Mundo de ficçãoIniciar sessãoMinha Doce Babá Ela só queria um emprego. Ele, manter distância. Mas o destino tinha outros planos. Melissa está desesperada por uma chance de recomeçar. Quando consegue uma entrevista para cuidar da filha de um poderoso e frio empresário, não imagina que entrará em um mundo de silêncio, segredos... e sentimentos proibidos. Heitor Duarte perdeu tudo que amava quando sua esposa faleceu. Desde então, ergueu muros ao redor do coração e da casa. A última coisa que ele esperava era que a nova babá de sua filha despertasse emoções que ele julgava enterradas. Entre sorrisos inocentes de uma criança e olhares que insistem em se encontrar, Melissa e Heitor descobrirão que às vezes o amor aparece onde menos se espera — e que fugir pode ser impossível quando o coração decide ficar.
Ler maisMelissa ajeitou a barra da saia simples e respirou fundo antes de tocar a campainha da mansão. Seu coração batia acelerado, não apenas pelo nervosismo, mas pela esperança. Desempregada, com o aluguel atrasado e a geladeira quase vazia, aquela entrevista era tudo o que ela tinha.
A porta se abriu com um rangido leve, revelando uma senhora de aparência rígida e cabelo preso num coque perfeito. — A entrevista para babá? — ela perguntou, sem sorrir. — Sim, sou Melissa Ferreira — respondeu com educação. — Siga-me. A casa era silenciosa, grande demais. Cada detalhe parecia meticulosamente planejado: os móveis de madeira escura, o chão de mármore brilhante, as obras de arte que adornavam as paredes com elegância. Melissa sentia-se deslocada naquele ambiente de luxo. Era um mundo tão distante do seu, onde as preocupações diárias se resumiam a contar os centavos e enfrentar o peso de um futuro incerto. Na sala principal, um homem alto e de ombros largos se levantou de onde estava. Ele era imponente, com o cabelo loiro escuro, os olhos cor de mel e a pele pálida, mas de porte grande, quase como um armário. Sua presença era avassaladora, e Melissa teve a impressão de que o ambiente ao redor parecia encolher diante dele. Os olhos de Heitor penetravam nela com uma intensidade tão profunda que fazia com que ela sentisse como se estivesse sendo analisada de forma minuciosa, forçando-a a se revelar sem sequer tentar. Era como se ele soubesse de tudo o que ela já havia vivido, cada dificuldade, cada medo. Ela podia sentir sua confiança sendo desafiada, testada. Ele vestia um terno perfeitamente alinhado, e sua expressão austera parecia indestrutível. Era Heitor Duarte, viúvo, empresário milionário e... segundo boatos da internet, um homem frio e inacessível desde a morte da esposa. — Sente-se — disse ele, apontando para a poltrona à frente. Melissa se acomodou, mantendo as mãos firmes no colo, tentando não demonstrar o quão desconfortável estava sob o olhar dele. Seu coração batia forte, mas ela não se permitia recuar. Não podia. — Experiência com crianças? — Sim, senhor. Trabalhei como babá em tempo integral por quase cinco anos. Tenho curso de primeiros socorros, desenvolvimento infantil e... — Documentos? — cortou ele, impaciente. Melissa entregou sua pasta com referências. Heitor folheou rapidamente, sem demonstrar nenhuma emoção. Ele parecia alheio ao esforço que ela havia colocado em cada palavra, como se já tivesse decidido seu destino antes mesmo de começar a entrevista. — Você mora sozinha? — Sim. — Tem filhos? — Não. Ele a encarou por um segundo mais longo do que o necessário. Aqueles olhos penetrantes pareciam examinar cada centímetro dela, como se procurassem por algo que fosse digno de sua atenção. Depois, ele recostou-se na cadeira, cruzando os braços. A tensão no ar era palpável. — Você parece dedicada. Mas, para ser honesto, temos outras candidatas com formação superior, fluentes em inglês e com mais tempo de experiência. Por que eu deveria escolher você? Melissa sentiu o impacto daquelas palavras como um soco no estômago, mas não recuou. Não podia se dar ao luxo de parecer frágil, não agora. — Porque, senhor Duarte, eu não estou aqui apenas por um emprego. Estou aqui porque amo cuidar de crianças, porque sei escutar, acolher e educar com respeito. Sei que a filha do senhor perdeu a mãe, e isso exige mais do que currículo — exige empatia. E disso, eu tenho de sobra. Heitor permaneceu em silêncio por um instante, seus olhos fixos nela, como se estivesse tentando encontrar alguma falha em suas palavras. A atmosfera entre eles estava carregada de tensão, mas Melissa não desviou o olhar. Ela sabia que o que estava em jogo era muito maior do que aquela entrevista. Foi nesse momento que uma menina apareceu na porta. Seus cabelos eram da mesma cor do pai, loiros escuros e levemente ondulados, mas os olhos... os olhos eram verdes, provavelmente iguais aos da mãe. Ela estava abraçada a um ursinho de pelúcia, cujos pelos estavam desgastados pelo tempo e pelos abraços constantes. A menina tinha uma aura de fragilidade, mas também de uma força silenciosa, algo que parecia ressoar com a saudade da mãe que ela nunca esqueceria. — Papai... quem é ela? — perguntou a menina, com um olhar curioso, mas também triste. Heitor se virou para a filha, e seu olhar suavizou por um momento, embora ainda mantivesse um certo distanciamento. — É... uma das candidatas — respondeu, mantendo o tom neutro. A menina se aproximou de Melissa com passos hesitantes. Seus olhos verdes fixaram-se nela por um instante, como se procurassem entender quem era aquela mulher estranha que estava ali. Melissa sorriu suavemente, ajoelhando-se diante dela, para não parecer uma figura tão distante. — Oi, princesa. Meu nome é Melissa. E o seu? A menina hesitou por um momento, mas logo respondeu, sua voz baixa e doce. — Heloisa... — Nome lindo. Gosto muito de nomes que brilham como o sol. E o seu parece brilhar. Clara — ou melhor, Heloisa — sorriu timidamente, e, sem aviso, se aproximou e se encostou ao lado de Melissa. O gesto foi tão natural, tão cheio de confiança, que Melissa sentiu seu coração aquecer. Heloisa não precisava de palavras. O simples gesto de confiança que ela demonstrava naquele momento dizia mais do que qualquer currículo ou conversa. Heitor observava em silêncio. Seu olhar estava agora distante, como se estivesse refletindo sobre algo profundo. O gesto de Heloisa, tão espontâneo e genuíno, foi suficiente para que ele percebesse que, por mais que as qualificações de Melissa pudessem ser questionadas, algo ali estava conectado de maneira mais verdadeira. Ele pigarreou, quebrando o silêncio, e desviou o olhar de Melissa. — Sábado. Sete da manhã. Vamos fazer um teste prático. Se for tão boa quanto fala, vai provar. Melissa levantou-se, o coração disparado. Aquilo não era uma oferta, mas um desafio. E ela não tinha intenção de perdê-lo.Heitor nunca gostou de manhãs. Havia nelas uma espécie de crueldade — a luz invadia tudo, sem pedir licença, revelando o que ele preferia manter escondido: a poeira nas frestas, o vazio sobre a mesa do café, o eco das vozes que já não estavam ali.A casa era grande demais para ele e Heloisa. E ainda assim, ele não conseguia imaginar-se em outro lugar. O barulho distante dos carros, o portão eletrônico abrindo às seis e meia, o som do liquidificador vindo da cozinha — tudo isso formava uma rotina que o sustentava. A previsibilidade era o único tipo de paz que ainda sabia aceitar.Mas naquela manhã, havia algo diferente no ar.Ele percebeu primeiro pelo som dos passos da governanta no corredor — apressados, inseguros. Depois, pelo silêncio repentino que tomou a casa, como se as paredes também estivessem à espera.Quando ouviu o portão eletrônico se abrir, sentiu o estômago se contrair.Helena.Sabia que era ela antes mesmo de vê-la.A irmã tinha o dom de transformar qualquer ambiente em
A casa tinha um ritmo. Por mais que mudassem os moradores, por mais que o tempo fizesse seu trabalho silencioso, ela ainda ouvia os ecos da rotina. Mas naquela semana... algo se alterou.Isabel não era mulher de fantasias. Aprendera cedo a distinguir ilusões de fatos. E os fatos estavam ali, espalhados em detalhes que só ela parecia notar.Começou pela geladeira.Nunca houve nada ali além do que era necessário. Um ímã discreto para o telefone da farmácia, talvez um lembrete de entrega. Mas agora havia desenhos. Rabiscos coloridos, folhas tortas coladas com fita adesiva. Um sol com olhos sorridentes, uma mulher de cabelos cacheados com um coração no peito, e a letra trêmula de Heloisa assinando o canto.Isabel passou o pano em volta, com cuidado para não deslocar nada. Tocou um dos papéis como quem toca um segredo.Depois foi o café.O senhor Heitor sempre tomava pela manhã, entre sete e sete e quinze. Era o ritual. Entrava na cozinha ainda de gravata frouxa, pegava a xícara no pires e
Na quarta semana de trabalho, Melissa já conhecia a rotina da casa com a mesma precisão de quem decora uma música favorita. Sabia que Heloisa gostava de leite morno antes de dormir, que fazia questão de escovar os dentes com a escova cor-de-rosa e que sempre pedia para Melissa deitar na beira da cama por cinco minutinhos a mais, só para ouvir mais uma história.Heitor, por sua vez, mantinha-se reservado. Observava à distância, surgia nos horários certos, e deixava claro — com silêncio e postura — que confiava na escolha que fizera ao contratá-la. Ainda não havia simpatia aberta, mas havia respeito. E isso, para Melissa, bastava.Naquela terça-feira, o dia começou tranquilo. Heloisa acordou bem-humorada, queria brincar de escola, e Melissa se tornou professora, aluna e diretora em um intervalo de vinte minutos. O sol entrava pelas grandes janelas da casa, e tudo caminhava para ser um daqueles dias leves.Até o portão eletrônico tocar.O som não era estranho, mas a agitação da governant
Os primeiros dias passaram como vento de outono: leves, mas carregando folhas do que um dia foi frio e solidão.Melissa chegou pontualmente todos os dias. Criou uma rotina com Heloisa: leitura pela manhã, uma “expedição” no jardim depois do lanche, desenhos à tarde e uma nova história inventada antes da soneca. A menina florescia. Seu riso preencheu os corredores da mansão como uma nova música. Até Joana, a governanta contida, passou a sorrir mais.Heitor observava tudo. Silenciosamente. Sempre à distância.Ele passava pouco tempo com a filha, mas quando o fazia, Melissa notava os olhos de Heloisa brilharem — e depois, murcharem, quando ele voltava para o escritório. Era como um eclipse de afeto. Rápido demais.— Seu pai te ama muito, sabia? — Melissa disse certa noite, ao ajeitar o cobertor da menina.— Ama? — Heloisa sussurrou, mexendo no laço do travesseiro. — Ele não gosta de brincar...Melissa engoliu em seco.— Às vezes os adultos esquecem como brincar. Mas isso não quer dizer q
O sábado amanheceu nublado. As nuvens pareciam carregar o mesmo peso que Heitor sentia no peito. Estava em seu escritório desde cedo, sob o pretexto de revisar contratos — mas a verdade era que evitava olhar pela janela e ver Melissa no jardim com Heloisa.Não era por desconfiança. Era medo.Desde que a esposa morrera, Heitor vivera trancado em si mesmo. Trancado na dor. Na culpa. E num segredo que nem mesmo os mais próximos jamais souberam.Sentado na poltrona de couro escuro, os olhos fixos em um ponto qualquer da parede, permitiu-se relaxar por um breve momento. O silêncio da casa o embalou, e antes que percebesse, os olhos se fecharam.E então, o passado voltou.Era noite. Estavam voltando de uma festa da empresa. Laura, sua esposa, rindo no banco do passageiro, o celular em mãos, digitando apressadamente. Ele dirigia, tenso. Já desconfiava. Havia algo errado. Horas demais fora de casa, desculpas demais. E naquela noite, ele confirmara.Mensagens no celular de Laura. Com Pedro. Se
A mansão estava mais silenciosa do que o habitual naquela manhã. Heitor sentia o cheiro do café que nem chegou a tomar. Desde que Laura se foi, as manhãs tinham gosto de vazio.Sentado em seu escritório, revisava contratos e balanços — ou fingia. A verdade é que sua atenção estava longe dos números. Ele detestava aquele processo de entrevistas. Tantas candidatas com currículos impecáveis, mas nenhuma com o que ele realmente procurava: alguém que soubesse lidar com a dor invisível que morava ali, entre ele e sua filha.A governanta bateu na porta discretamente.— Senhor Duarte, a próxima candidata chegou.— Mande entrar.Voltou-se para a tela do notebook, embora seus pensamentos estivessem presos à figura de Heloisa — sua pequena de apenas cinco anos, que não sorria como antes, que abraçava o travesseiro da mãe todas as noites.Ouviu os passos se aproximando e levantou-se. Quando viu a mulher entrar, algo o fez erguer levemente uma sobrancelha. Simples, postura firme, olhar direto. Não





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