Mundo de ficçãoIniciar sessãoÁria o observou. A fúria dele era palpável, uma onda de calor e perigo que a atingia em cheio. Ela tentou se defender, mas, em um breve instante, quando ele sibilou as últimas palavras, a alucinação gélida veio: os olhos cinzentos dele brilharam com um fulgor dourado e selvagem, e os dentes caninos pareceram pontudos e alongados, como os de um predador no momento do abate. O vislumbre animalesco durou apenas um segundo, mas foi o suficiente para fazê-la recuar, engolindo em seco.
Mas como ele voltou ao normal, ela achou ter sido apenas impressão dela.Yulian se virou, dando as costas, indo em direção ao corredor, claramente encerrando a discussão com o gesto supremo de desprezo.
— Você está demitida! Pegue suas coisas e saia!
Mas Ária estava igualmente furiosa, e a injustiça a queimava, superando o medo. Ela não podia ser demitida. Perder este emprego significava perder Hanna e abandonar Rubi a própria sorte.
— Não! Você vai me escutar! — ela correu atrás dele, a adrenalina apagando a prudência, seguindo-o pela porta que ele acabara de atravessar.
Ela só percebeu o erro fatal quando já estava dentro. O quarto era enorme e austero, mas o cheiro era inconfundível: cedro, gelo, e o aroma intoxicante e másculo de Yulian. Ele estava na metade do caminho para um closet, e acabara de arrancar a camisa, revelando um torso incrivelmente esculpido, coberto por músculos tensos e bronzeados que pareciam pecados à luz fraca do entardecer. A pele quente e o desenho perfeito de seu corpo eram uma distração visual brutal.
Ária congelou. O quarto dele. O último e mais sagrado território de Yulian. Em poucas horas de desespero, ela havia quebrado a Terceira Regra (a fuga para o parque), a Quinta Regra (a desobediência direta ao ser demitida), e agora, por estar ali, vendo-o nu, sentindo sua fúria ruir, sendo substituída pelo desejo reprimido, estava a um passo de quebrar a Quarta (não se apaixonar). O peso daquelas regras, e as consequências delas, esmagavam sua missão e o futuro de Hanna.
Yulian se virou devagar, um sorriso frio, predador e sedutor, cruzando seu rosto. A fúria havia sido substituída por um cálculo frio.
— Você é muito persistente, moy angel (meu anjo) — ele disse, a voz rouca, o sotaque acentuado, explorando o pavor dela. — E muito burra. Isso é o meu quarto.
— E-eu... — Ária gaguejou, o olhar fixo no peitoral dele, a atração e o medo a sufocando em partes iguais. Ela sentiu o rubor subir até o rosto, enquanto sentia seu corpo pulsar ansioso.
Ele caminhou em direção a ela, a passos lentos, exalando poder.
— Você não me desobedece, devochka (menina). Desobediência é o fim. E é o fim de quem você ama. — Ele a ameaçava com o olhar, mas o movimento era de um predador farejando. — Você é bonita demais para ser apenas uma babá. O que você quer? Dinheiro? Fama? Foi o que as outras queriam.
Ele parou a centímetros dela, o calor do seu corpo seminu e poderoso a envolvendo, a diferença de temperatura da pele dele uma tortura sensual.
— Qual é o seu segredo, Ária Silva? Por que está tão desesperada por esta vaga?
Ele a tocou, um dedo frio deslizando pela sua mandíbula, elevando o queixo dela. Foi um toque sedutor, eletrizante, um flerte que era pura ameaça. O contacto durou apenas um segundo, mas deixou um rastro de fogo em seu corpo.
— Saiba que eu pego o que eu quero, devochka. Não seja ingênua. Se você está aqui para me seduzir... — Ele a puxou para mais perto, o cheiro de lavanda e perigo a invadindo.
Ária, determinada a não se quebrar, conseguiu se afastar com um tranco, lutando contra o desejo traiçoeiro.
— Eu não estou aqui para seduzir você! Eu só preciso do emprego!
Yulian riu, um som seco e cruel. Ele se virou para a mesa e pegou uma fotografia.
O sorriso se apagou do rosto de Ária. Era Hanna. A foto era recente, e sua irmã parecia aterrorizada. Hanna usava roupas largas para esconder suas feridas enquanto andava pelas ruas com compras nos braços. O choque a atingiu com a força de um soco.
— E quem é essa? Sua irmãzinha, certo? Conte-me sobre ela.
Ária estremeceu, o pânico tomando conta dela. O gaguejo veio instantaneamente, a muralha de força desmoronando.
— E-ela é Hanna. Minha... minha única f-família.
Yulian Volkov sorriu, mas o sorriso não alcançou seus olhos cinzentos. Ele sabia que havia encontrado a alavanca. Ele colocou a foto de Hanna de volta na mesa, o gesto lento e deliberado, como quem guarda uma arma carregada.
— Ela parece ter tido alguns problemas. O que ela fez?
— N-nada. Ela só... precisa de mim — Ária conseguiu dizer o mínimo, forçando-se a não revelar o sequestro, o agiota, ou a missão. Ela o olhou nos olhos, a gagueira sumindo ao retomar o controle, o instinto de proteção substituindo o pânico. — E eu só quero protegê-la.
Yulian a observou, notando com precisão fria que a gagueira desaparecia no exato momento em que ela falava de proteção. Ele aceitou a resposta, por enquanto.
Ele deu um passo, diminuindo a distância entre eles. O calor do seu corpo seminu e esculpido irradiava, e o cheiro de cedro e almíscar era quase sufocante.
— Diga-me então, o que a fez cometer uma insubordinação tão grave e colocar a minha filha em risco? Eu tenho inimigos esperando apenas um vacilo, Srta. Silva, e hoje você os deu de bandeja.
Yulian estendeu a mão novamente, desta vez deslizando-a da mandíbula de Ária para o seu pescoço, o polegar pressionando suavemente a artéria carótida, um gesto de domínio que era ao mesmo tempo letal e erótico. O toque sensual fazia a pele de Ária formigar, a atração traiçoeira colidindo com a ameaça de morte.
Ária respirou fundo, o medo de Hanna vencendo o desejo e o medo dele. Ela não podia se curvar. A verdade era sua única arma.
— Ela sofre bullying na escola! É chamada de aberração, de garota sem mãe! Eles a humilham por estar de luto! A professora não a defende por causa da influência da mãe daquele garoto! Eu fiz o que qualquer um com bom senso faria!
Yulian permaneceu em silêncio, o polegar ainda em seu pescoço, a frieza retornando à superfície, mas havia uma sombra profunda de consideração e fúria oculta em seus olhos cinzentos. A mão dele se afastou.
— Saia.
— Mas...
— Saia! — A voz era um comando, sem espaço para discussão. Ele se virou, dando as costas a ela.
Ária ficou parada. Seus pés estavam pregados ao chão, desafiando a ordem mais direta que Yulian já dera. Não iria sair. Ele tinha que ouvir a verdade, a justificação para o seu ato insano de rebeldia. Ela tinha um ponto; Rubi precisava dela, e ela havia agido por instinto protetor. Ária precisava desesperadamente do emprego, de cada segundo de proximidade com o líder da Bratva, e não sairia de lá assim tão fácil, não quando Hanna dependia da sua teimosia e Rubi de sua proteção.
— Eu só saio quando você disser que me ouviu — ela sussurrou, desafiadora, a voz baixa, mas a decisão mais forte que o mármore.
Yulian não se virou, mas um sorriso sutil e perigoso surgiu em seus lábios. Ela havia quebrado quase todas as regras. E ele... gostava disso. A teimosia dela era uma promessa de caos e prazer.
Neste momento de tensão erótica e desafio, a porta maciça do quarto se abriu sem bater. Ramon, o mordomo, estava parado no limiar, com uma pasta escura nas mãos. Ele ignorou o fato de seu patrão estar sem camisa e de a nova babá estar no quarto proibido.
— Gospodin Volkov. Perdoe a interrupção. O relatório que o senhor solicitou sobre a Srta. Silva. É urgente.
O sorriso de Yulian desapareceu e Ária arregalou os olhos. Seu predador mudou o foco.
— Entregue-o.
Ramon colocou a pasta na mesa. Yulian pegou os papéis, seus olhos escaneando rapidamente o texto. A expressão dele se tornou ainda mais gélida, se possível. Ele parou em um parágrafo que descrevia um processo judicial feio na Rússia.
— Joseph Melman. — Yulian leu o nome em voz baixa, a voz gélida. Ele olhou para Ária, e agora, a indiferença tinha se transformado em um cálculo perigoso e desconfiança absoluta. — Ramon, a babá-espiã não vai a lugar nenhum. Mande alguém vigiá-la. Ela dormirá no quarto de hóspedes por enquanto. Eu tenho uma longa leitura pela frente.
O destino de Ária Silva havia acabado de ser selado pelo passado inconfessável que ela tentava desesperadamente esconder, e Yulian agora tinha a prova de que ela era, sim, perigosa.
Uma mentira, mas uma prova.







