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CAPÍTULO 7 – A PRIMEIRA FISSURA

Patrícia sonhou com o coração do bebê batendo.

Rápido. Forte. Vivo.

Acordou sobressaltada, com a mão sobre o ventre e a respiração descompassada. Ainda estava escuro, e por alguns segundos demorou a lembrar onde estava. O apartamento silencioso. O lado da cama vazio. A vida suspensa entre o que foi e o que ainda não podia ser.

Ela se levantou e foi até a janela. Veláris ainda dormia, iluminada por poucos postes e janelas acesas. Pensou em quantas vidas seguiam intactas enquanto a dela parecia caminhar sobre um fio invisível.

Naquela manhã, tinha consulta de pré-natal.

A ideia de ouvir o coração do bebê pela primeira vez lhe causava ansiedade e medo em partes iguais. Vestiu-se com cuidado, escolheu roupas largas e discretas, e saiu cedo. Não queria atrasos. Não queria surpresas.

A clínica era menor, acolhedora, muito diferente da Vitta+. O cheiro de limpeza misturado com lavanda trouxe um alívio imediato. Quando a médica iniciou o exame, Patrícia segurou o fôlego.

E então ouviu.

Tum-tum. Tum-tum.

As lágrimas escorreram sem que ela percebesse.

— Está tudo perfeito — disse a médica, sorrindo. — Forte, saudável.

Patrícia levou a mão à boca, tentando conter o choro.

— Obrigada — sussurrou, sentindo algo finalmente se encaixar dentro dela.

Não era mais apenas medo.

Era vínculo.

Ao sair da clínica, o celular vibrou. Uma mensagem de Enzo.

“Você está bem? Pensei em você hoje.”

Ela fechou os olhos por um instante antes de responder.

“Estou. Obrigada por se importar.”

Minutos depois, outra mensagem.

“Posso te ver hoje à noite?”

O coração dela apertou. Cada encontro tornava tudo mais perigoso. Mas negar também parecia impossível.

“Talvez. Depois falo com você.”

Ela guardou o celular e respirou fundo.

No fim da tarde, Patrícia decidiu caminhar um pouco antes de voltar para casa. Precisava organizar os pensamentos. Foi até uma praça tranquila, sentou-se em um banco e ficou observando as crianças brincarem. Risinhos. Passos apressados. Mães chamando nomes.

Ela se perguntou se algum dia teria aquilo em paz.

— Patrícia?

Ela levantou o olhar.

Enzo estava ali.

Sem terno. Sem formalidade. Apenas ele, com um olhar preocupado e sincero.

— Eu disse que talvez — ela comentou, surpresa.

— Eu sei — ele respondeu. — Mas achei que talvez você precisasse de companhia.

Ela hesitou, mas assentiu com a cabeça. Ele sentou-se ao lado dela, mantendo uma distância respeitosa.

— Você parece diferente — ele disse. — Mais… firme.

— Eu estou aprendendo a ser — respondeu.

Ele sorriu de leve.

— Posso te fazer uma pergunta pessoal?

Ela pensou por um segundo.

— Depende.

— O bebê… o pai sabe?

O coração de Patrícia falhou uma batida.

— Não — respondeu, depois de um instante longo demais. — Não sabe.

Enzo assentiu lentamente.

— Seja quem for, ele perdeu algo precioso.

Ela sentiu o nó na garganta se formar.

— Nem sempre as coisas são simples — murmurou.

— Eu sei — ele respondeu, olhando para o horizonte. — Mas mentiras sempre cobram um preço. Mais cedo ou mais tarde.

Ela o encarou. Havia verdade demais naquela frase.

— Enzo… se você estivesse no meu lugar… — começou, mas parou.

Ele virou-se para ela.

— Eu lutaria. Pelo que importa. Mesmo que doesse.

As palavras ficaram entre eles como um aviso.

Quando se despediram, ele segurou a mão dela por um instante a mais do que o necessário.

— Eu não vou desaparecer — disse ele. — Só para você saber.

Ela assentiu, sentindo o peso daquela promessa.

Do outro lado da cidade, Bianca observava a tela do celular com os lábios comprimidos. As fotos recentes confirmavam o que ela temia.

Eles estavam se aproximando.

— Ela não vai recuar — murmurou, irritada.

Bianca fechou o aplicativo e fez uma ligação.

— Está na hora de abrir o jogo… mas do meu jeito.

Desligou com um sorriso frio.

A primeira fissura havia surgido.

E nenhuma mentira sobrevive intacta quando começa a rachar.

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