Mundo ficciónIniciar sesiónSigo Antony pra fora, o ar frio de Nova York batendo na minha pele como um tapa. O apartamento dele é pequeno, alugado, com uma mala aberta num canto e uma jaqueta de couro jogada no sofá. O chapéu cai no chão quando ele me puxa pra perto, e o nervosismo me consome, um nó apertado no estômago. Ele me guia até o quarto, a luz fraca de um abajur lançando sombras suaves nas paredes, e eu sinto cada batida do meu coração como um tambor.
— Tá tudo bem? — ele pergunta, parando, os olhos cor de mel procurando os meus. A voz é gentil, quase um sussurro, e ele segura minha mão, o toque quente e firme contra meus dedos trêmulos.
— Tô... só um pouco nervosa — admito, mordendo o lábio, o rosto quente. — É minha primeira vez.
Ele sorri, não com arrogância, mas com uma suavidade que me desarma, como se ele soubesse exatamente o peso que carrego.
— A gente vai no seu ritmo, Carol — diz, a voz baixa, rouca, como se fosse uma promessa. — Se quiser parar, é só falar.
Assinto, o nervosismo ainda lá, mas misturado com uma faísca que faz minha pele arder. Ele me beija, e o mundo se dissolve. O beijo começa lento, hesitante, os lábios dele macios, com um leve gosto de cerveja e algo que é só dele. Minhas mãos encontram os ombros dele, sentindo a tensão dos músculos sob a camisa, e o beijo se aprofunda, quente, urgente, como se estivéssemos correndo contra o tempo. O vestido preto desliza pro chão, e eu me sinto exposta, vulnerável, mas os olhos dele — aqueles malditos olhos cor de mel — me encaram como se eu fosse a única coisa no mundo que importa.
As mãos dele, calejadas de quem trabalha sob o sol, traçam caminhos na minha pele, lentas, quase reverentes, mas com uma intensidade que faz meu corpo tremer. Cada toque é uma descoberta, como se ele estivesse desenhando um mapa em mim, e eu me entrego, o nervosismo se transformando em desejo. O quarto parece pequeno, o ar pesado com o calor dos nossos corpos, o som da respiração dele misturando-se com a minha. Ele sussurra meu nome, a voz rouca, grave, e é como se acendesse algo dentro de mim, uma chama que não sabia que existia. Meus dedos enroscam-se no cabelo curto da nuca dele, e eu puxo, querendo mais, querendo tudo. A dor é breve, um instante que se dissolve no prazer, na proximidade, na forma como ele me segura como se eu pudesse quebrar, mas também como se eu fosse forte o suficiente pra enfrentar o mundo. É intenso, avassalador, e por um momento, esqueço os planos, as expectativas, e só sinto — o calor da pele dele, o peso do corpo dele, a forma como ele me faz sentir viva, desejada, livre.
Quando termina, estou deitada ao lado dele, o coração ainda acelerado, a respiração entrecortada. Ele me puxa pra perto, e eu descanso a cabeça no peito dele, ouvindo o som firme do coração, como um tambor que ecoa no silêncio do quarto. O calor do corpo dele é reconfortante, mas uma parte de mim — a Carol dos planners, das anotações coloridas — já está voltando, sussurrando que isso foi um erro, uma noite fora do roteiro. Não posso deixar que mude quem sou.
Na manhã seguinte, a luz do sol entra pelas cortinas finas, pintando o quarto de tons dourados. Antony dorme ao meu lado, o rosto suavizado pelo sono, os cabelos castanhos bagunçados, a barba rala sombreando o queixo. Sem o chapéu de cowboy, ele parece quase vulnerável, mas também perigoso — não por quem ele é, mas pelo que representa. Ele é o tipo de homem que atira o roteiro da minha vida pro alto, que bagunça tudo com um sorriso torto e olhos que prometem mais noites como essa. Meu peito aperta, uma mistura de culpa e algo que não quero nomear. Ele não cabe nos meus planos. Nova York, a faculdade, o estágio — esse é o meu futuro, não um cowboy que provavelmente volta pro Texas hoje.
Levanto-me devagar, o corpo ainda carregando a memória da noite, uma mistura de dor suave e calor. Pego minhas roupas espalhadas pelo chão, o vestido preto amassado, e me visto rápido, o coração batendo forte. Não posso ficar. Não posso deixar que ele me convença a ficar. Antes de sair, pego um batom na bolsa. E escrevo no espelho do banheiro, as letras vermelhas brilhando contra o vidro: “Foi uma bela noite, cowboy.” É o mais próximo de uma despedida que consigo oferecer. Fecho a porta do apartamento em silêncio, o ar frio de Nova York me envolvendo enquanto caminho de volta pro dormitório, repetindo pra mim mesma que foi só uma noite, que minha vida continua igual. Mas o vazio no peito diz que talvez eu esteja mentindo.
No dia seguinte, encontro Evelyn no nosso café favorito, um lugarzinho escondido perto da NYU, com mesas de madeira gastas e o cheiro de café moído no ar. Estou exausta, o corpo ainda carregando ecos da noite, mas um sorriso teimoso insiste em ficar no meu rosto, mesmo com a culpa cutucando. Conto a ela sobre Antony , omitindo os detalhes mais íntimos, mas não o bastante pra evitar o brilho nos olhos dela.
— Sua nerd! — Evelyn exclama, batendo na mesa, o café quase derramando da xícara. — Você, a rainha dos planners e anotações coloridas, foi pra cama com um cowboy? Conta tudo!
— Não foi... assim tão planejado — admito, brincando com a xícara, o calor do café aquecendo minhas mãos. — Ele é... diferente. Mas foi só uma noite, Evelyn. Não vou vê-lo de novo.
Ela ri, o som alto o suficiente pra fazer o cara da mesa ao lado olhar torto.
— Diferente, é? — provoca, arqueando uma sobrancelha. — Sei. Aposto que você tá pensando naquele sotaque caipira agora.
— Não tô, não — minto, sentindo o rosto esquentar. — Foi só uma noite fora do roteiro. Minha vida é aqui.
— Sei — ela diz, o tom cheio de descrença. Mas logo o rosto dela muda, a raiva voltando como uma tempestade. — Por falar em caipiras, você não vai acreditar no que aquele amigo dele, Nathan, fez.
— O que aconteceu? — pergunto, já prevendo o drama. Evelyn não leva desaforo pra casa.
— Ele veio com aquele sorrisinho arrogante, perguntando se eu ia dormir com ele — ela diz, os olhos faiscando de raiva. — Como se eu fosse só mais uma conquista! Eu disse não, óbvio, e sabe o que ele fez? Jogou uns trocados na minha mão e disse pra eu pegar um táxi porque ele ia procurar “outra mulher que fosse menos complicada”. Dá pra acreditar?
— Ele disse isso? — pergunto, chocada, mas não surpresa. Nathan parecia o tipo que gosta de provocar.
— Pois é! — Evelyn continua, a voz subindo, as mãos gesticulando. — Eu joguei o dinheiro na cara dele e disse que ele podia enfiar a arrogância no lugar onde o sol não b**e. Aquele idiota!
Rio, mesmo sabendo que Evelyn tá fervendo.
— Parece que vocês dois se odiaram à primeira vista.— Ódio é pouco — ela resmunga, mas há um brilho estranho nos olhos dela, como se parte dela tivesse gostado do confronto. — Ele que não cruze meu caminho de novo.
Balanço a cabeça, tomando um gole de café, o sabor amargo me ancorando de volta à realidade. Minha mente insiste em voltar pra Antony — o calor dos olhos dele, o toque calejado, a mensagem no espelho. Tento me convencer que foi só uma noite, que ele não tem lugar no meu futuro. Minha vida é aqui, entre livros, provas e sonhos de ser advogada. Um cowboy do Texas não cabe no meu roteiro. Mas enquanto Evelyn fala, o vazio no peito cresce, e uma vozinha traiçoeira sussurra que talvez, só talvez, eu queira que ele bagunce tudo de novo.
— Vamos focar nos estudos, Evelyn — digo, tentando soar firme, a xícara quente entre as mãos.
— Combinado — ela responde, mas o sorriso dela diz que não acredita em mim. E, no fundo, nem eu acredito.







