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Ela Atravessou os Anos Sombrios

Ela Atravessou os Anos SombriosPT

História Curta · Contos Curtos
Bailarina  concluído
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Resumo
Índice

No sexto ano de seu casamento com o Magnata Júnior de Cidade Novo Paulo, Mariana Soares decidiu criar um fundo fiduciário como presente para os filhos gêmeos. Depois que o funcionário analisou a documentação, ele balançou a cabeça, recusando: — Desculpe, este tipo de fundo só pode ser aberto por pais para seus filhos. Mariana ficou confusa por um instante e tentou explicar: — Eu forneci as certidões de nascimento. Sou mãe deles. O funcionário, no entanto, a encarou com um olhar estranho: — Senhora, hoje em dia as informações de identidade estão todas integradas no sistema. Um documento falso não passa na verificação. O sistema mostra claramente que o pai das crianças é Henrique Rocha, mas a mãe não é você. É uma mulher chamada Camila Cardoso. Ou seja, esses dois filhos, legalmente, não têm nenhuma relação com você. Mariana ficou completamente paralisada. Sua mente parecia ter parado, mergulhada em um vazio absoluto. Camila era o primeiro amor da vida de Henrique, a mulher que ele nunca conseguiu esquecer. Os dois haviam sido separados pelo ódio mortal entre as famílias Rocha e Cardoso. Fazia anos que eles não tinham nenhum contato. E agora, os filhos que Mariana carregou por nove meses, que ela quase perdeu ao dar à luz, eram oficialmente listados como filhos de Henrique e Camila. Como isso era possível?

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Capítulo 1

Capítulo 1

Mariana decidiu que precisava pôr a história a limpo com Henrique. Ela saiu apressada e foi diretamente ao Grupo Rocha. Após passar pela portaria e registrar sua digital, subiu ao andar mais alto, onde ficava o escritório do presidente.

A porta, entreaberta, deixava escapar vozes vindas de dentro.

— Henrique, a Camila volta do exterior hoje à noite. Você tem certeza de que vai mesmo organizar uma recepção para ela? Não se esqueça, as famílias de vocês são inimigas históricas.

— Não esqueci. — Henrique abaixou os olhos, sua expressão carregada de pesar, enquanto a voz saía contida, quase fria. — A regra da família Rocha é clara: nenhum membro pode se casar com uma mulher da família Cardoso. Eu já tenho minha própria família agora. A Camila é só... uma amiga.

— Amiga? Quando a Camila terminou com você e foi embora para o exterior, foi você quem ficou com os olhos vermelhos, dizendo que o resto da vida seria uma história de amor pela metade. E a Mariana? Ela é mesmo sua esposa? Você se casou com ela apenas porque ela se parece com a Camila. Usou técnicas de fertilização in vitro para que ela pudesse dar à luz os filhos que são seus e da Camila. Não importa o quanto as crianças se pareçam com a mãe, Mariana nunca desconfiaria. Pelo contrário, ela passaria a vida inteira dedicando todo o amor e cuidado a eles.

— Para ser sincero, eu até sinto pena dessa substituta. — Continuou o amigo, rindo com sarcasmo. — Ela é tão apaixonada por você. Se soubesse que ela não passa de uma barriga de aluguel e uma babá gratuita, tenho certeza de que ela perderia a cabeça.

Henrique baixou o olhar, sua voz se tornando amarga:

— Já que está fora de questão me casar com a Camila, poder criar os filhos dela já é o suficiente para mim.

Ele fez uma pausa, com o rosto tomado por uma expressão complexa, antes de completar, agora com um tom mais frio:

— Quanto à Mariana, ela nunca vai saber. Como compensação, ela será para sempre a invejada Sra. Rocha.

Do outro lado da porta, Mariana sentiu como se o chão tivesse desabado sob seus pés. Uma dor aguda explodiu em seu peito, como se estivesse sendo dilacerada por dentro.

Ela tropeçou pelos corredores, correndo em direção ao térreo. Lá fora, uma chuva torrencial caía, misturando-se com o turbilhão de suas memórias.

Seis anos antes, Mariana acabara de se formar na faculdade quando foi enganada pela própria família e levada para um encontro às cegas. O homem era muito mais velho, com uma expressão rude e repugnante. Sem qualquer cerimônia, ele tentou beijá-la com sua boca fétida.

Era um verdadeiro abismo, mas seus pais, desesperados para conseguir um dote de 200 mil reais e ajudar o irmão mais novo de Mariana, não hesitaram em drogá-la para forçá-la a entrar naquele pesadelo sem fim.

Mariana reuniu todas as forças para fugir e, por acaso, acabou entrando em uma suíte luxuosa. Já desorientada e febril, ela acabou caindo nos braços de um homem.

Seu corpo ardia como se estivesse em chamas, e ela, incapaz de se controlar, começou a rasgar a própria roupa, pressionando-se contra o peito dele.

— Por favor... Me ajuda... — Mariana implorou com a voz fraca.

O homem franziu a testa e tentou afastá-la, mas, ao ver seu rosto, seus olhos escureceram por um instante.

— Eu posso te ajudar, mas tem uma condição. — Ele segurou suas mãos e sua voz ganhou um tom rouco. — Eu amo alguém que não posso ter. Você se parece um pouco com ela. Eu posso ser seu remédio, e você será a substituta dela. Vai se casar comigo. Que tal?

Mariana sentiu como se tivesse levado um balde de água fria. A proposta absurda fez sua mente se clarear por um momento. Mesmo na pobreza, ela ainda tinha seu orgulho. Ser uma substituta era algo que ela jamais aceitaria.

Mas, quando se preparava para recusar, Mariana percebeu algo que a deixou sem palavras: o homem diante dela, impecável em seu terno e exalando uma elegância natural, era ninguém menos que Henrique, seu veterano da faculdade e sua paixão secreta por sete anos.

Henrique, que sempre fora seu sonho inalcançável, agora estava ali, olhando diretamente para ela.

Naquele instante, a razão de Mariana se rompeu. Sua voz trêmula saiu quase sem que ela percebesse.

— Fechado.

Ao ouvir a resposta, Henrique segurou sua nuca e a beijou. O toque suave e eletrizante dos lábios dele fez Mariana se perder completamente. Mesmo sabendo que era apenas uma substituta, ela se deixou levar. Afinal, ele era Henrique.

Logo, Henrique organizou um casamento grandioso para ela. Nos seis anos seguintes, ele se manteve como um marido exemplar, jamais se envolvendo com outras mulheres.

O que as outras damas da alta sociedade tinham, Mariana tinha em dobro. Em leilões, os itens mais valiosos sempre acabavam nas mãos da Sra. Rocha.

Durante sua gravidez de gêmeos, Henrique, que nunca tinha feito nada além de assinar contratos, começou a cozinhar para ela, preparando refeições cuidadosamente balanceadas.

Ele cancelou projetos bilionários para não perder nenhuma consulta médica dela e, com uma paciência infinita, dedicava-se à educação pré-natal, conversando e criando vínculos com os bebês ainda na barriga.

Quando as crianças nasceram, não importava o quão ocupado estivesse, ele sempre voltava para casa a tempo de passar tempo com os dois.

Todos diziam que o amor pelos filhos vinha do amor pela mãe. E Mariana acreditava que, com o tempo, Henrique tinha aprendido a amá-la de verdade, sem tratá-la apenas como uma substituta.

Mas agora ela sabia a verdade. Ele realmente amava a mãe de seus filhos. Só que essa mãe era Camila.

E ela, Mariana, não passava de uma substituta. Apenas um instrumento. E nada mais.

Mariana chorava desesperadamente sob a chuva torrencial, com o rosto já molhado de lágrimas e água da tempestade. No entanto, ela não se esqueceu de pegar o celular e ligar para o mordomo, pedindo que ele fosse buscar as crianças na creche.

Aquelas duas crianças não eram seus filhos biológicos, mas Mariana sempre fez tudo por elas. Durante cinco anos, ela cuidou de cada detalhe de suas vidas com amor e dedicação. Eles eram o seu mundo, a razão de sua existência. Agora, depois de descobrir a verdade, ela não fazia ideia de como encará-los.

Quando Mariana voltou para casa, completamente perdida, seu corpo inteiro estava encharcado.

— Mamãe chegou! — Gritou Leo Rocha, correndo para recebê-la.

— Mamãe tomou chuva! Vai tomar banho rápido, senão vai ficar doente! — Disse Susana Rocha, que também correu para ela.

Os dois, com as perninhas curtas, se apressaram em alcançá-la. Chegando perto, cada um segurou uma de suas mãos, conduzindo-a devagar para o andar de cima.

Mariana sentiu um aperto no peito e os olhos arderam. Ela tentou sorrir, mas o nó na garganta quase a impediu de falar:

— Não se preocupem...

Antes que pudesse terminar a frase, Mariana soltou um grito agudo:

— Ahhh!

O que ela jamais imaginava era que os dois filhos, com um movimento repentino e inesperado, a empurrariam com força. Sem qualquer chance de se equilibrar, ela caiu violentamente pela escada. Seu corpo rolou degrau por degrau, até que sua testa bateu em algo duro. O sangue começou a escorrer em um fio quente, e a dor lancinante fez com que ela fechasse os olhos com força.

— Oba! Mamãe está sangrando muito e já desmaiou! Agora ela não vai atrapalhar a gente de ir receber a tia Camila! — Disse Leo, rindo.

— Papai, vamos logo! Eu amo a tia Camila e quero muito vê-la agora! — Acrescentou Susana, com a voz doce e animada.

Mariana, caída no chão, com as pálpebras sujas de sangue, tentou abrir os olhos. Sua visão estava turva, mas ela conseguiu enxergar Henrique. Ele apenas franziu levemente a testa, sem qualquer traço de preocupação. Pouco depois, seu rosto voltou a uma expressão neutra, quase indiferente.

— A senhora fica sob os cuidados de vocês. — Ordenou Henrique aos empregados da casa.

Depois de dar a instrução aos empregados, ele se virou, pegou Leo e Susana pela mão e começou a caminhar em direção à porta.

— Eu já disse que, entre a tia Camila e a mamãe, vocês devem sempre escolher a tia Camila, sem hesitar. Mas, da próxima vez, tentem usar um método mais discreto. — Comentou Henrique, com a voz calma.

Leo, porém, balançou a cabeça, imitando o jeito dos adultos.

— Não precisa, papai. Mamãe é só uma dona de casa. Ela é super burra e sempre cai nas nossas brincadeiras. Eu invento qualquer desculpa e ela acredita na hora.

— Isso mesmo! — Concordou Susana, com a voz meiga. — E se a tia Camila puder ser nossa mamãe, nem me importo de empurrar a mamãe de novo. Se ela morrer, melhor ainda!

Henrique e as crianças continuaram andando, cada vez mais distantes. Nenhum deles olhou para trás, nem por um segundo.

Mariana estava ali, no chão frio, o corpo completamente paralisado pela dor. O sangue misturava-se às lágrimas em seu rosto. Apesar disso, seus lábios se curvaram em um sorriso.

Aquele era o homem que ela amava com todo o seu coração. Aqueles eram os filhos que ela arriscou a vida para dar à luz.

Eles nunca a consideraram parte de suas vidas. Nunca a amaram.

Mariana fechou os olhos, ainda sorrindo. Se eles nunca foram dela, então ela também não os queria.

Ela não queria mais nada.
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