Mundo de ficçãoIniciar sessãoDeterminada e forte, Ária Silva tenta construir uma vida digna buscando o anonimato na fria Rússia, mas o destino é implacável e coloca sua irmã mais nova em cheque, forçando-a aceitar uma missão impossível: infiltrar-se na mansão do homem mais temido e enigmático da Rússia, o infame Yulian Volkov. Yulian, o líder da temida Máfia Russa, é um mestiço exótico e cruel, com olhos de gelo e cabelos de fogo. Ele não é apenas um criminoso poderoso; ele carrega a escuridão de uma antiga maldição familiar. Lutando para encontrar uma cura para acabar com seu fardo, enquanto ele precisa urgentemente de uma babá para sua filhinha a pequena e indomável, Rubi. Presa entre sua missão e a crescente e perigosa atração que sente por seu alvo, Ária se torna o anjo particular do mafioso amaldiçoado.
Ler maisA neve caía em flocos densos e cinzentos sobre São Petersburgo, mas, para Ária Silva, o frio da Rússia não era nada comparado ao gelo que ela carregava no peito. Ela só tinha 28 anos e já carregava em sua vida uma grande bagagem de um passado que, se fosse exposto, poderia incendiá-la e à única pessoa que ela amava no mundo. Fugir do Brasil havia sido a única maneira de cortar o cordão umbilical com a violência, o medo e o julgamento que as perseguiam desde que eram jovens.
Ao seu lado, a jovem Hanna mal completara 20 anos. Sua irmã era extrovertida, ousada e sonhava em cursar a faculdade de design. A mudança para a Rússia, com sua promessa de anonimato e recomeço, era a chance de Hanna florescer sem a sombra de um pai abusivo ou a sina de uma mãe desesperada.
Ainda na juventude, Ária assumiu o peso de ser a âncora, o farol seguro que sua irmã necessitava. Forte, determinada e incrivelmente gentil, ela havia se agarrado à chance de reconstruir a vida das duas. Seu esforço havia sido recompensado: ela finalmente conquistara o que considerava o emprego dos sonhos em uma grande empresa de arquitetura. O salário, somado ao trabalho de meio período de Hanna, garantiria os estudos da irmã e a paz de espírito que tanto almejavam.
Mas naquele dia, o dia da sua esperada promoção, o destino fez questão de lembrá-la, com crueldade, de que o inferno era, de fato, portátil.
O luxuoso tapete persa na sala de Joseph abafava seus passos, mas não o frenético pulsar em suas têmporas. Ária estava parada diante da imponente mesa de mogno, o cheiro de charuto caro e ambição pairando no ar.
- Sente-se, Ária - Joseph indicou, seu sorriso cínico, mal podia esconder o brilho gélido e calculista de seus olhos pequenos. Ele era o CEO, um homem de meia-idade com a barriga saliente de quem nunca recusava um excesso.
Ária sentou-se, as mãos firmes no colo, vestindo seu melhor blazer cor de carvão. Seu coração batia com expectativa.
-Obrigada, senhor. Estou ansiosa para saber sobre a vaga de coordenadora de projetos.
Joseph pegou um copo de whisky na bandeja de cristal e o girou, avaliando-a com um olhar que a fez sentir a pele pinicar.
- Coordenadora de projetos? - Ele riu, uma risada curta e seca que a fez congelar. - Minha querida, a vaga que eu tenho em mente para você é muito mais... íntima. Você tem potencial para ser minha secretária pessoal.
O ar pareceu rarear. Ária piscou, a testa franzida.
-Secretária pessoal? Eu me candidatei a uma função técnica, senhor.
- E você é muito qualificada para ela. Mas veja bem - ele se inclinou na mesa, baixando a voz para um sussurro que era mais ameaçador do que qualquer grito - Eu sou um homem influente. Eu lido com homens grandes, com contratos que valem milhões. Eu preciso de uma mulher que entenda que, para fechar o negócio, às vezes, a discrição e a... proatividade são vitais.
Ária inclinou-se para trás, a determinação em seus olhos castanhos esverdeados endurecendo.
- Não estou entendendo a que tipo de ‘proatividade’ o senhor se refere.
Joseph sorriu, revelando um dente de ouro na lateral.
- Não se faça de ingênua, senhorita Silva. Você é linda. Exótica. Os olhos desses velhos lobos do mercado brilham por uma mulher como você. Eu quero você ao meu lado em todas as reuniões. E se um cliente quiser mais do que uma taça de champanhe e um aperto de mão, você não vai me decepcionar. É um preço pequeno a pagar pelo emprego dos seus sonhos, não acha?
O sangue de Ária ferveu, apagando qualquer medo. Ela era gentil, mas a violência de seu passado havia moldado nela uma defesa de aço.
- Eu recuso - a voz dela saiu baixa, mas firme. - Eu sou uma profissional, senhor. Não sou uma... uma garota de programa para seus clientes.
O sorriso de Joseph se desfez. Seu rosto inchou de fúria, e ele bateu o copo na mesa com tanta força que o cristal estalou.
- Você recusa? Garota, você sabe quem eu sou? Você está brincando com o seu futuro! Ele se levantou, caminhando ao redor da mesa até ficar perigosamente perto dela. - Olhe para mim. Eu lhe ofereço o mundo, e você me ofende. Não vai ser assim. Não vai mesmo.
Ele fez um escândalo, elevando a voz para que pudesse ser ouvido pela secretária que esperava na antessala.
- Você! Sua vagabunda ingrata! Você veio até aqui, se ofereceu para o que fosse preciso pela vaga, e agora que sou homem casado, me dá um fora e quer se fazer de vítima? Eu te dou uma chance e você tenta me chantagear? Saia da minha sala!
A humilhação, a injustiça e o fantasma das acusações que sua mãe havia sofrido explodiram nela. Aquele foi o ponto de ruptura. Ela não aguentou. Não recuou. Ela era a Ária Silva, e não seria mais uma vítima.
Em um movimento rápido e instintivo, a mão direita de Ária se fechou em punho. O som do tapa estalou no silêncio da sala, ecoando alto e final. Joseph cambaleou, a marca vermelha de seus cinco dedos instantânea em sua bochecha.
Ária se levantou, a respiração ofegante, mas o olhar fixo nele era de um desprezo gelado e cortante. Ela era, naquele instante, uma força da natureza.
- O senhor é um porco nojento, e eu tenho nojo de ter trabalhado um dia sequer para a sua empresa!
Ela se virou para sair, mas a voz de Joseph, agora um rosnado frio, a parou.
- Saia, mas saiba de uma coisa, brasileira estúpida. Eu sou Joseph Melman. Você nunca mais conseguirá outro emprego nesta cidade, ou em qualquer outra que eu possa alcançar. Eu sou casado, tenho reputação. Você é uma imigrante sem nada. Quem você acha que eles vão acreditar? Você está acabada. Destruída!
Ária parou na porta, girou apenas a cabeça, e cuspiu a palavra final com a força de todo o seu passado.
- Vá para o inferno!
O frio da noite russa envolveu Ária enquanto ela caminhava pelas ruas, lágrimas de fúria e frustração congelando em suas bochechas. O emprego dos sonhos, sua tábua de salvação, havia se dissolvido em um pesadelo.
Ela tirou o telefone da bolsa para ligar para Hanna, sentindo a necessidade urgente de ouvir a voz doce da irmã. Mas, antes que pudesse discar, o aparelho tocou. Era Hanna.
- Hanna, eu não... - ela começou, mas a voz do outro lado não era a da sua irmã. Era grave, masculina e destituída de qualquer emoção.
- Não é a sua querida irmã.
O sangue gelou nas veias de Ária. Ela apertou o telefone contra a orelha, o mundo exterior desaparecendo.
- Quem é? Onde está Hanna? O que fez com ela? - Sua voz mal era um sussurro.
- Não faça perguntas estúpidas. Apenas escute. Se você quiser ver sua irmã viva novamente, você fará exatamente o que eu mandar. Entendeu?
Ária parou, o corpo inteiro tremendo, mas sua mente, treinada pela sobrevivência, permaneceu alerta.
- Eu entendi. O que você quer?
- Não chame a polícia. Se eu souber que você sequer pensou nisso, a coisinha ousada vai sofrer. Vá agora para o endereço que eu vou mandar por mensagem. Você tem dez minutos.
A ligação foi cortada. A mensagem chegou um segundo depois. Era um endereço em um bairro industrial abandonado, longe de tudo. O pânico era uma onda nauseante, mas Ária o empurrou para baixo. Hanna estava em perigo. Ela tinha que ir.
O táxi a deixou em uma rua escura e deserta. Havia apenas um armazém imponente, cujas janelas quebradas pareciam olhos vazios. Ária desceu, o ar pesado de medo e ferrugem.
A porta lateral do armazém estava entreaberta. Ela respirou fundo, forçando a determinação a sobrepor o terror, e entrou.
O cheiro era de poeira e metal, mas o que dominou sua atenção estava no centro do piso de concreto.
Hanna estava lá. Ajoelhada, as mãos amarradas firmemente atrás das costas. Seu rosto estava coberto de lágrimas, e havia um pequeno corte sangrando em sua testa. Ela estava viva, mas o terror em seus olhos era palpável.
Ao lado de Hanna, estava o homem.
Ele era o epítome do perigo. Alto, forte, de constituição robusta e inabalável. Seus cabelos eram pretos como a noite, e seus olhos, igualmente pretos, pareciam absorver toda a luz do local. Seu nariz aquilino acentuava a severidade de seu rosto. Ele não era apenas bonito; ele era perigosíssimo, e Ária soube disso no instante em que seus olhos se encontraram. Este homem exalava poder bruto e crueldade fria.
- Hanna!
Os dias seguintes à ameaça de Yulian no porão foram de silêncio tenso. Yulian a observava de longe, dando tempo para que o medo e o aviso se instalassem. Mas o que ele viu foi apenas Ária investindo na felicidade de Rubi: a mansão, antes um mausoléu, agora ostentava toques de cores no quarto da menina e na sala de brinquedos, um refúgio da escuridão dos Volkov.Yulian havia proposto o jantar como um pedido de desculpas, por ter exagerado com uma civil comum, mas ele não entendia por que agira de forma tão ao avesso do que pretendia.Naquela manhã, Yulian estava em uma reunião crucial em seu escritório. O ambiente era de alta diplomacia e poder, com dois chefes de facções menores da Máfia Russa sentados à sua frente. Yulian exalava autoridade gélida, e a negociação fluía exatamente como ele planejava.No entanto,
Ária sentiu o rubor subir por seu pescoço.— Eu não sou um quebra-cabeça, senhor Volkov. Muito menos um brinquedo. E creio que já tenha deixado claro que não devo me apaixonar e me, ter segundas intenções.— Ah, sim. É verdade. Mas você me intriga. Eu sei que você tem escondido algo de mim — Ele moveu a mão sobre a mesa, parando a centímetros da mão dela. — Mas eu permiti que você fosse uma mulher livre para o que desejasse está noite. Eu consigo ver que você também está me olhando com um desejo proibido, devochka. Admita. Mesmo depois do que viu no porão, você ainda me deseja. Eu sinto.Ária sentiu o calor. Não era apenas o desejo; era a raiva, o medo e a atração perigosamente misturados. Yulian era um predador, um assassino cruel, mas ele também era um homem absu
O que se seguiu foi um espetáculo de horror calculado. Yulian não estava torturando para extrair informações; ele estava executando uma punição metódica e agonizante em Julius. Yulian estava esfolando Julius vivo, removendo a pele em longas tiras, numa demonstração cirúrgica de crueldade extrema.O grito abafado pela mordaça do homem era dilacerante. O ar ficou espesso com o cheiro ferroso e quente do sangue fresco e da agonia. Ária foi forçada a assistir.O trauma, a visão do sofrimento indescritível e a crueldade gélida de Yulian foram demais. O estômago de Ária se contraiu violentamente. Ela tentou recuar, mas os homens atras dela a prenderam no lugar.Ela cambaleou, o corpo tremendo, e vomitou violentamente no chão frio do porão, a visão do horror limpando qualquer resquício de controle em seu corpo.
Mais tarde, naquela noite, enquanto estava deitada na cama do quarto de hóspedes, ela ouviu seu celular vibrar. Não era um número conhecido.Ela atendeu, a voz baixa.— Alô?— Parece que você conseguiu o trabalho com o Volkov. — A voz era do homem que ameaçava sua irmã, como sempre ignorante, debochado e cheia de escárnio.O coração de Ária parou.— Você? Como...— Como eu sei? Eu sei tudo, golubka( pombinha). Não te mandei aí para se divertir, Ária. Estou cansado da sua lentidão. Estou cansado de ter sua irmãzinha chorando por você na minha orelha.O medo de Ária por Hanna era um ácido.—Você falou que iria libertar ela.-Você demorou tanto que ela veio me procurar para te livrar da dívida dela.- Ela está bem?
Yulian desceu as escadas para o quarto de brincadeiras da pequena, a mente ainda focada no modus operandi da intimidação que faria com Ária Silva. Ele precisava pensar em como faria isso e como faria para afastar Rubi dela.Mas assim que ele chegou no meio da escada, um vulto azul o fez congelar. Ele parou e seu olhar travou na figura da filha no centro do quarto, rindo e pulando com Ária. Rubi Volkov, sua filha estava vestindo azul claro.A visão o atingiu como um insulto pessoal. O azul não era apenas uma cor, era um símbolo de fraqueza, de inocência desnecessária e uma afronta direta ao legado de luto carregado por sua maldição e poder.Afinal, eles eram os líderes da Rússia. Uma máfia que mandava e desmandava em toda a Rússia, e que tinha seus negócios escusos por todo o mundo.— O que é isso? — Yulian não rugiu; ele
Ária estava igualmente chocada com a mudança brusca. Ele havia passado de um monstro rugindo para um predador hesitante, inalando seu perfume como se fosse uma droga.— Meu... Cheiro? Eu... eu não entendo... Não sei do que você está falando — Ária sussurrou, o coração batendo violentamente, o medo agora misturado com uma atração perigosa e a esperança de que aquilo fosse uma fraqueza dele.Yulian se afastou bruscamente, como se tivesse levado um choque. Ele estava pálido. O efeito era perigoso. Seus olhos cinzentos demonstravam apreensão e medo, medo do que ele não podia controlar.— Isso acabou. Saia. Agora.— Mas o emprego... Você está me demitindo? — Ária insistiu, usando o momento de fraqueza dele para sondar, preocupada.Yulian fechou os olhos e massageou a ponte do nariz, o estresse do confl
Último capítulo