Casamento por Contrato. Homem casando para gerar um herdeiro. Homem casando para fazer a última vontade do pai, que tem pouco tempo de vida. Mocinha corajosa, lutadora, batalhadora. Gravidez. Funcionaria e chefe. Quando Eun-woo descobre que seu pai está com câncer terminal, sua vida muda para sempre. Herdeiro de uma empresa de prestígio, acostumado à liberdade e à superficialidade dos relacionamentos, ele se vê diante de um último pedido: casar-se, formar uma família e dar continuidade ao legado da família. Mas como se entregar ao amor quando se passou a vida inteira fugindo dele? Ele não acredita no amor. Não mais. Até conhecer Soo-ah — uma mulher enigmática, de olhos tristes e passado escondido, que surge em sua vida como um sussurro no meio do caos. Ela não é o tipo de mulher que ele procuraria. Mas é exatamente quem ele precisava encontrar. À medida que se aproxima dela, Eun-woo descobre que Soo-ah também guarda dores que não foram ditas, memórias apagadas, e uma tristeza que se assemelha à dele. Juntos, eles caminham por um inverno onde o amor não é imediato — mas é real. E pode curar. Uma história sobre segredos, perdas e encontros que mudam tudo. Porque, às vezes, o amor mais verdadeiro é aquele que nasce do inesperado — e floresce onde ninguém acreditava mais.
Leer másPouco depois dos últimos raios do sol desaparecerem no horizonte, os primeiros flocos de neve começaram a cair em Seul.
Pessoas abriram seus guarda-chuvas, outras preferiram, com o rosto iluminado de alegria, deixar que os flocos de neve caíssem sobre suas cabeças.Eu tinha acabado de sair do restaurante. Sentia um frio que não vinha apenas do clima — era algo mais profundo, uma solidão que insistia em me acompanhar. O jantar havia sido apenas comigo mesmo. A comida estava boa, o ambiente agradável, mas nada disso parecia preencher o vazio que me acompanhava naquela noite.
As ruas começavam a se cobrir de branco, e o som abafado dos passos na neve dava à cidade um ar de sonho, como se tudo estivesse suspenso no tempo. Caminhei sem rumo por alguns minutos, as mãos enfiadas nos bolsos do sobretudo, observando vitrines iluminadas e casais rindo juntos em cafés aconchegantes.
Lá fora, o mundo parecia celebrar algo — talvez o simples milagre da primeira neve. Lá dentro, no meu peito, havia um silêncio pesado, como se eu esperasse por algo que não sabia nomear. Mas mesmo assim, continuei andando, deixando que os flocos de neve caíssem sobre mim também, como se, aos poucos, eles pudessem levar embora a tristeza e me lembrar de que, mesmo nas noites mais solitárias, a beleza ainda encontra um jeito de cair do céu.
A minha tristeza devia-se ao fato do meu pai ter sido diagnosticado com câncer, e tal notícia me arrasou profundamente. Meu pai e minha mãe sempre foram tudo para mim — meu alicerce, meu exemplo, minha casa.
Antes desse diagnóstico horrível, eu estava feliz. Sentia que finalmente minha vida começava a tomar forma. Meu pai havia me colocado à frente dos negócios da família, e isso para mim significava mais do que confiança profissional — era uma espécie de reconhecimento, uma passagem de bastão. Ele me disse que confiava em mim, afinal, meus trinta anos haviam chegado, e ele via em mim o homem que ele havia moldado com tanto esforço e carinho.
Mas tudo mudou naquele dia. Havia outra coisa que me assombrava além da doença. Era a lembrança vívida da conversa que tivemos. Ainda ecoava em minha mente, como um filme que se repete todas as noites antes de dormir.
— Eu tenho câncer — ele disse, direto, sem rodeios, ali no escritório de casa, com a calma de quem fala sobre o tempo.
— Tá de brincadeira comigo? Você é o coroa mais saudável que eu conheço. Gosta de pregar peças, não é? Pois saiba que eu não gostei dessa brincadeira.
— Não é brincadeira, filho — ele respondeu, sério.
Senti um nó se formando na garganta, uma dor surda que eu não sabia onde começava nem como conter.
— Sério?
— Sério.
— Não pode ser... — minha voz falhou, e antes que eu percebesse, as lágrimas já escorriam pelo meu rosto.
— Não vai chorar — ele disse, com a firmeza de quem sempre tentou me ensinar a ser forte, mesmo quando tudo parecia ruir.
— Pai...
— Com quimioterapia, posso ter mais uns três anos... talvez quatro.
— A mãe sabe?
— Claro que sabe. Eu e sua mãe não escondemos nada um do outro. Somos parceiros em tudo. Nos amamos. E antes de partir, Eun-woo... — ele fez uma pausa — antes de partir, eu gostaria de ver você com uma esposa como a sua mãe. Não só uma esposa, filho. Eu quero segurar um neto nos braços. Quero deixar este mundo sabendo que o nosso nome continuará através de você e do seu filho.
Eu o abracei com força, desmoronando em seus braços. Chorei tudo o que estava preso dentro de mim, como se pudesse, com cada lágrima, lavar a dor que nascia em silêncio.
Depois de um tempo, ele me afastou levemente, segurando meus ombros com firmeza.
— Ouviu o que eu disse, Eun-woo? Antes de morrer, quero que você se case com uma boa mulher. Quero ver você formar uma família.
— Pai... você sabe que eu nunca pensei em me casar. Um casamento perfeito como o de vocês é uma exceção. As mulheres hoje em dia... elas só querem dinheiro, status. Eu prefiro usá-las sem compromisso. Sem me envolver.
— Nem se fosse para realizar o último desejo do seu pai?
Aquilo me calou. Seu olhar estava firme, determinado, mas com uma ternura que me desmontava. Ele ainda parecia tão forte. Quem o visse, não imaginaria que uma doença silenciosa e impiedosa já trabalhava dentro dele, pouco a pouco...
Cinquenta e quatro anos. Ele só tinha cinquenta e quatro anos. Ainda jovem. Ainda com tanto a viver...
Por isso saí para jantar sozinho naquela noite. Precisava de silêncio. De um tempo longe de todos, de tudo. Não me atrevi a beber nem uma garrafa de soju. Eu queria estar sóbrio — lúcido — para pensar com clareza sobre o que faria.
Eu podia simplesmente seguir minha vida como estava, continuar evitando compromissos, aproveitando minha liberdade. Mas e o desejo do meu pai? O último pedido de um homem que me deu tudo, que sacrificou sua vida por mim, que me moldou e acreditou em mim?
Naquela noite, sob a neve que caía em silêncio sobre Seul, pensei que talvez... talvez fosse hora de mudar. Talvez fosse hora de amar. Não por obrigação, mas por esperança. Por ele. Por mim. Por aquilo que ainda poderia nascer, mesmo em meio ao inverno.
O nosso apartamento virou uma pequena creche improvisada, cheia de risos e choros, e mamadeiras, com nossos dois filhos, os dois irmãos de Soo-ah, e a filha de Tae-ho, que era sobrinha de Soo-ah, e virou minha sobrinha também.Era uma casa cheia — de crianças, de responsabilidades, de amor. Mas acima de tudo, era uma casa onde havia vencido a verdade, e onde a esperança renascia a cada novo dia.Havíamos contratado duas babás para ajudar Soo-ah a dar conta de tudo. E quando eu estava em casa, também ajudava a cuidar das crianças. Nos tornamos uma equipe, um time incansável em meio à nossa bagunça familiar. Cada choro era acolhido, cada risada celebrada.Um ano se completou desde a morte do meu pai. Organizamos uma cerimônia íntima na casa de campo, onde ele mais gostava de estar. A saudade ainda era gigante. A casa estava silenciosa naquele fim de tarde frio, e todos os convidados vestiam tons escuros. As crianças, ainda pequenas, não entendiam muito bem o significado daquela reunião,
Soo-ah e a sogra seguiam de óculos escuros, cada uma com um lenço na mão, atrás do caixão que era levado por quatro homens, enquanto faziam o caminho pelo cemitério até o túmulo da família de Eun-woo.O céu estava cinza, nublado, como se até ele respeitasse o luto. O som abafado dos passos na terra úmida e das lágrimas contidas era tudo que se ouvia.Todos os funcionários da empresa vinham logo atrás delas, enlutados, muitos com os olhos marejados. Go-eun a secretária, uma das mais próximas da família, levava flores brancas nas mãos, com a cabeça baixa.Um dos homens que carregava o caixão, à frente, do lado direito, era visivelmente mais forte e atlético. Os outros três pareciam mais idosos ou frágeis, mas todos com semblantes pesados, marcados pela dor.Soo-ah apertou o lenço contra os olhos por trás dos óculos escuros, tentando conter as lágrimas que pareciam não parar de cair. A sogra, ao lado, fazia o mesmo. Ambas sabiam que aquele momento deixaria um vazio imenso em suas vidas.
Era pra ser apenas um final de semana tranquilo.A casa de campo estava cheia de risadas. Soo-ah cortava frutas para a sobremesa, minha mãe brincava com os netos na sala e meu pai assistia ao noticiário, com aquele costume irritante de comentar cada manchete como se fosse analista político. Nosso segundo filho tinha nascido fazia poucos meses. Era bonito, calmo, e seus olhos lembravam tanto os de Soo-ah que eu ficava perdido neles às vezes.De repente, o som de um carro nos chamou a atenção.Levantei devagar. Meu coração começou a bater forte, como se tivesse antecipando o que estava por vir. Quando abri a porta, senti o ar me deixar por um segundo.Era ela.Tae-ho.O cabelo estava preso num coque improvisado, os olhos faiscando com a segurança de quem acreditava ter um trunfo nas mãos. Mas o que mais chamou a atenção — e chocou a todos ali — foi o ventre protuberante. Uma barriga de grávida, avançada, impossível de ignorar.Não me surpreendi.Eu já esperava isso. Desde a noite em que
O sol brilhava com força naquela manhã, mas para Soo-ah, a luz parecia quase surreal. Era como se o mundo lá fora estivesse esperando por ela, congelado no tempo, e agora finalmente descongelava aos poucos, devolvendo-lhe o ar, o calor… a liberdade.Ela deu os primeiros passos para fora do portão do presídio, vestida com roupas simples e o coração disparado. Cada batida era como um eco de tudo que suportara: os dias frios, as noites solitárias, os olhares hostis, a dor, o medo, o aperto no peito de estar longe de quem amava. E, por um momento, hesitou. Aquilo era mesmo real?Mas então, ela o viu.Eun-woo.De pé, no outro lado do portão, os olhos marejados, os ombros tremendo… e um buquê amassado nas mãos. Ele estava lá, como havia prometido. Como sempre esteve, mesmo quando o mundo inteiro parecia querer separá-los.Soo-ah começou a andar. Depois a correr. E no instante seguinte, ele jogou as flores de lado e correu até ela.O abraço foi forte, urgente, desesperado. Os dois caíram de
Eu estava dirigindo com as mãos trêmulas, como se o volante fosse escapar dos meus dedos a qualquer momento. A pasta com os documentos e o pen drive estava no banco do passageiro, como se fosse uma bomba-relógio prestes a explodir — ou talvez, a única coisa capaz de impedir que a vida da mulher que eu amava fosse destruída de vez.A cidade passava borrada pelo vidro do carro, luzes e sombras se alternando como num filme ruim. Meu coração estava acelerado, e mesmo com o ar-condicionado ligado, eu sentia o corpo suar por dentro. Eu ia conseguir. Ia entregar tudo. Soo-ah ia sair. Livre.Meu celular vibrou no painel. Era um número do hospital.— Alô?— Senhor Eun-woo? Aqui é do hospital penitenciário. Sinto muito informar, mas Mi-rae não resistiu. Ela faleceu há pouco, após uma parada cardiorrespiratória. Fizemos o possível...O resto da fala virou um zumbido na minha cabeça. A estrada pareceu desaparecer por um segundo, e precisei piscar com força para continuar vendo onde estava.Mi-rae
A sala de visitas da penitenciária parecia ainda mais fria naquela tarde. Havia um silêncio estranho entre os ruídos de passos e vozes abafadas ao fundo. Quando Eun-woo entrou, eu percebi logo que havia algo diferente. Seu olhar estava baixo, seus ombros pesados. Ele parecia mais velho, mais cansado. Mais desesperado.Sentei-me e esperei que ele dissesse algo. Mas ele só olhava para mim, como se estivesse buscando forças em cada traço do meu rosto.— O que foi? — perguntei, o coração já apertando no peito. — Aconteceu alguma coisa com a nossa filha?Ele balançou a cabeça, com lágrimas nos olhos.— Não... ela está bem. Minha mãe, meu pai, seus irmãos... todos estão bem. — Pausou. Respirou fundo. — Mas... tem algo que eu preciso te contar. E... preciso da sua permissão, meu amor. Permissão para... te trair.Meus olhos se arregalaram.— O quê?— Com Tae-ho. — Ele desviou o olhar, engolindo em seco. — Ela me fez uma proposta. Disse que se eu passar uma noite com ela... ela entrega provas,
Último capítulo