Capitulo 6 – A Decisão de Ária

Ária levou Rubi para o portão da escola, o caminho que se seguia ao café da manhã vitorioso. A menina estava agarrada à sua mão, o corpo tenso e o medo estampado nos olhos cinzentos. Ária podia sentir a fina camada de suor na palma da criança, uma prova silenciosa do terror que Rubi sentia ao se aproximar daquele lugar.

O que se seguiu foi rápido, previsível e cruel.

Um menino loiro e gordinho, correndo com a arrogância de quem sabe ser intocável, empurrou Rubi com força deliberada. Ária a segurou antes que caísse, o toque se tornando um escudo.

— Olhe por onde anda, seu idiota! — Rubi gritou, a raiva a única defesa contra a humilhação.

— Foi ela quem se meteu na frente, Igor. O que você esperava de uma órfã de mãe? — Uma mulher loira e exageradamente maquiada, envolta em um casaco de pele caro, surgiu como um predador. Era a mãe do menino, uma das pessoas mais influentes da cidade. Ela sorriu com prazer ao ver a criança encolher-se.

— Sua pirralha mal-educada! Onde está sua mãe para lhe ensinar boas maneiras? Ah, é, você não tem! Ninguém nunca fica com você por muito tempo, não é? Está sozinha!

A crueldade da frase atingiu Ária como um chicote. As palavras de escárnio sobre a ausência de mãe de Rubi desencadearam memórias ardentes e dolorosas da própria infância e da morte da mãe de Ária. A ferida do passado de Ária, a vergonha inconfessável, colidiu com o terror presente de Rubi.

— Não se atreva a falar assim com a minha... com Rubi — Ária interveio, a voz baixa, mas gelada, contendo uma promessa de violência. — Você não tem o direito de humilhar uma criança, nem de tocar em um assunto tão pessoal.

A mulher rica avaliou Ária da cabeça aos pés, o desdém evidente.

— E quem é você, a nova babá? Deve ser mais uma caçadora de fortunas, como as outras! Não se meta, sua brasileirazinha barata!

A fúria de Ária atingiu o pico. O sangue lhe subiu à cabeça em um turbilhão de injustiça e instinto protetor. A máscara de espiã ameaçou ruir.

— Eu não sou uma caçadora, e ela não está sozinha! — Ária deu um passo à frente, cobrindo Rubi com o próprio corpo, encarando a loira com um ódio puro. Seus olhos castanhos esverdeados brilhavam com uma ameaça visceral.

Neste momento, a professora se aproximou, uma mulher de meia-idade com óculos. Ela olhou para a mãe influente, depois para a cena tensa.

— Sra. Silva. Não cause problemas no primeiro dia. Igor, peça desculpas à sua mãe. Rubi, não seja teimosa. Você sabe que é melhor evitar confrontos.

A injustiça era gritante, um soco no estômago. A professora havia cedido à influência e ao dinheiro, sacrificando a verdade e a dignidade de Rubi no altar da conveniência social.

Ária, irada pela situação e pelo tratamento covarde e injusto dado à criança, tomou uma decisão insana, uma que violava diretamente a Terceira Regra de Yulian: Você não sai sem a minha permissão.

— Chega! Isso acabou! — Sua voz era um rugido baixo e final.

Ela agarrou a mão de Rubi e se virou para o motorista, que observava a cena com a resignação de quem via o espetáculo se repetir.

— Para o parque de diversões! Agora!

O motorista hesitou, olhando para a porta da escola e depois para o rosto decidido, quase selvagem, de Ária. Ele sabia que estava desobedecendo a uma ordem direta do Gospodin Volkov, uma ofensa punível, mas a aura de fúria protetora e comando que Ária irradiava o fez ceder.

— Sim, senhora.

O carro preto cantou os pneus ao se afastar da calçada, deixando a escola e a mãe influente em um estado de choque mudo. Ária e Rubi fugiram em alta velocidade. No banco de trás, Rubi soltou uma risada pura e alta que ecoou pela cabine. Pela primeira vez em muito tempo, Rubi riu.

O carro de luxo parou em frente a um grande parque de diversões, um universo de cores vibrantes e música alta que parecia uma ofensa direta à cinzenta mansão Volkov. O motorista desligou o motor, cortando o silêncio tenso.

Rubi saiu do carro primeiro, os olhos cinzentos arregalados pela excitação, o medo da escola substituído pela maravilha infantil. Ela correu alguns passos em direção à entrada, mas, de repente, hesitou, parando sob um arco colorido. Ela se virou para Ária, a alegria nublada por uma sombra de culpa e a lembrança das regras.

— O Papai... — A palavra ficou presa em sua garganta.

Ária se ajoelhou na calçada, ficando na altura da menina. Ela tocou o braço de Rubi com uma gentileza firme.

— O Papai está em seu trabalho, Rubi. E você... você é uma criança. Crianças merecem gritar em montanhas-russas, comer doces gigantes e ganhar brinquedos ridículos. Por uma tarde, a escola, o mingau e os valentões não existem. Você merece se divertir e esfriar a cabeça, enquanto acalma o coração.

A determinação na voz de Ária era um bálsamo. Rubi cedeu, e logo as duas estavam imersas no burburinho. Elas foram primeiro ao carrossel, a música melancólica e repetitiva contrastando com a adrenalina no sangue de Ária. Enquanto o cavalo de madeira subia e descia em um ritmo constante, Ária olhou para Rubi, cuja expressão estava mais relaxada do que ela jamais vira.

— Eles te chamaram de órfã de mãe, não foi? — Ária perguntou, mantendo o tom casual.

Rubi balançou a cabeça, o cabelo ruivo voando.

— Eles sempre chamam. E dizem que meu casaco preto é feio. Ninguém quer brincar com quem veste luto.

— O preto é a cor mais elegante do mundo, Rubi. E sobre sua mãe... eles estão errados. Sua mãe está sempre com você. Ela está em cada lembrança do seu pai e em cada ato de coragem seu. E eles não têm o direito de te machucar por isso, nunca. Nunca mais, permita que te tratem assim de novo.

O carrossel parou. Ária ajudou Rubi a descer e a levou para o estande de tiro. Enquanto Ária atirava bolas de argila com uma precisão surpreendente, da época que ajudava Hanna a se preparar para as gincanas escolares, Rubi segurava o braço dela admirada.

— Meu Papai não vai gostar que a gente veio aqui — Rubi sussurrou, a consciência do mundo Volkov voltando. — Ele disse que a escola é importante.

Ária sorriu para Rubi, mas por dentro, seu estômago se revirava de medo. Yulian a mandaria embora, ou pior.

Hanna - pensou Ária, enquanto mirava o próximo alvo. - Me perdoe. Sei que isso é imprudente, mas não pude deixar que machucassem a filha dele. Eu vou resolver isso de outra forma. Eu vou protegê-las.

Ária acertou o alvo no centro. O prêmio era um pinguim de pelúcia gigante. Ela entregou a Rubi.

— Escute. Eu sou a adulta. Eu decidi vir para cá. A responsabilidade é toda minha. Você apenas teve uma tarde de criança. Escola é importante, sim. Mas você precisa arejar para aprender. Então, aproveite o seu pelúcia e o resto das suas horas de diversão. E deixa que eu arco com as consequências.

A frase final de Ária era uma promessa, um elo que se formava entre a babá rebelde e a menina solitária. E pela primeira vez, Rubi sentiu que alguém estava genuinamente do seu lado.

A tarde no parque de diversões, com seu cheiro de pipoca doce e a falsa sensação de liberdade, havia sido o alívio que Ária e Rubi precisavam. Mas a bolha de inocência estourou no momento em que a comitiva de carros pretos invadiu o estacionamento do parque.

A diversão durou pouco. Duas horas depois, no meio do riso e dos algodões doces, uma comitiva de carros pretos surgiu. Eram três SUVs escuras, blindadas e cheias de seguranças que se espalharam pelo local com a precisão letal e a indiferença fria de máquinas.

Yulian Volkov estava em uma delas.

Ele saiu do carro, alto, imponente e ameaçador, a encarnação do julgamento. Seu rosto era de puro gelo, esculpido em mármore cinzento, desprovido de qualquer emoção, exceto a fúria contida. Não houve palavras. Ele simplesmente caminhou até elas, pegou Rubi no colo com uma possessividade feroz — a menina se aninhou a ele, ainda rindo e segurando o pinguim de pelúcia. Ele não olhou para Ária; ela era ar, desnecessária, já julgada e sentenciada.

Ária o seguiu, temerosa e com o estômago revirado pela vergonha e pela antecipação da retaliação, até a mansão. O silêncio da viagem de volta era mais ensurdecedor do que qualquer grito.

— Leve-a ao quarto, Ramon. E não a deixe sair.

Ramon levou Rubi, que ainda tentava se explicar, a voz fina da criança que se sentia culpada e apavorada pelo silêncio assustador do pai.

Assim que ficaram a sós, Yulian se virou para Ária, os olhos cinzentos faiscando com a mais pura fúria. A máscara de controle havia se desintegrado, revelando o predador.

— Você é inconsequente, Srta. Silva! Inconsequente e irresponsável! Minha filha tinha que estar na escola, não se empanturrando de açúcar em um lugar público e desprotegido! Você sabe quem somos! Você quebrou as regras e a colocou em perigo com a sua burrice! Eu a proibi que saísse sem minha permissão! É a Terceira Regra!

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