entrou numa farmácia para comprar analgésicos e parou diante da prateleira de testes de gravidez.
Ficou ali por longos segundos, encarando as caixas coloridas, com o coração batendo rápido demais. Comprou um. Depois outro. Pagou sem olhar para o atendente.
No banheiro de casa, as mãos tremiam. O silêncio parecia gritar. Quando o resultado apareceu, claro e incontestável, Patrícia sentiu o chão desaparecer.
Duas linhas.
Ela sentou-se lentamente na tampa do vaso, a respiração curta.
— Isso não é possível… — sussurrou.
Fez outro teste. O mesmo resultado.
Na manhã seguinte, procurou sua médica de confiança. O exame confirmou: grávida. Seis semanas.
— Patrícia — disse a médica, com um olhar sério —, preciso ser honesta com você. Houve um erro no seu atendimento na Vitta+. Um erro grave.
As palavras demoraram a fazer sentido.
— Que tipo de erro?
A médica respirou fundo antes de responder.
— Você foi submetida a um procedimento que não autorizou. Houve uma troca de prontuários. Você… foi inseminada.
O mundo parou.
O ar sumiu.
O futuro que Patrícia acreditava conhecer se quebrou em mil pedaços naquele instante.
Ela saiu da clínica em choque, caminhando sem destino pelas ruas movimentadas da cidade. Não sabia de quem era aquele bebê. Não sabia como contar. Não sabia se queria chorar, gritar ou desaparecer.
Só sabia de uma coisa.
A vida que ela conhecia havia acabado.
E algo completamente novo — e perigoso — começava a crescer dentro dela.
O dia avançou com uma leveza que Patrícia não sentia havia muito tempo.Não era euforia. Não era encantamento cego. Era algo mais raro: coerência entre o que sentia e o que vivia. O desejo da noite anterior havia se acomodado em um lugar tranquilo dentro dela, sem exigir repetição imediata, sem criar ansiedade.Miguel dormia depois de uma manhã agitada, e a casa parecia suspensa em um intervalo silencioso. Patrícia organizava algumas coisas pela sala quando sentiu Enzo observá-la de novo. Não como quem vigia, mas como quem reconhece.— Você se move diferente — ele comentou.— Como assim? — ela perguntou, sem parar o que fazia.— Mais solta — respondeu. — Como se não estivesse se protegendo o tempo todo.Patrícia pensou por alguns segundos antes de responder.— Porque eu não estou — disse. — Mas isso não significa que eu esteja desatenta.Ele sorriu, entendendo perfeitamente.Sentaram-se juntos no sofá quando Miguel começou a se mexer no quarto, ainda sem acordar completamente. Patríci
Patrícia acordou com o corpo ainda aquecido pela lembrança da noite anterior.Não havia aquele sobressalto conhecido, aquela pergunta automática que costumava surgir depois da intimidade: o que isso muda?Dessa vez, a sensação era outra.Continuidade.Ela permaneceu alguns minutos deitada, observando a luz da manhã entrar tímida pela janela. Enzo ainda dormia ao lado dela, o rosto relaxado, a respiração tranquila. Não havia tensão no ar. Nenhuma urgência escondida. Apenas o silêncio confortável de quem não precisa fugir do que viveu.Miguel chorou baixo no quarto ao lado, como um lembrete gentil da realidade que não competia com o romance. Patrícia se levantou devagar, vestiu o robe e foi até o filho. Pegou-o no colo com naturalidade, sentindo o peso pequeno se acomodar contra o peito.— Bom dia — disse, sorrindo. — Você perdeu nada… e ao mesmo tempo ganhou tudo.Enquanto cuidava dele, percebeu algo importante: não sentia culpa. Nem por ter desejado. Nem por ter se permitido. Nem por
A noite caiu devagar, como se soubesse que aquela casa agora pedia delicadeza.Miguel dormia profundamente, entregue a um daqueles sonos longos que não pedem vigilância constante. Patrícia fechou a porta do quarto com cuidado e ficou alguns segundos parada no corredor, respirando fundo. Havia algo no ar. Não ansiedade. Expectativa calma. Um chamado silencioso que vinha do corpo, não da urgência.Na sala, Enzo estava sentado no sofá, o paletó largado de qualquer jeito, a camisa com os primeiros botões abertos. Ele não mexia no celular. Não parecia distraído. Apenas presente.Quando os olhares se encontraram, não houve sorriso imediato. Houve reconhecimento.— A casa fica diferente à noite — Patrícia disse, caminhando até ele.— Fica mais honesta — Enzo respondeu. — Não tem distração suficiente para fingir.Ela sentou-se ao lado dele, mantendo um pequeno espaço entre os corpos. Não por recuo, mas por escolha. O desejo crescia ali exatamente porque não era imposto.— Eu pensei muito hoje
O dia seguinte não trouxe euforia.Trouxe algo melhor.Patrícia acordou com a sensação de que o afeto havia encontrado lugar dentro da rotina, sem precisar ser anunciado. Miguel ainda dormia, e a casa parecia respirar junto com ela. Não havia ansiedade pelo próximo encontro, nem expectativa inflada. O que existia era continuidade.Ela foi até a cozinha, preparou o café e ficou alguns minutos observando a luz atravessar a janela. Pensou em como, por tanto tempo, associara romance a desorganização emocional. A paixão que chegava para bagunçar, exigir, cobrar, tirar o chão.Com Enzo, era diferente.Não porque faltasse intensidade, mas porque havia direção.Quando Miguel acordou, Patrícia o pegou no colo e caminhou pela sala. O bebê se aconchegou rápido, o rosto relaxando como se reconhecesse aquele espaço seguro. Ela sorriu, sentindo uma gratidão silenciosa.— A gente está aprendendo a viver — disse em voz baixa. — Todos nós.Enzo apareceu pouco depois, já vestido, mas sem pressa de sair
A manhã seguinte chegou sem alarde.Patrícia acordou antes de Enzo, sentindo o corpo descansado de um jeito raro. Não era apenas físico. Havia uma tranquilidade interna que não vinha do cansaço vencido, mas da ausência de conflito. Ela ficou alguns minutos deitada, observando a luz suave que entrava pela janela, ouvindo a respiração calma ao lado.Não havia urgência em levantar.Nem em definir nada.Miguel chorou baixinho no quarto ao lado, um chamado conhecido. Patrícia se levantou com cuidado, lançou um olhar rápido para Enzo ainda dormindo e saiu. Pegou o filho no colo, sentindo o peso pequeno se acomodar com confiança. Aquilo a ancorava no presente de um jeito absoluto.— Bom dia — disse a ele, com um sorriso discreto.Enquanto cuidava do filho, Patrícia percebeu algo novo: o romance que se desenhava não competia com a maternidade. Não exigia exclusividade emocional. Não pedia que ela se dividisse em pedaços menores para caber em alguém.Era adulto.Quando voltou à sala, encontrou
O silêncio que veio depois não era vazio.Era pleno.Patrícia permaneceu alguns segundos sentada no sofá após se afastar de Enzo, sentindo o corpo ainda quente, a respiração voltando ao ritmo normal. Não havia constrangimento. Não havia aquela sensação antiga de ter ido longe demais ou cedo demais.Havia conforto.Ela caminhou até a janela e abriu um pouco mais a cortina, deixando a luz da rua entrar de forma suave. A noite seguia comum lá fora. Nenhum mundo havia acabado. Nenhuma estrutura tinha desmoronado.Ela sorriu sozinha.Isso dizia muito.Enzo ficou observando, sem interromper, respeitando aquele pequeno espaço que sempre fazia parte da dinâmica entre eles. Não se aproximou para marcar território. Não tentou prolongar o momento por insegurança.Quando finalmente se levantou, foi até ela com passos calmos.— Você está bem? — perguntou, baixo.Patrícia virou-se devagar.— Estou tranquila — respondeu. — É diferente de estar só satisfeita.Ele assentiu, entendendo exatamente o que
Último capítulo