Mundo ficciónIniciar sesiónCarol
O dormitório da NYU é um caos organizado, com vozes ecoando pelos corredores, portas batendo e o som abafado de uma música pop que não identifico. Estou enfiada no meu quarto minúsculo, sentada à escrivaninha que já viu dias melhores, com um marca-texto amarelo na mão e um livro de Direito Constitucional aberto. Meus cabelos negros caem no rosto, atrapalhando a leitura, e eu os prendo com um elástico, suspirando. Nova York é um furacão — buzinas, luzes neon, multidões —, mas é o meu lugar. Aqui, estou construindo meu futuro, o sonho que carrego desde que saí do Brasil aos 18 anos: ser advogada, chegar ao topo, provar que posso. Só que Evelyn, minha melhor amiga, acha que estou vivendo errado.
— Carol, pelo amor de Deus, larga esses livros! — Evelyn irrompe no quarto como um tornado, os cabelos ruivos brilhando sob a luz fraca da luminária, os olhos castanhos faiscando de impaciência. Ela é pequena, com a pele pálida salpicada de sardas, mas tem uma energia que faz o ar vibrar. — Você tem 21 anos e vive como se estivesse num convento. Hoje você vai comigo pra balada, e não tem discussão!
— Evelyn, eu tenho prova na segunda — retruco, apontando para as anotações espalhadas, cheias de post-its coloridos e marcações precisas. — Não tenho tempo pra isso.
— Prova na segunda, blá-blá-blá — ela zomba, já revirando meu armário como se fosse dona dele. — Você é alta, magra, com esses olhos castanhos que poderiam derrubar um exército, e tá se escondendo atrás de livros. Só uma noite, Carol. Vive! — Ela j**a um vestido preto na cama, justo e curto, que eu nem lembrava que tinha.
— Eu não sou de baladas, você sabe — murmuro, mas sinto minha resistência fraquejar. Discutir com Evelyn é como tentar segurar uma tempestade com as mãos.
— Exatamente por isso! — ela dispara, cruzando os braços, o rosto vermelho de irritação. — Você precisa de uma pausa, de algo que não seja só estudar e sonhar com tribunais. Uma noite não vai te matar.
Suspiro, sabendo que não vou vencer essa batalha. Evelyn é um rolo compressor quando quer algo, e, no fundo, uma vozinha traiçoeira sussurra que ela pode estar certa. Minha vida é uma linha reta: faculdade, estágio, sono. Talvez uma noite fora da curva não destrua meus planos.
— Tá bem — cedo, levantando as mãos em rendição. — Mas só por algumas horas, e eu não vou beber.
— Isso! — Evelyn b**e palmas, o sorriso iluminando o quarto como se ela tivesse ganhado na loteria. — Agora vai tomar banho, porque você tá com cara de quem passou o dia na biblioteca. E tira esses óculos, usa lente hoje!
Reviro os olhos, mas obedeço, porque com Evelyn não tem meio-termo. No chuveiro, a água quente desliza pela minha pele, levando um pouco da tensão acumulada. Penso em como minha vida mudou desde que cheguei a Nova York. Vim com uma bolsa de estudos, um plano traçado e a determinação de não falhar. Mas às vezes sinto a cidade me engolir — as expectativas, o medo de não ser suficiente. Talvez Evelyn tenha razão. Uma noite não vai mudar quem eu sou. Ou pelo menos é o que digo a mim mesma.
Horas depois, estou na balada, e cada segundo me faz querer correr de volta pro dormitório. O som alto pulsa nos meus ouvidos, as luzes estroboscópicas me deixam tonta, e o vestido preto — justo demais, curto demais — me faz sentir como se todos os olhos estivessem em mim. Seguro um refrigerante quente, encostada num canto, enquanto Evelyn dança no meio da pista, os cabelos ruivos voando como uma chama viva. Ela parece em casa, enquanto eu me sinto um peixe fora d’água, contando os minutos pra ir embora.
— Parece que você tá tão perdida quanto eu — uma voz grave corta o barulho, com um sotaque que não pertence a Nova York. Viro-me e dou de cara com ele: alto, musculoso, com um chapéu de cowboy que parece ridículo aqui, mas que, de algum jeito, combina com ele. Seus olhos cor de mel brilham sob a luz fraca, e ele sorri, um sorriso torto que faz meu estômago dar um salto traiçoeiro.
— Não sou muito de baladas — admito, sentindo o calor subir às bochechas enquanto ajeito uma mecha de cabelo. — Carol.
— Antony — ele diz, estendendo a mão, que engole a minha quando aperto. A pele dele é calejada, quente, e o toque envia um arrepio que eu tento ignorar. — Vim com uns amigos, mas eles me abandonaram na pista. — Ele aponta pra um grupo de caras rindo alto no outro canto, e noto um deles, moreno, alto, com um sorriso sarcástico, flertando com Evelyn. Devem estar se dando bem, penso, antes de voltar minha atenção pra Antony .
— Um cowboy em Nova York? — pergunto, arqueando uma sobrancelha, a voz carregada de sarcasmo. — Tá perdido?
Ele ri, o som grave e quente, como uísque escorrendo por uma fogueira.
— E você, princesinha da cidade grande? — retruca, inclinando a cabeça, o chapéu sombreando metade do rosto, mas os olhos fixos nos meus. — Veio dançar? Tá com cara de quem quer fugir.
— Talvez eu fuja — digo, cruzando os braços, o refrigerante esquecido na mão.
— Boa sorte fugindo de mim — ele provoca, o sorriso torto crescendo. — Tenho costume de laçar tudo que quero.
Reviro os olhos, mas não consigo segurar o sorriso. Ele é irritante, com esse jeito confiante de quem acha que o mundo gira ao redor dele, mas há algo nos olhos cor de mel, na forma como ele se inclina um pouco mais perto, que faz meu coração acelerar. Antes que eu perceba, estamos conversando há horas, sentados num canto do bar, o barulho da balada virando um ronco distante. Ele fala do Texas, de rodeios, de um rancho que parece saído de um filme, e eu conto sobre o Brasil, meus estudos, a pressão de ser perfeita. Ele ri quando falo do açaí, e eu zombo dele por nunca ter saído do interior. É fácil, natural, como se nos conhecêssemos há anos.
— Quer sair daqui? — ele pergunta, a voz mais baixa, os olhos brilhando com algo que faz minha pele formigar. — Meu apartamento é pertinho. A gente pode continuar conversando... ou não.
Engulo em seco, o coração disparado. Sou virgem, nunca fiz nada assim. Minha vida é planejada, controlada, e isso é o oposto de tudo o que sou. Mas aqueles olhos, aquele sotaque, a forma como ele me faz sentir viva — tudo isso me puxa como um ímã.
— Tá — digo, quase sem acreditar nas minhas próprias palavras, o peito apertado de excitação e medo. — Vamos.
Aviso Evelyn, que está ocupada discutindo com o cara moreno, Nathan. Ela me lança um olhar avaliador, depois encara Antony .
— Cuida dela, cowboy, ou arranco seus testículos — ela avisa, o tom meio brincalhão, meio sério.
— Como se fosse uma rosa — Antony responde, o sorriso confiante, enquanto Nathan sussurra algo pra Evelyn, que revira os olhos, mas sorri pra mim.
— Se diverte e atende o celular quando eu ligar — ela diz, antes de voltar pro embate com Nathan.







