Capitulo 2 - Promessa de sangue

-Você está bem? - Ária correu alguns passos, mas parou abruptamente quando o homem fez um pequeno gesto com a mão.

Hanna moveu apenas o rosto, confirmando que estava fisicamente bem, mas implorando silenciosamente por socorro.

O homem falou, e sua voz era profunda e controlada, com um sotaque russo pesado.

- Não se aproxime.

Ele se moveu, puxando Hanna pelo cabelo para que ela ficasse de joelhos com mais firmeza. Ária engoliu um grito.

- O que você quer? Deixe minha irmã ir. O que ela fez?

O homem soltou o cabelo de Hanna com um empurrão, para um de seus vários homens, e se aproximou de Ária, a distância entre eles diminuindo a um nível insuportável de tensão.

- Sua irmã... ela é pequena e ousada demais para o próprio bem. Ela mexeu com algo que não devia. - Ele olhou para Hanna com puro desprezo. - Ela se envolveu com um homem que me deve muito, e agora, por causa dessa dívida, ele nos entregou a sua querida irmã.

Ele parou bem na frente de Ária. Ela podia sentir o calor de seu corpo. Ela se forçou a não recuar, a não mostrar a ele o terror que a consumia.

-Eu sou um homem de negócios. Eu não negocio com a polícia, nem com choros. Eu negócio com favores e dívidas. Se você quer a sua irmã viva, você fará o que eu quiser.

- O que você quer de mim? - Ária perguntou, sua voz trêmula, mas ainda desafiadora.

O homem sorriu, e o sorriso não alcançou seus olhos. Era frio e predatório.

- Você é uma estrangeira, Ária Silva. Com um passado desconhecido, que te torna uma pessoa invisível. E é exatamente disso que eu preciso. Eu tenho um rival. Um rival que precisa ser exposto, cujas fraquezas devem ser descobertas. E você será meus olhos e ouvidos.

Ele sussurrou o nome, e Ária sentiu o ar sair de seus pulmões.

- Você vai se infiltrar na mansão de Yulian Volkov.

Yulian Volkov. Ária sentiu o chão sumir sob seus pés. O nome era um sussurro de morte, a personificação do perigo. Ela havia sim ouvido os relatos apavorantes sobre o chefe da Máfia Russa, mas jamais imaginou estar tão perto de seu domínio.

- Eu não posso fazer isso. Eu sou... eu não sou espiã!

O homem acenou em direção a Hanna, que chorava silenciosamente.

- Ah, você pode, Ária. Você tem a motivação perfeita. Sabe o que Yulian Volkov está precisando desesperadamente? Uma babá para sua filha demoníaca de três anos. Você se encaixa perfeitamente. - Ele caminhou até uma mesa de metal e pegou um pedaço de papel. - Você vai até este endereço amanhã. Você vai conseguir essa vaga. E enquanto você estiver lá, você me contará tudo o que ele faz, com quem ele fala, quem ele encontra, onde ele guarda seus segredos. Cada detalhe. A qualquer custo.

Ele pegou um papel com um de seus homens e o jogou nos pés de Ária. Seus olhos negros a perfuraram.

- Se você falhar. Se você tentar me trair. Se você for pega. Sua irmã paga. E eu prometo, não será rápido. É um acordo, Ária. Sua vida por sua irmã.

Ária olhou para Hanna, para o rosto contorcido de pânico da irmã. O terror gelado deu lugar à fúria que ela herdara da sobrevivência. Sua forte determinação retornou com a força de um soco. Ela não havia sobrevivido ao inferno do pai para perder a única família que lhe restava para um mafioso desprezível.

- Eu aceito - Ária disse, a palavra saindo como uma promessa de sangue.

O homem sorriu, finalmente satisfeito.

— Ótimo. Vá agora. Sua irmãzinha fica comigo até que você pague a dívida, integralmente, com as informações que eu quero. Você tem até amanhã, ao meio-dia. Não se atrase. — Ele jogou um pedaço de papel com um endereço nos pés de Ária. — Consiga essa vaga, e não revele a Yulian Volkov que você tem um empregador. Ninguém deve saber que você trabalha para mim.

Ária apanhou o papel, o corpo tremendo, mas a alma em chamas. Ela olhou para Hanna uma última vez, e a promessa em seus olhos dizia: Eu te salvo, custe o que custar.

Ela se virou e saiu do armazém, com a missão impossível gravada a fogo em sua mente: infiltrar-se no covil do maior mafioso da Rússia para um homem que ela nem sequer sabia o nome.

A noite estava fria e silenciosa, a névoa úmida de São Petersburgo rastejava pelas ruas secundárias por onde Ária passava, voltando para o pequeno apartamento que dividia com Hanna. O endereço, queimando no fundo da sua bolsa, num bilhete de morte disfarçado de oportunidade. O tapa que ela dera em Joseph Melman mal arranhava a fúria que a possuía, mas a imagem de Hanna ajoelhada e chorando era o combustível que a movia.

O medo, no entanto, a tornava distraída.

Ela acabara de virar a esquina mal iluminada quando sentiu um puxão violento em seu braço. Um cheiro forte de álcool e suor velho invadiu suas narinas.

— Onde pensa que vai, gatinha? — A voz era rouca e pesada.

Ária cambaleou, o coração dando um salto triplo de adrenalina. Era um homem grande, mal-encarado, que a pressionava contra a parede de tijolos fria. O pânico era sufocante, mas a determinação que ela havia forjado desde a infância reagiu antes mesmo que ela pudesse pensar.

— Me solte! — ela sibilou, tentando girar o corpo para chutar.

O agressor riu, a respiração quente e nojenta em seu pescoço.

— É assim que eu gosto. Selvagem. Você não está com pressa. Vamos nos divertir um pouco.

Ele tentou apertar seu corpo, e Ária sentiu o terror se transformar em um ódio líquido. As memórias do pai, da violência doméstica, da impotência... Ela não seria uma vítima. Nunca mais. Ela deu uma cotovelada cega nas costelas do homem e gritou.

O som do seu grito mal havia morrido quando uma figura irrompeu da escuridão, rápida demais para ser apenas um homem.

O agressor foi arrancado de Ária com uma força brutal e inesperada, um grunhido de dor escapando de seus lábios ao ser atirado contra a parede de tijolos. Ária escorregou e caiu, apoiando-se nas mãos, ofegante. Seu corpo tremia não apenas pelo susto, mas pela súbita perda do contato físico que havia se tornado repulsivo. Ela observou a cena, paralisada e com o coração batendo descontroladamente.

Seu salvador estava parado onde o agressor estivera, alto, incrivelmente imponente, mesmo sob a penumbra úmida da viela. Ele vestia um longo sobretudo escuro que acentuava sua silhueta poderosa e animalesca. A luz fraca dos postes de rua lutava para definir seus contornos, mas revelava flashes de cabelos curtos e vermelhos que roçavam o colarinho alto e rígido.

Quando ele se virou lentamente, os olhos de Ária se prenderam nos dele. Eram cinzentos, de uma tonalidade tão clara que pareciam brilhar na escuridão, e Ária teve a sensação arrepiante de que eles tinham o poder de penetrar não apenas seus medos, mas cada fibra oculta de seu ser.

Ele era um homem incrivelmente lindo, tão lindo que era quase pecaminoso. A beleza dele era selvagem, perigosa, e tão intensa que o coração de Ária quase saiu pela boca. Seu corpo inteiro se arrepiou, mas não de medo, e sim de uma eletricidade primitiva e inegável que quebrou sua determinação de anos em manter o foco. Era o desejo mais puro e intenso que ela já havia sentido, uma reação física e proibida àquele estranho, que parecia um deus pagão na escuridão. O ar entre eles ficou instantaneamente mais pesado, carregado de uma tensão sexual que prometia ruína.

Ele voltou sua atenção fria ao agressor. Ele não usava a força para bater; ele usava a autoridade. O agressor estava encolhido sob o olhar frio e assassino do desconhecido.

— Saia daqui, ou juro que vou garantir que você nunca mais use suas mãos imundas para tocar em alguém — a voz era profunda, com um sotaque russo acentuado e um tom que fazia o sangue gelar. Não era um aviso. Era uma afirmação clara de que iria cumprir com o que dizia.

O agressor, apavorado, não esperou duas vezes. Ele cambaleou e sumiu na escuridão.

O silêncio voltou, quebrado apenas pela respiração ofegante de Ária. Ela se levantou lentamente, sentindo a adrenalina recuar. Seus olhos castanhos esverdeados encontraram os olhos cinzentos do homem.

Ele era o homem mais lindo e exótico que ela já tinha visto. A pele dele, levemente bronzeada, contrastava com o cabelo vermelho vibrante. Ele parecia uma escultura viva, perigosamente atraente.

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