Capítulo 4

Antony

Entro no escritório do rancho, um quarto bagunçado com pilhas de papéis, fotos antigas na parede e o cheiro de couro velho e café frio. Meu pai sentava aqui, administrando tudo com uma precisão que eu nunca vou ter. Minha mãe montou o próprio escritório do outro lado da casa, dizendo que este seria meu, mas não consigo ficar mais que dois minutos encarando os papéis. O último a mexer nisso foi Brian. Ele disse que nosso pai ia querer o escritório arrumado, mas não durou nem um dia — largou tudo e foi pro bar, voltando com cheiro de uísque e um sorriso torto. Saio do escritório com essa lembrança pesando no peito e dou de cara com minha mãe na varanda, o olhar severo dela me avisando que vem bronca.

— Antony , precisamos conversar — ela diz, a voz cortante como uma faca, os braços cruzados, a postura rígida como sempre. O cabelo loiro tá preso num coque impecável, e o vestido verde-escuro parece mais um uniforme de guerra que uma roupa.

— Mãe, agora não — retruco, tirando o chapéu e passando a mão pelo cabelo úmido de suor. — Tô lidando com o gado hoje.

— Lidando com o gado? — ela repete, o tom amargo, quase venenoso. — Você não pode continuar fugindo dos negócios, Antony . O rancho é seu legado, não um hobby que você abandona pra brincar de cowboy no rodeio.

— Não é brincadeira — disparo, o sangue subindo. — O rodeio me mantém vivo. Você cuida disso tudo melhor que eu jamais faria.

— Vivo? — ela corta, os olhos faiscando com uma mistura de raiva e dor. — Brian... Brian teria assumido se você não quisesse. Eu o convenci, Antony . Ele era brilhante, ia levar os negócios adiante, mas a tragédia nos tirou ele. Agora só resta você.

As palavras me acertam como um soco no estômago. Brian era o cara dos números, o moleque que admirava meu pai e sonhava em ser como ele, mesmo sendo irresponsável às vezes. Eu sou o herdeiro, o milionário que prefere o risco do touro ao conforto do dinheiro, e a culpa por isso me engole vivo. Quero gritar que preciso de liberdade, que o administrar me sufoca, mas, no fundo, sei que ela tem razão. Esse é o nosso legado, e eu tô deixando ele escapar pelos dedos.

— Eu vou assumir, mãe — digo, a voz baixa, quase engasgada. — Mas no meu tempo. Preciso de espaço.

— Não pode passar o resto da sua vida delegando o seu trabalho para Caleb, seu pai se envergonharia disso, Antony . — A acusação me fere, mas era a verdade. Minha mãe cuidava das empresas herdadas por seus pais, porém o rancho, a fazenda e tudo que meu pai construiu ela deixou sob meu comando, e eu admito que, desde que meu pai morreu, entreguei a Caleb essa função, e quando tentei voltar, Brian morreu e me afastei de novo.

— Eu sei... Irei voltar.

Ela assente, mas o olhar dela é duro, como se eu fosse uma decepção ambulante. Saio da varanda, o peso da conversa me arrastando pro chão, o sol quente nas costas como um castigo. O rancho, o dinheiro, o legado — tudo parece vazio sem as risadas de Brian, sem o moleque que me fazia sentir que valia a pena. E então, penso em Carol, na única noite em que o buraco no peito não existiu. Ela escapou, como tudo que me importa, mas a lembrança dela — o jeito que ela revirava os olhos, o sorriso tímido, o fogo nos olhos castanhos me faz querer voltar para nova york andar por todos os dormitórios da faculdade até encontrá-la 

Meu celular toca, quebrando o silêncio do pátio. É Nathan, o tom sarcástico do outro lado da linha, como sempre.

— Antony , uma garota brasileira tá te procurando — ele diz, rindo. — Encontrei sua garota, cowboy. Me deve uma.

Meu coração para, o ar preso nos pulmões. 

— Como assim? — pergunto, a voz saindo mais alta do que pretendo, as mãos apertando o celular.

— A amiga decidiu me ligar. Eu sabia que ela ia guardar meu número, todas sempre voltam pro Nathan — ele explica, ainda rindo. — Sua garota falou comigo, tava estranha. O que você fez, cowboy? Vou te passar o número.

— Manda agora — digo, o sangue correndo quente, uma faísca de esperança acendendo pela primeira vez em meses.

O número chega, e eu ligo na mesma hora, o coração batendo como se eu estivesse montando um touro de verdade. Não quero esperar nem um segundo.

Carol atende, a voz suave, mas hesitante, com aquele sotaque brasileiro que enrola as sílabas de um jeito que me faz sorrir.

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