POV Isabela Costa
O comitê estava mais caótico que o normal naquela manhã. Assessores cruzavam os corredores falando ao telefone, caixas de brindes eleitorais empilhadas perto da porta e, no centro de tudo, meu pai esbravejando por causa de uma entrevista cancelada. A eleição estava se aproximando. E com ela, a pressão. Mas eu já estava aprendendo a andar entre o caos com os olhos firmes e os ouvidos seletivos. Passei pela sala principal e encontrei Leonel recostado no batente da porta da comunicação, digitando rápido no celular.
— Precisa de mim por aqui? — perguntei.
Leonel me olhou. Por um segundo, aquele olhar demorou demais para voltar ao neutro. Quase como se tivesse esquecido que precisava manter distância.
— Você já fez o suficiente hoje, Isabela. Vai... respira um pouco. Mas fica atenta, seu pai quer você ao lado dele na coletiva amanhã cedo.
— Eu estarei.
Comecei a me afastar, mas parei antes da porta.
— Leonel...
Ele ergueu os olhos.
— Obrigada por ontem.