Mundo ficciónIniciar sesiónMeu pai havia ficado internado. E os meus irmãos precisavam comer.
Ali na porta daquele hospital, esperando saber notícias do meu paizinho, eu chorei. Chorei em silêncio, angustiada, devastada.
Por que o mundo era daquele jeito? Uns tinham rios de dinheiro e outros, nada!
Culpa de Deus, ou culpa de nós mesmos?
De Deus, eu sabia que não. De nós mesmos… às vezes sim, às vezes não.
Muitos vão à luta. Dão o seu sangue, o seu suor, mas nem sempre são valorizados, reconhecidos.
E outros não vão à luta, mas alguém os empurra… e eles decolam.
Roubar eu não ia. Pelo menos aquilo seria a última coisa que eu faria.
Mas meus irmãos… eles estavam com fome. E eu precisava fazer algo. Talvez um emprego e um adiantamento resolvessem por enquanto.
Pelo menos no hospital, meu pai teria comida. Isso era a única coisa boa até então.
Foi quando achei o jornal.
Estava revirando uma lixeira, tentando encontrar algo que servisse de alimento ou ao menos um pedaço de pano para tapar o frio, quando meus dedos esbarraram nas folhas amassadas.
No meio do papel molhado e rasgado, havia um anúncio ainda legível:
“Procura-se atendente para servir café. Sem experiência, treinamento incluso. GeumSeong Living. Apresentar-se pessoalmente.”
GeumSeong Living.
Aquela era a empresa que dominava o mercado de design de interiores de alto padrão e soluções inteligentes para casas luxuosas.
Todo mundo em Seul sabia que aquele nome era sinônimo de riqueza, tecnologia e perfeição.
Não ficava muito perto do hospital, mas eu iria a pé se fosse preciso.
E fui.
Caminhei por duas horas até chegar ao imponente edifício espelhado, com as letras douradas estampadas no topo: GeumSeong Living.
Me senti tão pequena ali em frente, com minha roupa rasgada, meu corpo exausto, meu rosto sujo. Mas mesmo assim, entrei.
Fui até a recepção e pedi para falar com o responsável pelas contratações.
Foi quando conheci Go-eun. A secretária da empresa. Fina. Fria. E escrota.
— Já preenchemos a vaga — disse ela, me olhando da cabeça aos pés, como se eu fosse um inseto nojento que ousava invadir seu impoluto ambiente.
— A vaga já foi preenchida!
— Não foi! — retruquei, com os olhos firmes, mesmo sentindo a garganta fechar.
— Se não sair, vou chamar os seguranças! Mesmo se a vaga ainda estivesse aberta, você jamais seria contratada! Olha a sua aparência! Você está fedendo a lixo!
Respirei fundo.
— Eu já estive em uma posição melhor… e agora estou assim. — Disse, abrindo os braços, expondo minha condição. — Olha, eu preciso desse emprego. Meu pai está no hospital, e os meus irmãos estão vivendo na rua, debaixo de uma barraca. Eles não têm o que comer.
Por um segundo, vi algo mudar no rosto dela. Go-eun hesitou. A raiva deu lugar a algo que poderia ser compaixão.
— Eu… o que posso fazer é lhe dar algum dinheiro. Mas eu seria despedida se contratasse você.
E foi quando ouvi.
Aquela voz.
Firme. Máscula. Familiar.
— Não seria não.
Me virei devagar, com o coração disparado.
E ali estava ele.
O príncipe da noite passada.
Eun-woo.
Com seu terno escuro impecável, os cabelos perfeitamente penteados, e aquele olhar firme que parecia atravessar a alma.
— Senhor... — Go-eun engasgou. — Eu... não sabia que...
— Ela é a candidata à vaga, não é? — ele disse, olhando diretamente para mim.
Assenti, sem conseguir falar nada.
— Então contrate-a. Agora.
Go-eun gaguejou algo inaudível e desapareceu.
Ele se aproximou de mim com calma, e o mundo pareceu parar por um instante.
— Eu achei que não fosse te ver de novo — ele disse, com um sorriso de lado.
— E eu achei que não ia conseguir chegar até aqui — respondi, ainda em choque.
— Você chegou. E agora, Soo-ah… — ele colocou a mão levemente em meu ombro — vamos mudar sua vida.







