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CAPÍTULO 6 – MENTIRAS QUE COMEÇAM A APERTAR

A primeira coisa que Patrícia sentiu ao acordar foi o enjoo.

Não o leve, quase tolerável, dos dias anteriores. Era intenso, insistente, acompanhado de uma tontura que a obrigou a permanecer deitada por alguns minutos, encarando o teto do quarto. O corpo começava a exigir atenção. Não havia mais espaço para fingir que nada estava acontecendo.

Ela se levantou devagar, apoiando a mão na parede ao caminhar até o banheiro. O reflexo no espelho mostrava uma mulher cansada, mas diferente. Havia algo novo no olhar. Uma mistura de medo e força que ela ainda estava aprendendo a reconhecer.

Depois de lavar o rosto, pegou o celular. Três mensagens não lidas.

Uma da mãe, perguntando quando ela iria visitá-la. Uma de Júlia, insistindo para almoçarem juntas. E uma terceira, sem nome salvo.

Número desconhecido.

O estômago de Patrícia se revirou antes mesmo de abrir.

“Você precisa ser mais cuidadosa. Veláris observa tudo.”

Ela sentiu um frio percorrer a espinha.

Bianca.

Não havia assinatura, mas não precisava. Patrícia apagou a mensagem com raiva, mas a sensação de estar sendo vigiada não desapareceu.

Naquele mesmo dia, ao chegar ao trabalho, foi chamada pelo setor de Recursos Humanos antes mesmo de ligar o computador. A coordenadora a recebeu com um sorriso tenso, indicando a cadeira à frente da mesa.

— Patrícia, recebemos uma denúncia anônima — começou, escolhendo as palavras. — Precisamos apurar.

— Que tipo de denúncia? — perguntou, já sentindo o coração acelerar.

A mulher deslizou um tablet sobre a mesa. Na tela, imagens borradas, prints de um perfil falso em uma rede social, com um nome parecido com o dela, oferecendo serviços de acompanhante de luxo.

Patrícia sentiu o chão desaparecer.

— Isso não é meu — disse, a voz firme apesar do choque. — Eu nunca fiz isso.

— Eu imagino — respondeu a coordenadora. — Mas a denúncia chegou à diretoria. Até esclarecermos tudo, você será afastada temporariamente.

— Afastada? — Patrícia repetiu, incrédula.

— Com salário — completou a mulher. — Mas precisamos investigar.

Ela saiu da sala sentindo-se suja. Exposta. Humilhada.

Bianca estava indo além das ameaças veladas.

Agora atacava sua reputação.

Patrícia não voltou direto para casa. Caminhou sem rumo por algumas quadras, sentindo o peso do mundo pressionar o peito. Parou em uma praça, sentou-se em um banco e levou as mãos ao rosto.

— Respira — sussurrou para si mesma. — Você não está sozinha.

Mas a verdade era cruel.

Ela estava.

Ou pelo menos achava que estava.

Do outro lado da cidade, Enzo Ravary encerrava uma reunião importante quando seu assistente entrou, cauteloso.

— Senhor, recebi informações sobre a mulher da galeria.

Enzo ergueu o olhar.

— Patrícia?

— Sim. Ela foi afastada do trabalho hoje. Denúncia anônima. Algo… estranho.

O maxilar de Enzo se contraiu.

— Estranho como?

— Ataque à reputação. Perfis falsos. Nada comprovado.

Enzo ficou em silêncio por alguns segundos.

— Isso não é coincidência — murmurou.

Ele já conhecia aquele método. Aquele tipo de destruição lenta, silenciosa, difícil de provar.

Conhecia bem demais.

— Quero tudo sobre isso — ordenou. — E discreto.

Mais tarde, Patrícia chegou em casa e encontrou um buquê de flores simples na portaria. Margaridas. Sem cartão.

Ela soube quem tinha enviado.

O telefone tocou minutos depois.

— Eu não quis te assustar — disse Enzo, do outro lado da linha. — Mas fiquei sabendo do que aconteceu. E… eu me preocupei.

O coração dela apertou.

— Como você soube?

— Eu presto atenção em você — respondeu, sincero. — E quando algo parece errado, eu não ignoro.

Ela fechou os olhos, encostando a testa na parede.

— Estão tentando me destruir, Enzo.

— Quem?

Ela hesitou. Não podia dizer. Ainda não.

— Alguém que quer me silenciar.

— Então essa pessoa escolheu o caminho errado — ele respondeu, com a voz mais dura do que ela já ouvira. — Porque ninguém encosta em quem está comigo.

A frase a assustou.

E aqueceu algo dentro dela.

— Enzo… — ela começou, insegura.

— Não — ele a interrompeu, mais suave agora. — Não me explica nada hoje. Só deixa eu estar por perto. Às vezes, isso já é suficiente.

Ela respirou fundo.

— Obrigada.

Depois que desligou, Patrícia sentou-se no sofá, as mãos pousadas sobre a barriga.

Ela estava se aproximando demais dele.

E a mentira começava a apertar.

Porque cada gesto de cuidado, cada demonstração de proteção, tornava mais difícil esconder a verdade.

E quanto mais ela demorasse…

Mais dolorosa seria a queda.

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