Mundo de ficçãoIniciar sessãoPatrícia passou a noite em claro.
O dinheiro dentro do envelope permanecia intocado sobre a mesa da sala, como se fosse um objeto contaminado. Cinquenta mil reais. Uma quantia absurda para alguém que, até poucos dias antes, se preocupava em equilibrar planilhas e pagar contas em dia. Não era ajuda. Era silêncio comprado.
Ela caminhava de um lado para o outro, abraçando o próprio corpo, sentindo o peso da solidão se acomodar nos ombros. Rafael não voltara. Não mandara mensagem. A casa parecia maior, fria, estranha demais para continuar sendo chamada de lar.
Na manhã seguinte, Patrícia tomou uma decisão simples, mas necessária: precisava sair dali. Precisava respirar. Pensar longe daquelas paredes que agora guardavam ecos de abandono, medo e perguntas sem resposta.
Vestiu uma roupa confortável, prendeu os cabelos de qualquer jeito e saiu caminhando sem destino definido. Veláris estava viva como sempre. Pessoas apressadas, cafés abrindo as portas, buzinas, passos, conversas atravessadas. O mundo seguia, indiferente ao caos que se instalara dentro dela.
Entrou em um café pequeno, discreto, quase escondido entre prédios antigos. O cheiro de pão fresco e café recém-passado a envolveu como um abraço tímido. Pediu um chá de camomila. Café agora lhe causava enjoo.
Sentou-se perto da janela, observando a rua, tentando convencer o próprio coração a desacelerar.
Foi então que ele entrou.
Alto. Postura segura. Terno escuro perfeitamente ajustado, mas sem parecer engessado. Ele falava ao celular, a voz baixa e firme, como alguém acostumado a ser ouvido.
— Não, isso não é negociável. Quero o contrato revisado hoje — disse, antes de desligar.
Patrícia não sabia por que levantou os olhos. Talvez tenha sido a presença dele. Talvez o tom da voz. Ou talvez o destino, que começava a brincar com ela sem pedir permissão.
Quando ele tirou os óculos escuros, ela reconheceu.
Enzo Ravary.
O nome surgiu na mente dela com atraso, acompanhado de um frio na barriga. Era impossível morar em Veláris e não saber quem ele era. Herdeiro de um dos maiores grupos empresariais do país. Reservado. Poderoso. Intocável.
Ela o observou por segundos a mais do que deveria.
E então os olhares se cruzaram.
Não houve sorriso. Nem curiosidade óbvia. Apenas um choque silencioso, como se algo tivesse se reconhecido ali, sem lógica, sem aviso.
Enzo desviou o olhar primeiro. Pediu um café curto, sem açúcar, e ficou de pé, mexendo no celular. Mas, antes de sair, olhou novamente para Patrícia. Mais demorado dessa vez.
Ela sentiu o estômago revirar. Não de enjoo. De algo diferente. Estranho.
Quando ele saiu, o café pareceu perder parte do calor.
Patrícia respirou fundo, incomodada consigo mesma.
— Hormônios — murmurou. — Só isso.
Mas o incômodo não passou.
Ela voltou para casa com a sensação de que aquele encontro, aparentemente banal, tinha deixado uma marca invisível.
Naquela mesma tarde, o telefone tocou.
Número desconhecido.
— Patrícia Navarre? — perguntou uma voz feminina, profissional demais.
— Sim.
— Aqui é Camila, da Clínica Vitta+. Os resultados do rastreamento genético ficaram prontos. Precisamos que a senhora compareça à clínica.
O coração dela disparou.
— Eu quero saber agora.
Houve uma pausa do outro lado da linha.
— O pai biológico do embrião é o paciente registrado sob o código R-001-E — disse a mulher, com cautela. — O nome dele é Enzo Ravary.
O mundo parou.
O nome que ainda ecoava na memória dela, o homem do café, o olhar estranho, o arrepio sem explicação… tudo se encaixou com uma violência quase física.
— Você tem certeza? — sussurrou.
— Absoluta.
A ligação caiu. Ou talvez tenha sido Patrícia quem desligou. Ela não saberia dizer.
Sentou-se no sofá, o celular escorregando da mão, o corpo inteiro tremendo.
Enzo Ravary.
O homem que ela havia acabado de encontrar por acaso. O homem cujo filho agora crescia dentro dela. O homem cercado de poder, dinheiro… e uma mulher disposta a pagar para que Patrícia desaparecesse.
Agora tudo fazia sentido.
O suborno. O medo. O silêncio da clínica.
Patrícia levou a mão à barriga, os olhos marejados.
— Eu vou te proteger — sussurrou. — Custar o que custar.
Naquele instante, ela ainda não sabia como. Não sabia contra quem exatamente lutaria. Só sabia que aquele encontro não tinha sido casual.
O destino acabara de dar o primeiro empurrão.
E, gostasse ou não, Patrícia estava ligada para sempre ao homem errado.
Patrícia passou a noite em claro.
A ligação caiu. Ou talvez tenha sido Patrícia quem desligou. Ela não saberia dizer.
Sentou-se no sofá, o celular escorregando da mão, o corpo inteiro tremendo.
Enzo Ravary.
O homem que ela havia acabado de encontrar por acaso. O homem cujo filho agora crescia dentro dela. O homem cercado de poder, dinheiro… e uma mulher disposta a pagar para que Patrícia desaparecesse.
Agora tudo fazia sentido.
O suborno. O medo. O silêncio da clínica.
Patrícia levou a mão à barriga, os olhos marejados.
— Eu vou te proteger — sussurrou. — Custar o que custar.
Naquele instante, ela ainda não sabia como. Não sabia contra quem exatamente lutaria. Só sabia que aquele encontro não tinha sido casual.
O destino acabara de dar o primeiro empurrão.
E, gostasse ou não, Patrícia estava ligada para sempre ao homem errado.







