O Teste

O sábado amanheceu frio e nublado. Melissa acordou antes do despertador tocar. Passou um café forte, comeu um pedaço de pão dormido com manteiga e vestiu sua melhor roupa — a mesma da entrevista, passada com esmero na noite anterior. Ela não podia fracassar.

Ao chegar à mansão Duarte às 6h45, respirou fundo diante do portão. Tinha uma mochila com algumas atividades impressas, um livro infantil e um bichinho de pelúcia que comprou em uma lojinha de usados no caminho. Tudo improvisado, mas preparado com carinho. Aquilo não era só um teste para ela — era a chance de um recomeço.

A governanta a recebeu com o mesmo semblante neutro.

— Pontual. O senhor Duarte está no escritório. A menina está terminando o café.

Melissa assentiu e seguiu até a sala onde Heloisa a esperava. A menina estava sentada à mesa, o cabelo preso em duas trancinhas malfeitas, vestindo uma blusa cor de lavanda e uma jardineira jeans. Seus olhos verdes brilharam ao ver Melissa, e ela sorriu com naturalidade — um sorriso que fez o coração de Melissa se aquecer como sol em dia de inverno.

— Oi, Heloisa. Pronta para brincarmos?

— Sim! — respondeu animada. — Trouxe meu desenho pra te mostrar!

Melissa se sentou ao lado dela, com cuidado, como quem respeita território sagrado. Heloisa puxou uma folha de papel com rabiscos coloridos. Era ela mesma, o pai e uma mulher de cabelos castanhos segurando sua mão. Melissa reconheceu a cena: era ela.

— É você, tia Mel. Eu fiz ontem — disse com orgulho.

— Uau... Você desenha muito bem. Eu amei! — respondeu emocionada. — Posso guardar comigo?

Heloisa assentiu, com um sorriso largo. Melissa guardou o papel com delicadeza em sua pasta, como se fosse um troféu.

Pouco depois, passaram a manhã no jardim. Melissa propôs brincadeiras de faz de conta, leitura e até uma pequena caça ao tesouro com pistas escondidas embaixo das plantas. A cada nova atividade, Heloisa se mostrava mais solta, mais confiante. Ela ria, corria, perguntava coisas, fazia desenhos no chão com um graveto.

Melissa percebeu como aquela menina tinha sede de atenção verdadeira. Não era só alguém para vigiar horários e manter a rotina — ela precisava de presença, de afeto, de alguém que enxergasse além das obrigações. E Melissa se entregou por inteiro àquele momento. Esqueceu da pressão, esqueceu do julgamento de Heitor. Só existiam ela e Heloisa.

O empresário observava à distância, da varanda do segundo andar. Braços cruzados, expressão indecifrável. Sua filha parecia feliz. Muito mais do que nos últimos meses. Mas uma parte dele resistia. Melissa era... diferente. Não pertencia àquele mundo. Sua simplicidade contrastava com tudo que ele tentava controlar. E mesmo assim, Heloisa se apegara a ela em poucas horas.

Na hora do almoço, Heitor se aproximou. Estava sério como sempre.

— Hora de comer, Heloisa. Vá lavar as mãos.

A menina assentiu, mas antes de ir, segurou a mão de Melissa com firmeza.

— Você almoça com a gente, né?

Heitor olhou para Melissa, sem disfarçar o incômodo. Ela hesitou, mas respondeu com gentileza:

— Só se o seu pai permitir, querida.

Heloisa então olhou para o pai, com os olhos suplicantes que só uma criança sabe fazer.

— Por favor, papai...

Heitor não respondeu. Apenas se virou, sinalizando que o convite estava aceito — ainda que a contragosto.

O almoço foi silencioso. Heitor comia com elegância e distância. Heloisa, por outro lado, não parava de conversar, contando sobre a caça ao tesouro, os desenhos, e como Melissa sabia imitar vozes engraçadas. Ele ouvia em silêncio, ocasionalmente fitando Melissa, como se quisesse decifrar um enigma.

Depois do almoço, enquanto Heloisa descansava no sofá com um livro, Heitor chamou Melissa ao escritório.

— Ela gostou de você — disse, direto.

— E eu gostei dela.

Heitor ficou em silêncio por um instante. Depois se aproximou da janela, de costas para ela.

— Minha filha está vulnerável. E eu sou cuidadoso com quem entra na vida dela. Já vi gente fingindo interesse para se aproveitar da situação.

— Eu entendo. E não estou aqui por pena ou conveniência. Estou aqui porque quero fazer a diferença na vida dela — respondeu firme.

Ele se virou. Havia algo em seu olhar... não era aprovação ainda, mas talvez uma brecha.

— Trabalhe conosco em período de experiência. Um mês. Se ela continuar bem, renovamos. Salário e regras você acerta com a governanta.

Melissa sentiu um alívio tão forte que teve que se segurar para não sorrir largo demais.

— Obrigada, senhor Duarte. Prometo dar o meu melhor.

— Espero que sim. Aqui, não há espaço para erros.

Sigue leyendo este libro gratis
Escanea el código para descargar la APP
Explora y lee buenas novelas sin costo
Miles de novelas gratis en BueNovela. ¡Descarga y lee en cualquier momento!
Lee libros gratis en la app
Escanea el código para leer en la APP