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CAPÍTULO 2 – QUANDO TUDO DESMORONA

O silêncio do apartamento nunca pareceu tão alto.

Patrícia estava sentada no sofá, com as pernas dobradas junto ao corpo, encarando a parede à sua frente sem realmente enxergá-la. As palavras da médica ecoavam na cabeça como um martelo insistente.

Você foi inseminada.

Houve um erro.

Isso é muito grave.

Ela levou a mão ao ventre ainda plano, como se pudesse sentir algo ali além do medo. Não sentia amor. Ainda não. O que sentia era choque, incredulidade e uma revolta silenciosa que se espalhava pelo corpo.

Aquilo não tinha sido uma escolha.

E isso mudava tudo.

O relógio marcava quase nove da noite quando a chave girou na fechadura. Patrícia endireitou o corpo instintivamente. Rafael entrou, largando a mochila no chão e soltando um suspiro cansado.

— Você chegou cedo hoje — ele comentou, sem perceber a rigidez dela.

— Precisamos conversar — disse Patrícia, a voz mais baixa do que pretendia.

Rafael a olhou com atenção pela primeira vez. Franziu a testa.

— Aconteceu alguma coisa?

Ela assentiu. O coração batia tão forte que parecia querer escapar do peito.

— Eu fui à médica hoje.

— E…?

Patrícia respirou fundo. Cada palavra parecia pesada demais para sair.

— Eu estou grávida.

O silêncio caiu entre eles como um vidro estilhaçando lentamente.

Rafael piscou algumas vezes, como se não tivesse entendido.

— Como é que é?

— Grávida — ela repetiu. — De seis semanas.

Ele deu uma risada curta, incrédula, mas sem humor algum.

— Isso não é engraçado, Patrícia.

— Eu sei.

— Então para de brincar comigo — ele retrucou, já alterado. — A gente sempre se cuidou. Sempre.

— Eu sei — ela disse novamente, sentindo os olhos marejarem. — E é por isso que eu preciso te explicar…

— Explicar o quê? — ele cortou. — Que você está grávida do nada?

Patrícia se levantou devagar, sentindo as pernas fracas.

— Houve um erro médico. Na clínica. Eles fizeram um procedimento que eu não autorizei. Houve troca de prontuários.

Rafael a encarou como se estivesse ouvindo algo absurdo demais para ser real.

— Procedimento? Que procedimento?

Ela engoliu em seco.

— Inseminação.

A palavra pareceu flutuar no ar por alguns segundos antes de cair entre eles como algo sujo.

— Você acha que eu sou idiota? — ele explodiu. — Está tentando me convencer de que engravidou por um erro médico?

— Eu não te traí, Rafael — ela disse, a voz falhando. — Nunca. Eu juro.

Ele passou a mão pelos cabelos, andando de um lado para o outro da sala.

— Isso é conveniente demais. Uma história perfeita pra encobrir uma traição.

— Não é uma história! — ela elevou a voz pela primeira vez. — Eu também estou em choque! Eu também não escolhi isso!

— Então por que eu deveria acreditar em você? — ele disparou. — Por que justo agora, quando a gente mal se fala, você aparece grávida?

As palavras doeram mais do que ela imaginava.

— Porque eu confiei em você — ela respondeu, com lágrimas escorrendo. — Porque eu achei que, se alguém fosse ficar do meu lado, seria você.

Rafael parou. O olhar dele endureceu.

— Eu não posso ficar com alguém que carrega o filho de outro homem.

— Você não sabe de quem é — ela rebateu.

— Exatamente — ele respondeu, frio. — E isso já diz tudo.

Ele foi até o quarto e começou a pegar roupas. Patrícia o seguiu, desesperada.

— Rafael, por favor…

— Não — ele interrompeu. — Eu preciso de distância. Quando você tiver provas, testes, qualquer coisa que não seja essa história maluca… aí a gente conversa.

— Você está me abandonando — ela sussurrou.

Ele parou por um segundo, com a mochila na mão.

— Não. Você fez isso sozinha.

A porta bateu com força.

Patrícia ficou ali, parada no meio do quarto, sentindo o vazio se espalhar. O cheiro dele ainda estava no ar. A vida que ela conhecia acabara de sair pela porta, sem olhar para trás.

Ela deslizou até o chão e chorou como não chorava desde criança. Chorou pela perda, pela solidão, pelo medo. Chorou porque, de repente, estava completamente sozinha — com um bebê que não sabia se queria, mas que já existia.

Na manhã seguinte, decidiu voltar à clínica.

Entrou na Vitta+ com passos firmes, apesar do nó no estômago.

— Eu quero falar com o responsável — disse à recepcionista.

Foi levada a uma sala fria, onde uma mulher elegante a aguardava. O sorriso profissional não escondia o desconforto.

— Lamentamos profundamente o ocorrido, Patrícia. A clínica está apurando internamente…

— Eu não quero desculpas — cortou. — Quero saber de quem é esse bebê.

A mulher respirou fundo.

— Estamos finalizando o rastreamento genético. Em poucos dias teremos a identificação do material utilizado.

— Poucos dias? — Patrícia repetiu, incrédula. — Minha vida acabou em poucos minutos. E vocês precisam de dias?

— Entendemos sua angústia — respondeu a mulher. — Mas pedimos discrição. Esse caso envolve pessoas… importantes.

A palavra ficou no ar como um aviso.

Importantes.

Ao sair da clínica, Patrícia sentiu um arrepio percorrer a espinha. Não era só um erro médico. Havia algo maior por trás daquilo.

Naquela mesma tarde, ao chegar em casa, encontrou uma mulher a esperando na portaria. Elegante, postura impecável, olhar frio.

— Patrícia Navarre? — perguntou.

— Sou eu.

A mulher sorriu, mas o sorriso não chegou aos olhos.

— Vim falar com você sobre sua gravidez.

O coração de Patrícia disparou.

— Quem é você?

— Alguém que quer evitar problemas — respondeu calmamente. — Meu conselho é simples: não procure mais respostas. Tenha o bebê em silêncio. Suma por um tempo. Você será recompensada.

Ela estendeu um envelope.

Patrícia não tocou.

— Isso é uma ameaça?

— É uma oportunidade — a mulher corrigiu. — Pense com cuidado. Algumas verdades custam caro demais.

Ela se virou e foi embora, deixando para trás um rastro de perfume e medo.

Patrícia subiu para o apartamento com as mãos trêmulas. Dentro do envelope, havia dinheiro. Muito dinheiro.

Ela fechou os olhos.

Agora não havia mais dúvidas.

Ela estava no meio de algo grande, perigoso…

e não tinha mais para onde fugir.

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