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Capitulo 5 – O segredo escondido de Rubi.

O sol da manhã mal havia rompido a névoa quando a missão de Ária começou.

Ramon, pontual e silencioso, a conduziu ao quarto de Rubi. O mordomo se mantinha sempre à vista, os olhos frios e vigilantes registrando cada movimento.

— A pequena acorda às sete, Srta. Silva. Gosta de ser mimada.

— Entendido, Ramon — Ária respondeu, a voz mais firme do que na entrevista.

O quarto de Rubi era um santuário de brinquedos, todos em tons escuros e sóbrios. Rubi estava enfiada sob as cobertas, parecendo um pequeno montículo vermelho e preto.

— Rubi, bom dia. É hora de acordar — Ária tentou a abordagem suave.

Nenhuma resposta.

— Rubi, se não levantar, vamos nos atrasar para a escola.

A resposta veio na forma de um sapato infantil lançado com surpreendente precisão na cabeça de Ária. Ela desviou por pouco.

Foi um inferno por três dias.

Rubi se recusava a sair da cama, atirava brinquedos, gritava que não gostava de Ária, e quando era obrigada a se levantar, berrava em russo. Ária tentava manter a calma, mas a frustração crescia. O uniforme preto, a vigilância de Ramon, o silêncio opressor da casa... tudo conspirava para que ela quebrasse. Ramon a observava com uma neutralidade que parecia julgamento. Ária, temendo perder o emprego e condenar Hanna, cedia, atrasando a ida à escola, tentando convencer a menina a comer algo no café da manhã que não fosse apenas chantilly.

Na terceira noite, enquanto Ária estava sozinha em seu quarto, exausta, seu celular tocou. O número era desconhecido.

— Olá, anjinho. Como está o seu progresso? — A voz do homem perigoso era fria e zombeteira.

Ária congelou.

— O que você quer?

— Quero saber por que minha pequena informante ainda não me deu nada. Você ainda está brincando de babá. Seu prazo está correndo, e sua irmã está me dando muito trabalho. Ela sente falta do seu marshmallow de café da manhã.

A ameaça sutil sobre a comida favorita de Hanna foi a gota d'água. Ária sentiu o sangue ferver de irritação. Ela estava ali, humilhada e assustada, lutando contra uma criança mimada, e esse homem ousava zombar dela.

— Eu estou trabalhando. É difícil, mas eu não vou falhar.

— Espero que não. Porque se você me fizer perder tempo, eu prometo a você, Ária, eu vou garantir que cada um dos ossos dela grite o seu nome.

A ligação caiu. Ária estava tremendo, mas a ameaça, em vez de assustá-la, acendeu nela uma fúria fria. Ela não podia mais ceder às birras de Rubi. O luxo e as frescuras não importavam.

Na manhã seguinte, Ária abordou Rubi com uma nova determinação.

— Acorda, Rubi. Agora.

— Não quero. Não vou para aquela escola idiota. — Rubi jogou um ursinho na direção de Ária.

Ária pegou o ursinho no ar.

— Escute bem, Rubi. Eu não ligo se você não quer. Eu não ligo se você odeia babás, se você me odeia, ou se você odeia seu pai. Você vai levantar, você vai se vestir e você vai para a escola.

Rubi arregalou os olhos. Nenhuma babá jamais havia falado com ela daquela forma.

— Você não pode mandar em mim! Meu pai... meu pai é o chefe!

— Seu pai é meu chefe, e ele me paga para cuidar de você. Então eu sou a sua babá. E eu sou mais determinada do que você. Você vai ir. Ponto final.

A determinação na voz de Ária era inabalável. Rubi tentou resistir, mas a força da brasileira a dominou.

— Você... — Rubi sibilou, mas se calou.

Com um suspiro de derrota, Rubi se levantou e começou a se vestir.

Aria sorriu e a elogiou, gentilmente.

-Muito bem! A espero lá fora.

Ao sair do quarto, Ramon estava à porta, observando. Seus lábios, geralmente em linha reta, curvaram-se minimamente. Foi um olhar de aprovação, rápido e silencioso.

Ela havia vencido a primeira batalha ao forçar a menina a se vestir e sair do quarto. Mas o café da manhã prometia ser o verdadeiro teste de sua nova autoridade.

A longa mesa de mogno no salão de jantar parecia o palco de uma execução silenciosa. Rubi estava sentada, os braços cruzados sobre o peito, encarando o prato de mingau de aveia com uma hostilidade que superava o ódio de um adulto. Ramon, o mordomo de olhos de gelo, estava parado no canto, uma estátua vestida de preto, testemunhando cada movimento.

— Você precisa comer, Rubi — Ária disse, a voz calma, mas com uma borda de aço.

— Não vou. É nojento.

— Você não vai sair desta cadeira até que o prato esteja vazio. Não vamos brincar disso hoje.

Rubi pegou a colher e a arremessou na direção do prato, fazendo o mingau espirrar.

— Você não pode me obrigar! Vou dizer ao Papai que você é uma bruxa má!

Ária ignorou o insulto e a ameaça. Ela pegou o prato e o forçou para mais perto de Rubi, e um sorriso lento e incrivelmente calmo se instalou em seus lábios. Ela não sentia desespero; apenas a calma estratégica de quem precisava estabelecer o controle. Era a mesma tática de pulso firme e gentileza que havia usado com sucesso para impor limites a Hanna nos piores momentos do Brasil.

Ela baixou a voz para um sussurro, garantindo que apenas Rubi e o atento Ramon pudessem ouvir.

— Escute bem o que eu vou te dizer, Rubi Volkov. Eu não estou aqui para brincar. Você vai me obedecer porque eu sei o que é melhor. Eu não ligo se você é a filha do chefe da Máfia, mas eu desconfio que haja um motivo real por trás de sua birra. E é por isso que você vai me obedecer.

Ária pegou a colher com firmeza e olhou nos olhos cinzentos e assustados da criança.

— Você vai comer tudo o que está neste prato. E se você ousar cuspir, ou jogar fora, ou não obedecer... — Seu sorriso permaneceu inabalável, mas os olhos castanhos esverdeados eram chamas frias e calculistas. — Eu juro que vou enfiar cada colherada deste mingau pelo seu nariz. E não vai ser gentil.

O choque foi absoluto. O rostinho de Rubi empalideceu ao ver o sorriso assustador da babá. Ela percebeu que a ameaça, embora absurda, poderia acontecer e que sua baba era tão assustadora quanto seu pai.

Quando o prato estava completamente vazio, Ária se inclinou e acariciou o rostinho, limpando-a de resíduos.

— Muito bem, Rubi. Viu como você consegue quando tenta? Eu sabia que você era forte. — O sorriso desta vez era genuíno, suave, a gentileza estratégica que selava a obediência.

Depois disso Ária acompanhou Rubi para a escola.

O motorista, um brutamontes silencioso e vestido de preto, conduziu o carro blindado até o portão da escola.

— Pronto, Rubi. Chegamos. — Ária abriu a porta para a criança.

Rubi, no entanto, agarrou-se ao assento com uma força surpreendente.

— Não vou sair. Não quero.

— Por quê, Rubi? Me falaram que você adora o jardim de infância. Por que está fazendo isso?

— Não é da sua conta! — A menina franziu a testa.

Ária suspirou, lembrando-se de que a verdade só viria com paciência. Ela se virou para Rubi, sem raiva.

— Olhe para mim, Rubi. Eu sei que você não gosta de mim. Eu sei que você tem motivos para não gostar das babás. Mas eu estou aqui para te proteger. Se você me disser por que tem tanto medo de sair do carro, eu prometo que vou te ouvir. Se você me contar a verdade, eu te dou uma chance de me fazer ir embora.

Rubi hesitou, os olhos cinzentos vacilando entre a esperança e a desconfiança.

— Eles... eles me odeiam.

— Quem te odeia, meu amor?

— As crianças. — A voz de Rubi era um sussurro doloroso. — Eles me chamam de esquisita, porque eu só uso preto. E dizem que eu não tenho mãe. E alguns deles também dizem que meu papai é um monstro.

O coração de Ária se apertou.

Pobre criança.

— E as outras babás? Por que você as odeia tanto? Por que faz traquinagens para expulsá-las?

A menina se encolheu, lágrimas espreitando no fundo dos olhos acinzentados.

— Elas... todas, elas só queriam o Papai. Elas me machucavam, me puxavam o cabelo, me mandavam calar a boca para irem atrás dele. Elas diziam que eu era um fardo. E uma delas até chegou a me queimar com cigarro.

-Por que vocês só usam preto?

-Papai falou que é regra da família. Que é assim a gerações.

Ária sentiu uma onda de compreensão fria. As regras de Yulian faziam sentido. Ele estava tentando proteger a filha dos predadores que se aproximavam dele. Ela entendia a desconfiança dele agora. E a razão de ela e Rubi só usarem preto: era uma armadura visual, um símbolo de luto, um afastamento.

— Mas seus coleguinhas mexem com você por que? Eles não sabem quem é seu pai?

Rubi piscou.

— Eles não sabem. O Papai sempre diz que não é para contar que ele é o Papai. E com o que ele trabalha. Por que nem todo mundo vai entender.

Ária notou o quão bem Yulian havia conseguido manter o segredo de sua filha. Ninguém sabia que ela era a filha do chefe da Máfia Russa.

— E quanto ao preto, Rubi... é uma cor linda e básica, combina com tudo. Mas podemos mudar isso se você quiser. Mas hoje, você vai precisar encarar eles e eu vou com você. E se algo acontecer, eu vou te defender. Você me deixa te defender?

Rubi balançou a cabeça, os olhos cinzentos fixos nela, uma nova esperança.

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