POV Isabela Costa
Acordei com o corpo latejando. Cada movimento parecia ecoar a noite anterior. O travesseiro ainda tinha o cheiro do quarto, aquele aroma amadeirado que antes me acalmava e agora me embrulhava o estômago. Me virei devagar, os músculos tensos, como se meu próprio corpo quisesse esquecer o que suportou.
Daniel dormiu no outro quarto. O silêncio da casa era mais pesado do que qualquer grito que ele pudesse ter dado. Me sentei na cama, com as mãos apoiadas nos joelhos, tentando lembrar de quem eu era antes de tudo isso. As marcas no meu braço haviam escurecido. No pescoço, uma sombra roxa desenhava o rastro da violência que ele nunca admitiria. Passei a ponta dos dedos sobre a pele. Não havia dor, só raiva. E uma espécie de vazio que me consumia devagar.
Levantei e caminhei até o espelho. Me encarei por alguns segundos. Eu parecia intacta. Maquiagem leve, cabelo preso, olhos firmes. Mas só eu sabia o quanto cada centímetro daquele reflexo doía. Vesti uma blusa de gola alt