Capitulo 4 – Regras

A pequena Rubi Volkov, de apenas três anos, entrou na sala. Ela era ruiva, com os mesmos olhos cinzentos do pai, mas a pele era clara, possivelmente da mãe. E assim como todos da mansão, ela também vestia preto, como todos na mansão.

Yulian a pegou no colo com uma ternura que contrastava brutalmente com sua frieza.

— Rubi. Esta é a Srta. Silva. Ela gostaria de cuidar de você.

A pequena e fofa Rubi encarou Ária, seu rosto, embora fofo, se contorceu em uma expressão de puro desprezo e malícia. Ela olhou para Ária como se olhasse para um verme que acabara de rastejar para debaixo de seu sapato.

Ária sentiu o golpe, mas não vacilou. Ela sorriu para a criança, mantendo a gentileza determinada.

— Olá, Rubi — Ária se ajoelhou, ficando na altura da criança, oferecendo um sorriso sincero, mas sem um pingo de fragilidade. — Eu sou Ária, e espero que a gente se dê bem.

Yulian percebeu a falta de reação de Rubi e uma ruga se formou em sua testa. Ele se levantou, pondo Rubi no chão.

— Vou deixá-las a sós por dez minutos. Rubi, seja educada.

— Sim, Papai. — A menina sorriu docemente, com seu rostinho angelical, numa doçura calculada. Assim que a porta do escritório se fechou, e a babá ficou sozinha com ela, o sorriso se desfez, e Rubi mostrou suas garrinhas. Sua inocência era uma máscara.

— Eu odeio você. Você é a décima babá. Todas elas choraram e fugiram. Você também vai. Eu garanto.

— Entendo que você não gosta de babás, Rubi — Ária se ajeitou sobre os joelhos, mantendo-se na altura da criança, e seu sorriso permaneceu firme, inabalável. — Mas eu não sou como as outras. Eu sou forte, e você não vai me assustar tão facilmente.

O choque cruzou o rosto de Rubi. A babá não havia chorado, gritado ou saído correndo gritando que ela era um pequeno monstro. Em vez disso, ela a encarava com uma calma determinada que a criança jamais havia presenciado.

— Você não vai durar aqui. Eu sou má.

— Você é uma menininha esperta, Rubi. E eu sou mais determinada do que você imagina. Não vou desistir.

Rubi franziu a testa, depois soltou um sorriso malicioso.

— Veremos — ela sibilou.

A porta se abriu e Yulian retornou, com os olhos fixos na expressão neutra de Ária.

— E então, Rubi? A Srta. Silva a agrada?

Rubi pulou nos braços do pai e o abraçou.

— Sim, Papai. Eu gosto dela — A mentira foi entregue com uma doçura que fez Yulian desconfiar, mas ele aceitou.

Ele dispensou Rubi, entregando-a a um segurança que a levou para fora, acompanhada dos lobos. Yulian então se recostou em sua cadeira, a expressão voltando a ser de puro gelo.

— Parabéns, Sra. Silva. Você tem a vaga. Agora, vamos às regras.

Yulian se inclinou, os olhos cinzentos faiscando com um aviso claro e perigoso.

— Primeiro: Você não pergunta sobre meu trabalho, meus negócios ou minhas viagens. Você não existe.

— Segundo: Você não se mete. Se vir algo, você não viu. Se ouvir algo, você não ouviu. Lembre-se da sabedoria dos três macacos.

— Terceiro: Você se limita à ala de Rubi e ao seu quarto. Fora isso, você não tem permissão para entrar principalmente no meu quarto, no meu escritório, e sob hipótese alguma, no quarto no final do corredor. É estritamente proibido.

Ária sentiu um calafrio ao ouvir a última regra. Um quarto no final do corredor...

— Quarto: Você não se apega. Não a mim. Não a Rubi. Você está aqui para um trabalho, apenas.

— Quinto: Você não me desobedece. Desobediência é demissão. E a demissão terá consequências ruins para você e para quem você ama. — Ele a ameaçou, com os olhos cinzentos fixos nela, sem sequer piscar.

— Sexto: Tudo o que você precisar, você falará com Ramon. Ele é meu mordomo. Você fará um relatório diário detalhado para ele sobre o comportamento de Rubi, para que ele o passe para mim.

Ele fez uma pausa, o silêncio preenchendo o ar com tensão sexual e perigo.

— E a regra mais importante, Sra. Silva: Não se apaixone por mim. Eu sou um monstro.

A última regra fez o corpo de Ária vibrar. Ela não conseguiu evitar a gagueira ao responder a essa última afronta.

— E-entendido, S-senhor Volkov.

Yulian se levantou e caminhou até uma mesa lateral, pegando um embrulho preto.

— Seu uniforme. Você o vestirá todos os dias.

O homem que a salvara na rua agora a aprisionava em um uniforme preto, dentro de sua fortaleza de gelo.

No momento exato em que a porta do escritório se fechou, silenciando os passos apressados de Ária no corredor, o gelo que envolvia Yulian Volkov trincou. Não apenas trincou, ele se estilhaçou.

Ele não se moveu da cadeira de couro maciço, mas a tensão que emanava dele era quase visível, um campo de força opressivo e predador. Sua mente, geralmente uma máquina de cálculo fria, estava em turbulência. A audácia da mulher, sua negação em aceitar a demissão, e aquela faísca incandescente que o atingira duas vezes... era perturbador. Ele havia tentado demiti-la, mas a voz dela, firme e sem o menor sinal de submissão, havia soado como um desafio, e ele não suportava ser desafiado, especialmente por alguém que o fazia sentir calor onde deveria sentir apenas indiferença.

Aquele cheiro de lavanda e determinação era uma maldição disfarçada.

Seus olhos cinzentos, agora despidos de qualquer traço de tédio, incendiados pela desconfiança e por algo que ele se recusava a nomear, encontraram os do homem parado à porta, Ramon. A gagueira dela ao falar da irmã era o ponto fraco. E Yulian sabia que onde havia um segredo familiar, havia um risco. Ele precisava saber o risco exato que ela representava para sua filha e para seu império, e precisava saber agora.

Então, ele disparou a ordem:

— Ramon — a voz de Yulian era baixa e cortante.

O mordomo, alto, magro e tão frio quanto o líder da máfia, inclinou a cabeça, a personificação da discrição em seu terno preto imaculado.

— Sim, Gospodin Volkov.

— Quero todos os detalhes. Cada migalha de informação sobre Ária Silva. Antecedentes, por que ela está na Rússia, o que fazia, com quem falava. Quero saber de onde ela veio, se tem ligações com quem não devia. Absolutamente tudo, Ramon. E quero isso na minha mesa antes que o sol nasça amanhã.

— Será feito — Ramon respondeu, sem hesitar. — Devo acompanhá-la aos seus aposentos, Gospodin?

— Sim. Certifique-se de que ela se lembre dos limites. E certifique-se de que ela saiba que não está aqui para passear. É a babá da minha filha, nada mais.

Ramon assentiu e saiu silenciosamente, a sombra fria da lealdade de Yulian.

Ária, por sua vez, foi conduzida por Ramon ao que seria seu novo cárcere de luxo. O quarto era grande, com uma vista impressionante para os jardins bem cuidados, mas parecia tão frio e impessoal quanto o resto da mansão. A cama de dossel, embora suntuosa, não prometia conforto, apenas isolamento. Ramon lhe entregou uma pilha de roupas: o uniforme preto.

— Estes são os seus uniformes, Srta. Silva. São de uso obrigatório na mansão. Se precisar de algo, comunique-se exclusivamente comigo. Não perturbe Gospodin Volkov.

- Gospodin Volkov? - Ária questionou

- Gospodin, significa em sua língua, Mestre ou senhor, em russo).

Ramon explica, se retirando, deixando Ária sozinha com o peso esmagador da missão.

Ária despiu as roupas que usava e vestiu a primeira peça do uniforme: uma camisa social de seda preta de corte impecável e uma saia lápis que caía logo acima do joelho, justa o suficiente para realçar as curvas que ela preferia manter escondidas. O preto, o luto da máfia, parecia um manto fúnebre em sua pele.

O espelho lhe devolveu a imagem de uma espiã infiltrada, uma guerreira forçada a usar a máscara de babá, que escondia uma missão de vida ou morte.

Ela se sentou na beira da cama, perdida no turbilhão de pensamentos. A imagem de Hanna, contorcida em pânico, era um farol.

Eu te salvo, custe o que custar.

Depois, seu pensamento deslizou perigosamente para Yulian. O salvador da rua... O mafioso que a ameaçava... O homem que havia despertado nela uma atração primitiva e pecaminosa que ela não podia se dar ao luxo de sentir. Ele era a personificação das regras que ele mesmo havia imposto: proibido, perigoso, monstro. Mas a imagem dele, imponente e lindo, era o único fogo que poderia, por um instante, queimar o gelo de seu medo.

Ela pensou em seu passado, nas sombras que as perseguiam. A vergonha de ser a filha do bêbado que as vendeu e do sacrifício de sua mãe, que a levou a se prostituir e morrer de forma dolorosa. Elas não tinham como pagar a dívida impagável do pai e, se ficassem no Brasil, Ária e Hanna jamais teriam paz. Essa realidade cruel a forçou ao sacrifício final: o peso esmagador de ter vendido a própria virgindade para conseguir o dinheiro para fugir do Brasil e iniciar uma nova vida na Rússia. Depois de tudo, ela não podia se dar ao luxo de ter desejos.

A mansão era uma armadilha, mas era a única chance de salvar a irmã. Ela respirou fundo, tentando acalmar o coração que já pulsava pelo ritmo proibido.

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