Ela foi criada para ser perfeita. Mas até a esposa perfeita tem um limite. Isabela Costa, filha de um político em plena campanha para governador, vive um casamento de fachada com o homem que ajudou a erguer, Daniel Ribeiro. Ele era pobre, sem influência, até que se casou com a herdeira dos Costa. Agora tem tudo: casa, status, prestígio... e amantes. Ao descobrir por meio de uma notificação no celular a traição do marido com colegas de trabalho, Isabela quer fazer o óbvio: destruir tudo o que ele tem. Afinal, tudo veio do nome dela. Mas não pode. Um escândalo nesse momento destruiria a campanha do pai e mancharia seu sobrenome para sempre. Agora, obrigada a sorrir para fotos ao lado do homem que mais odeia, Isabela planeja sua vingança em silêncio. Daniel achava que havia vencido. Mas não sabia com quem tinha se casado. Ele era o marido perfeito, até se tornar seu pior inimigo.
Leer másPOV Isabela Costa
Todo mundo acredita que eu tenho a vida perfeita. Casada com Daniel Lacerda, jovem, bonito, herdeiro de um império da construção civil. Filha de Álvaro Costa, deputado influente, prestes a disputar o governo do estado. Vista como símbolo de elegância, filantropia e poder. As revistas dizem que sou uma mistura de Jackie Kennedy com Gisele Bündchen. Mas o que elas não sabem é que, à noite, eu durmo com o inimigo.
A casa estava silenciosa quando voltamos do jantar beneficente. Vestido sob medida, maquiagem intacta, sorriso de capa. Daniel foi direto para o quarto. Disse que estava cansado. Beijou minha testa como quem b**e o ponto. Fiquei na sala, sozinha. Tirei os brincos, desfiz o coque. Abri o celular para postar algo sobre a causa da noite, mas antes que eu digitasse qualquer coisa… vibração. Não do meu aparelho.
O dele. Olhei. Estava sobre a mesa de centro. Tela acesa. Uma prévia da mensagem dizia: “Você saiu tão apressado... Estou com saudade do que fizemos no carro.” Congelada. Peguei o celular dele. Sem senha. Claro que não. Ele confiava que eu nunca ousaria.
Abri. Mensagens. Fotos. Áudios. Muita pele e pouca roupa, na verdade, NENHUMA roupa. Ela mandava beijos. Ele respondia com palavras que nunca me disse. Mas quando falava de mim para essas mulheres, se referia como: “Princesa de vitrine.” “Ela é só o marketing da família Costa.”
O estômago revirou. Continuei deslizando o dedo. Outro nome. Outra mulher. Depois outra. E outra. Lívia Ribeiro. Minha amiga. Minha madrinha de casamento. Subi as escadas com o celular ainda na mão. Entrei no quarto. Daniel estava deitado, mexendo no tablet, focado em algo, talvez seja do trabalho ou quem sabe, mais traições.
— Está cansada? — ele perguntou, sem olhar pra mim.
Estiquei o celular. A tela mostrava a traição. Ele olhou por dois segundos. Depois, apenas disse:
— Ia descobrir cedo ou tarde.
— Isso aqui é real? — minha voz saiu firme, mas por dentro, eu estava em ruínas.
Ele se sentou. Encostou na cabeceira. Não parecia surpreso. Nem envergonhado.
— Você quer escândalo agora? — disse, rindo. — Bela, vamos parar com o teatro. Você não me ama. Ama a ideia do nosso casamento. Da vida perfeita. Da esposa perfeita. Do feed perfeito. Nós somos uma fachada. Uma vitrine. E você é o enfeite mais caro da loja.
— E você o traidor mais barato da cidade.
— Eu te dei estabilidade, presença, elogios públicos. Em troca, quis liberdade. O que há de tão absurdo nisso?
— Liberdade? Você chama isso de liberdade?
— Chamo de realidade. Enquanto você posa pra foto, eu vivo. Você é a boneca de porcelana do Costa. Intocável. Inatingível. E insuportável.
Cada palavra era como ácido. E ele sabia disso.
— Você destruiu tudo.
— Eu apenas tirei a máscara. Nós dois sabemos que você não vai fazer nada. Seu pai precisa de mim. Seu nome depende do meu sobrenome agora. Você é a esposa da campanha. Se abrir a boca, derruba o palanque inteiro.
Um segundo de silêncio.
— Você vai se arrepender — sussurrei.
— Não vai fazer nada, Isa. Não tem coragem. Vai continuar me beijando em público, sorrindo nas fotos, engolindo o que restar. Porque é isso que você foi criada pra fazer. Fingir.
Deixei o celular cair no chão. Saí do quarto. Andei descalça até o jardim. A grama ainda estava molhada pelo orvalho. O céu escuro, sem estrelas. Me sentei no chão, abraçando os joelhos. Pela primeira vez, em muito tempo, eu deixei o silêncio me engolir.
Mas não chorei. Daniel achava que tinha me destruído. Mas ele só me acordou. Depois de um tempo, ouvi os passos dele na varanda. Não me virei.
— Vai dormir no jardim agora? Que cena linda. Uma mulher traída em silêncio. Isso dá um ótimo stories, sabia?
— Você devia ter medo do que eu posso fazer em silêncio.
— Você não vai fazer nada. Você é só filha do Costa. E isso não dura para sempre.
— Tem razão. Não dura. Mas eu vou durar mais que você.
Meus olhos não ardiam. Minha boca não tremia. Dentro de mim, só havia uma certeza fria e absoluta: Esse casamento termina com ele de joelhos. Eu vou destruir o homem que tentou me destruir. E quando tudo vier à tona, os nomes, as mentiras, as amantes, os podres da campanha, ninguém vai me impedir. Nem meu pai. Nem a imprensa. Nem Deus.
Entrei na casa de volta, com os pés molhados pela grama, os cabelos soltos, a maquiagem intacta por fora, mas por dentro, tudo estava em colapso. Daniel estava encostado na parede do corredor, braços cruzados, como quem me esperava só para continuar a humilhação.
— Terminou sua performance no jardim? — ele perguntou, com um tom entediado. — Posso te aplaudir ou você quer um Oscar?
Parei. Respirei fundo. Fitei ele nos olhos.
— Você tem alguma noção do que acabou de fazer?
— Eu? Eu só tirei a venda dos seus olhos, querida. Você vive numa fantasia. Uma boneca de vitrine com um vestido de cinco dígitos e um pai que compra manchetes. E agora quer bancar a traída?
— Eu dei tudo para você. Tudo. Até minha dignidade.
— Que bom, então. Porque agora não tem mais nenhuma sobrando. — Ele sorriu. — Você é só mais uma mulher desesperada tentando parecer forte. E sabe o que é mais patético? Você não tem para onde correr. Nem família, nem aliados, nem verdade.
— Tenho uma coisa. — dei um passo à frente. — Tenho a verdade que você me deu hoje. E com isso, Daniel, eu te destruo.
Ele riu alto. Um riso amargo.
— Vai fazer o quê? Gravar stories chorando? Contar para o papai? Acorda, Isabela! Você é um produto. Sem mim, você não é nada.
— Prefiro ser nada do que continuar sendo sua sombra.
— Então some — ele rosnou.
E num segundo, o que era apenas veneno virou violência.
Ele avançou um passo e me empurrou com força contra a parede do corredor. Minhas costas bateram no gesso. Um quadro caiu. A moldura rachou. Meus olhos se arregalaram, não pelo susto, mas por finalmente ver quem ele realmente era, sem máscaras, sem sorriso de campanha.
Ele me encarou de perto. Tão perto que eu senti o hálito quente e amargo dele.
— Vai chorar agora? Vai chamar segurança? Vai correr para sua mamãezinha?
Fiquei imóvel por um instante. Mas então, levantei o queixo. O sangue fervia nas veias.
— Você me bateu. — minha voz saiu baixa, gélida. — Você acabou de cruzar a única linha que ainda te protegia.
— Você mereceu.
— E você vai pagar.
Ele recuou um passo, como se não esperasse aquilo.
— O que disse?
— Vai pagar. Não agora. Não como você espera. Mas quando eu terminar, Daniel, até o seu sobrenome vai ser motivo de vergonha. Cada amante sua vai virar manchete. Cada centavo seu, investigado. E o tapete vermelho que você adora vai virar lama.
Passei por ele com os ombros retos, mesmo com a dor ardendo nas costas. Antes de subir as escadas, me virei uma última vez:
— Obrigada por mostrar quem você é. Agora, eu sei exatamente o que destruir.
Subi degrau por degrau sentindo que cada passo era uma promessa. E no topo da escada, já no escuro do corredor, ouvi a voz dele pela última vez naquela noite:
— Você não tem ideia de com quem está mexendo.
Respondi sem me virar:
— Não. É você que não tem ideia de quem acabou de acordar.
POV IsabelaO silêncio do quarto me acolheu como cúmplice. Fechei a porta devagar, respirei fundo e encostei as costas na madeira fria. Minhas mãos ainda seguravam a clutch, mas o peso verdadeiro estava dentro dela. Um envelope. Branco, comum, mas com a densidade de uma granada. Coloquei-o sobre a escrivaninha e fiquei observando por alguns segundos. Ele parecia pulsar, chamar meu nome, como se soubesse que estava prestes a mudar tudo.Abri.Dentro, fotos. Impressas em papel de boa qualidade, não aquelas digitais borradas que circulam em redes sociais. Alguém se deu ao trabalho de organizar um dossiê. Daniel, em um quarto de hotel, sem aliança, camisa aberta, rindo. Ao lado dele, Fabiana. O corpo dela enrolado em lençóis brancos, a marca evidente da intimidade que já não se dava ao trabalho de esconder.As datas estavam no rodapé: meses diferentes, em hotéis distintos, todos pagos em dinheiro vivo. Havia também cópias de notas de consumo: jantares caros, champanhes, presentes comprado
POV LeonelO jantar no Elysée não era apenas um encontro de negócios. Era uma encenação calculada, cada gesto ensaiado, cada riso cronometrado para soar espontâneo. Eu cresci entre esses ambientes, entre brindes e discursos que não diziam nada, mas escondiam tudo. E ainda assim, naquela noite, algo estava diferente.Do meu lugar, a mesa parecia um tabuleiro. Daniel ria alto demais, exagerado, como quem tenta compensar o vazio das próprias palavras. Álvaro falava pouco, mas cada frase era uma ordem disfarçada de brinde. Os empresários se revezavam em promessas, e os políticos, em silêncios cúmplices.Mas foi Isabela quem roubou minha atenção do início ao fim. Não pelos flashes que se voltavam para ela, nem pelo vestido impecável que a transformava em estátua viva de elegância. Mas pelo olhar. Os olhos dela ardiam em silêncio, como brasa coberta por cinzas. A cada sorriso, eu enxergava o cálculo. A cada gole de vinho, a decisão de não se deixar envenenar.Enquanto os outros viam apenas
POV IsabelaA sala principal do Hotel Elysée parecia um palco montado para vaidades. Lustres de cristal refletiam as taças alinhadas como joias, garçons deslizando em silêncio com bandejas de prata, e o tapete vermelho que abafava cada passo como se escondesse o som de dentes rangendo.Daniel apertava minha mão com força, como quem conduz um troféu. E era exatamente isso que eu era para ele naquela noite: a peça reluzente em sua vitrine de poder. O marido sorridente, o político promissor, e eu, a esposa impecável, sempre presente, sempre intocável.— Senhores — disse ele, erguendo a taça ao redor da mesa principal, onde empresários, secretários e alguns rostos conhecidos da velha política se sentavam. — Esta noite não é apenas um brinde a negócios. É um brinde à confiança. E à família.“À família.”O olhar dele cruzou o meu quando pronunciou a palavra, e o aperto em minha mão aumentou. Sorrimos para as câmeras, como se cada flash fosse uma prova do casamento perfeito. Do outro lado d
POV IsabelaO jardim da Fundação tinha algo de artificial naquela tarde. O gramado impecável, as flores brancas enfileiradas como soldados, os bancos de pedra que meu pai mandara instalar para passar uma impressão de equilíbrio e paz. Tudo tão ensaiado, tão controlado… e ainda assim, naquele silêncio quase sufocante, parecia que alguma engrenagem estava fora do lugar.Sentei no banco mais afastado, à sombra de uma palmeira, com a xícara de café na mão. Não tinha dormido. A noite inteira, virei de um lado para o outro, ouvindo de novo a voz rouca, masculina, repetindo como uma sentença:“Não é ele que precisa te preocupar. É quem serve a mesa.”Na hora, soou como um enigma. Mas quanto mais repetia em minha cabeça, mais parecia uma verdade perigosa. Nada do que Daniel faz é por acaso. Ele nunca foi só um marido infiel, é um homem que joga em camadas. Cada amante, cada mentira, cada aparição pública, cada foto planejada… tudo é parte de um teatro de controle. E o que o ator mais teme não
POV Isabela O dia amanheceu cinza, pesado, como se até o céu soubesse que havia algo suspenso no ar. Não dormi. Não conseguia. A voz masculina ainda vibrava dentro da minha cabeça, repetindo a frase como uma senha de acesso a um segredo que eu ainda não tinha a chave para abrir. "Não é ele que precisa te preocupar. É quem serve a mesa."Sentei diante do espelho, deixei que a luz fria da manhã revelasse cada detalhe do meu rosto. Não havia olheiras, corretivo resolve qualquer traço de cansaço, mas os olhos, esses sim, estavam diferentes. Não cansados. Atentos. De quem não tira a vista do tabuleiro nem por um segundo. Enquanto o maquiador ajeitava meu rosto para o compromisso da tarde, minhas mãos deslizavam pelo celular. Nenhuma nova mensagem. Nenhuma nova ligação. O número oculto parecia saber quando falar e, mais ainda, quando silenciar. — A senhora prefere algo mais neutro ou… — o maquiador hesitou, observando. — Neutro. — Minha voz cortou firme. — Hoje, quero que notem as palav
POV Isabela Fiquei encarando a tela preta do celular como se ela pudesse me devolver a voz que acabara de sumir. O coração não disparou. Não sou dessas. Mas havia algo naquela entonação, grave, controlada, quase íntima que me fez prender a respiração por segundos. “Você não faz ideia de quem realmente está na sua mesa.” Mesa. Palavra escolhida de propósito. Não era cama, não era palco, não era escritório. Mesa. Como se a ameaça estivesse naquilo que deveria ser mais simples: partilhar refeições, brindar alianças, selar acordos. Meu pai sempre dizia que jantar era guerra educada. Talvez a ligação fosse um lembrete de que eu não deveria esquecer isso. Guardei o celular. Respirei fundo e voltei a observar a cidade pela janela do carro. As ruas corriam sob as rodas como um tabuleiro em movimento. Eu só precisava escolher onde colocar minhas peças. — Está tudo bem, senhora? — perguntou Nivaldo, os olhos rápidos pelo retrovisor. — Tudo, mas quero voltar para casa. — respondi, seca, mas
Último capítulo