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Capitulo 3 – O Peso da Sobrevivência

Ele deu um passo lento em sua direção, e o chão parecia tremer.

— Você está bem? — A voz dele era grave e rouca, com um sotaque russo profundo, e ressoou em sua espinha como um comando, uma carícia perigosa. — Você está ferida? — A voz dele era agora mais controlada, parecia ainda mais rouca e sensual.

— Não... eu... — Ária gaguejou, incapaz de desviar o olhar do brilho ameaçador dos olhos cinzentos.

A atração era instantânea, uma corrente elétrica que ignorava o perigo. Ela a fez esquecer de tudo, o sequestro, o desemprego, o mundo em ruínas. Era irracional.

Ele deu um passo em direção a ela, e Ária recuou instintivamente, mas seus instintos estavam confusos, gritando em direções opostas. Metade dela gritava para fugir do perigo; a outra, para se aproximar da beleza incomum e proibida.

Ele parou, o olhar cinzento vasculhando seu rosto. Por um momento, ele pareceu prestes a tocá-la, mas hesitou, a mão enluvada pairando no ar.

— Da próxima vez, não ande sozinha à noite. Esta cidade... não é para os fracos.

— Eu não sou fraca — Ária rebateu, a voz ganhando firmeza.

Um sorriso de escárnio, rápido e quase imperceptível, cruzou o rosto dele.

— Que seja. Não se meta em problemas de novo.

Ele se virou, a capa escura esvoaçando com o movimento, e desapareceu na mesma escuridão da qual havia surgido, sem sequer perguntar seu nome. Ária ficou ali, tocando o lugar onde ele havia estado, sentindo o calor residual e o aroma sutil de cedro e lavanda que ele havia deixado para trás.

Ela não sabia quem ele era. Sabia apenas que o homem que a havia salvo, havia acendido nela uma chama proibida.

Dois dias se passaram na escuridão, sem Hanna.

Ária mal dormira, obcecada pela imagem da irmã e pela missão impossível. Ela estava agora em um táxi, o endereço de Yulian Volkov queimando em suas mãos, e os pensamentos em um turbilhão caótico.

Seu olhar estava fixo no reflexo da janela. A imagem da mulher forte, com os cabelos marsala caindo em ondas pelas costas e os olhos castanhos esverdeados, desmentia a fragilidade interior. Ela se forçou a lembrar quem era e por que estava fazendo aquilo.

Desde muito jovem, Ária havia se tornado a inabalável âncora de que sua irmã precisava. Hanna e ela nunca tiveram amigos; na verdade, eram evitadas. Em sua cidade natal no Brasil, todos as viam apenas como as filhas do bêbado e da prostituta. A mudança constante de cidade e até de país provou que a sina as perseguia.

O inferno delas havia começado com o pai, um homem que as espancava, assim como a esposa. Ele as vendeu para agiotas por causa de sua dívida com drogas antes de fugir, deixando a esposa e as filhas para arcarem com a situação que ele criou. A mãe, desesperada e sem recursos, foi forçada a se prostituir para sustentar Ária e Hanna, ainda crianças. A dignidade de sua mãe se desfez até que ela não aguentou mais.

A mãe adoeceu rapidamente com uma doença necrosante e que, em poucos meses, a levou, deixando Ária, aos doze anos, com o peso de Hanna e a vergonha de um passado inconfessável.

O dinheiro para fugir para a Rússia não havia caído do céu. Ária fechou os olhos, o nó em sua garganta se apertando. Ela havia feito o sacrifício final para garantir a liberdade de Hanna: vendeu sua virgindade a um velho rico. Era por isso que odiava pensar em seu passado, odiava reviver a dor de sua mãe e a sua própria. Ela precisava manter a Rússia como um recomeço intocável.

Yulian Volkov. O nome a puxou de volta ao presente. Ela tinha que manter o foco. O medo de falhar a impedia de sucumbir à náusea. A irmã dela dependia disso.

O táxi parou em frente a um portão de ferro forjado que parecia a entrada de uma prisão de luxo. A segurança era intensa, e o endereço em suas mãos era, inquestionavelmente, a mansão do mafioso russo.

A arquitetura era grandiosa, fria e esmagadora. A própria mansão parecia feita de gelo e poder. Ária foi conduzida por corredores silenciosos, observando. Todos, absolutamente todos, vestiam preto. Os empregados, os seguranças, a própria casa.

Ela foi levada a um escritório vasto, com paredes de madeira escura e janelas que ofereciam uma vista panorâmica, mas sombria, da cidade. No centro da sala, atrás de uma mesa maciça, estava ele.

O ar lhe escapou dos pulmões. Era o homem da rua. O homem que a salvara dois dias antes. Yulian Volkov.

Ela foi levada a um escritório vasto, com paredes de madeira escura e janelas que ofereciam uma vista panorâmica, mas sombria, da cidade. No centro da sala, atrás de uma mesa maciça, estava ele.

O ar lhe escapou dos pulmões. Era o homem da rua. O homem que a salvara dois dias antes. Yulian Volkov, era o lindo homem que havia animado seus sonhos nos últimos dois dias.

Ele era ainda mais lindo e perigoso de perto. Seu cabelo vermelho era de um tom profundo e escuro, emoldurando o rosto de traços fortes e a pele bronzeada que contrastava com os olhos cinzentos de pura indiferença e cálculo.

A atração foi um golpe físico, instantâneo. O corpo de Ária reagiu instintivamente ao perigo e ao desejo. O coração dela acelerou, a missão do captor de sua irmã e o medo de Hanna colidindo diretamente com o mafioso viúvo que mexia com seu interior de uma forma que ela jamais imaginou.

Yulian a avaliou com o mesmo olhar frio de dois dias atrás. Mas havia algo mais: um reconhecimento sutil, quase um tremor, que passou por seus olhos cinzentos antes de ele o extinguir com a frieza de um inverno russo. Ele a havia memorizado não apenas pelo rosto, mas pelo perfume sutil de lavanda que ela usava, e a luta interior para manter o controle era evidente em sua mandíbula tensa. O reconhecimento era mútuo, e por um breve instante, ambos lutaram para ocultar a intensidade daquela primeira faísca proibida.

Yulian se recostou na cadeira, a voz baixa e fria, como se falasse com um subordinado insignificante.

— Você deve ser Ária Silva — A voz dele era controlada, quase um tédio.

— S-sim, S-senhor Volkov — Ária gaguejou, o nervosismo a traindo. Ela forçou o contato visual, mas o poder dele a obrigava a desviar.

— Eu a contratei, Srta. Silva, porque sua ficha é limpa o suficiente e, francamente, estou farto de audições. Mas pensando bem, não. Você está demitida. Encontre Ramon para receber um pagamento de um dia e vá embora.

Ária, que estava preparada para gaguejar se ele tocasse em sua história, permaneceu firme. A ameaça de perder a única chance de salvar Hanna aniquilou qualquer fraqueza.

— Eu peço que o senhor, por favor repense — Ária rebateu, a voz clara e sem o menor sinal de hesitação. — Eu sou forte, estou qualificada e estou disposta a seguir todas as suas regras. Eu não sou como as outras.

Yulian franziu o cenho, surpreso com a assertividade dela e a ausência do pânico que ele esperava.

— Não se iluda. Aquela noite na rua... aquilo foi um encontro programado, orquestrado. Eu me certifico de que as pessoas que eu contrato tenham esse tipo de... experiência.

Ele mentiu descaradamente e Ária sacudiu a cabeça, o olhar desafiador fixo no dele.

— Eu estava indo para casa. Não houve nada de programado. Eu estava apenas no lugar errado, na hora errada, quando você decidiu me salvar.

Yulian a observou com tanta intensidade que o calor daquele olhar invadiu Ária, fazendo o seu corpo esquentar sob o tecido fino da roupa. Ela se controlou para não se abanar, afinal, precisava desesperadamente desse emprego.

Nesse momento Ária notou que ele não estava sozinho. Dois lobos gigantes estavam deitados calmamente aos seus pés, um de pelo branco como a neve e outro de pelo preto como a noite. Os olhos amarelos dos animais estavam fixos nela, o que só aumentou sua dificuldade de falar.

Yulian ignorou sua reação, completamente natural a se ver cara a cara com dois belíssimos animais, como os dele, e com um suspiro ele resolveu ser profissional, seus olhos fixos nos de Ária.

— Me diga, Sra. Silva. Qual a sua motivação para aceitar um emprego como este?

— Eu... eu preciso muito do emprego. Sou muito boa com crianças — ela respondeu, tentando manter a voz firme, mas a verdade a sufocava.

— E sua família? Seus antecedentes?

— M-minha família é pequena. Só tenho... uma irmã. Viemos para a Rússia em busca de melhores oportunidades.

O olhar de Yulian se intensificou, a desconfiança piscando nos olhos cinzentos. Ele sabia que ela estava omitindo ou mentindo alguma coisa, notando a gagueira no momento em que ela tocou no assunto familiar. Percebendo que havia algo que ela não desejava falar. E se tinha algo que ele compreendia, era que existiam, famílias e famílias.

Antes que ele pudesse pressionar mais, uma pequena porta se abriu.

— Papai!

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