Sentei no banco de uma praça, não me importando com a neve que caía sobre mim. Ela se acumulava lentamente sobre meus ombros, meus cabelos, como se quisesse me cobrir, me esconder do mundo. Mas eu não me mexia. O silêncio ao meu redor era uma espécie de anestesia, algo que me envolvia e acalmava.Não havia ninguém por perto. Só as árvores, que assim como eu, recebiam em silêncio a neve sobre seus galhos nus, seus poucos resquícios de folhas. Meus olhos se perderam na imagem das cerejeiras cobertas de branco — mesmo fora da primavera, elas ainda tinham uma beleza melancólica, como se carregassem memórias de flores que um dia foram.Mas então, algo quebrou a calmaria do meu olhar. Um movimento do outro lado da rua chamou minha atenção. Era um restaurante, não o mesmo onde eu havia jantado, mas outro, menor, mais discreto. E ali, no beco ao lado, perto das latas de lixo metálicas e empilhadas de forma desordenada, alguém se mexia.A silhueta estava encurvada, os gestos eram rápidos, apre
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