POV Isabela
A manhã começou com uma calma estranha, quase artificial. O tipo de silêncio que antecede uma tempestade. Na Fundação, os corredores estavam movimentados como sempre, papéis nas mãos, telefonemas urgentes, reuniões intermináveis, mas havia algo no ar. Uma energia densa, que eu aprendi a reconhecer desde cedo. O cheiro de jogada política.
Sentei-me à cabeceira da mesa de reuniões. O comitê de projetos sociais estava quase completo. Arquivos empilhados, apresentações abertas em laptops, cafés fumegantes espalhados pelas bordas. Fiz questão de chegar dez minutos antes. Presença é poder, e eu gostava que os outros percebessem quando entravam e já me encontravam ali, esperando.
Foi então que ela chegou. Lívia. O salto fino ecoou antes que seu rosto aparecesse na porta. Vestido justo demais para uma reunião administrativa, maquiagem calculada para parecer “casual”, sorriso pronto. Eu não precisei perguntar quem a havia colocado ali. Daniel não seria tão óbvio, mas também não era