Naquela noite, assim que Henrique chegou em casa, ele ordenou ao empregado que arrumasse as malas.
— O que aconteceu hoje será a última vez. Eu só estou limpando a bagunça que você causou. — Ele disse, franzindo o cenho ao olhar para Mariana. — Pare de sentir ciúmes dos outros e de agir feito uma inconsequente.
Depois de uma pausa, ele continuou:
— Camila ficou muito abalada e precisa de conforto. Vou ficar com ela nos próximos dias. Não se preocupe, eu não vou me casar com ela nem ficarei a sós com ela. Vou levar as crianças comigo.
Mariana achou aquilo uma ironia absurda.
Henrique podia até não ter se casado com Camila, mas já tinha dois filhos com ela. E ele podia alegar que não ficaria sozinho com Camila, mas o que realmente acontecia era que os quatro formavam uma "família feliz".
Por outro lado, Mariana sentiu um certo alívio. Pelo menos teria um pouco de paz.
Logo chegou o dia em que o acordo de divórcio entrou em vigor. Com os papéis do divórcio em mãos, Mariana sentiu como se tivesse despertado de um longo pesadelo. Ela estava prestes a ir embora quando Camila apareceu, acompanhada de dois seguranças.
— Vai mesmo usar um truque tão baixo quanto sumir de casa? — Camila perguntou, com um sorriso frio, ao ver as malas de Mariana. — Vadias como você sempre têm mil artimanhas.
Os olhos de Camila brilhavam com malícia, mas Mariana não queria prolongar a conversa. Sem perder tempo, ela tirou os papéis de divórcio da bolsa.
— Entregue isso ao Henrique por mim. O lugar de Sra. Rocha está livre. Eu não voltarei mais.
Camila pegou os documentos, folheou várias vezes e, ao perceber que eram reais, um brilho de alegria tomou conta de seu olhar. Em seguida, ela levantou a cabeça, com uma expressão distorcida de ódio:
— Sinto muito, mas, para mim, só os mortos não oferecem ameaça. Pode ficar tranquila, eu vou me tornar a única Sra. Rocha. E quanto aos seus dois bastardos, vou acabar com eles também!
Então até agora Henrique não havia contado a verdade sobre dois filhos para Camila. Mais irônico ainda era o fato de Leo e Susana protegerem tanto Camila e gostarem tanto dela.
Mariana estava prestes a responder quando sentiu um golpe na cabeça. Tudo ficou escuro. Quando recobrou a consciência, percebeu que estava amarrada à beira de um penhasco, com explosivos presos ao corpo.
Atrás dela havia um abismo assustador. Do outro lado estavam Camila, também amarrada, com uma expressão de ódio, e o sequestrador, observando tudo com um sorriso cruel.
— Só de pensar que você conseguiu ter filhos com o Henrique porque se parece comigo, eu fico furiosa! — Camila gritou. — Quero que você veja com seus próprios olhos Henrique e seus filhos escolhendo a mim. Quero que você seja reduzida a pó, só assim ficarei satisfeita!
Do nada, o rosto de Camila mudou. Ela ficou com uma expressão de pena e medo. Porque Henrique havia chegado com os dois filhos.
O sequestrador, com uma voz áspera e ameaçadora, declarou:
— Tragam o resgate. Eu deixo uma delas ir. Escolham!
O vento bagunçou os cabelos de Mariana, e ela ouviu a voz de Henrique tremer levemente:
— Eu quero as duas. Solte-as agora!
O sequestrador, porém, deu uma risada cruel:
— Não é assim que funciona. Só pode escolher uma, ou as duas morrem!
Os dois filhos ficaram desesperados.
— Papai, escolha a tia Camila! Eu só quero ela! — Gritou Leo.
— Mamãe sempre foi um peso. Se ela morrer, pelo menos não vai mais nos fazer passar vergonha. Eu quero a tia Camila como nossa nova mãe. — Disse Susana.
Henrique abriu a boca para repreendê-los, mas seu assistente sussurrou em seu ouvido:
— Sr. Henrique, descobrimos que o sequestrador é irmão daquele homem do clube.
Henrique ficou chocado por um momento, depois seus olhos se encheram de raiva. Então essa era mais uma trama da Mariana? Ela ainda não tinha aprendido a lição?
Esses dias, ele não havia ultrapassado nenhum limite com Camila, mas Mariana simplesmente não confiava nele.
Sentindo-se irritado e frustrado, Henrique não hesitou mais:
— Eu escolho a Camila.
— E quanto a ela? Ouvi dizer que ela é sua esposa. — Perguntou o sequestrador, indicando Mariana.
Henrique respondeu com frieza:
— A vida ou a morte dela não me dizem respeito.
O sequestrador então desamarrou Camila e a empurrou para frente. Henrique a segurou nos braços, e Leo e Susana correram para cercá-la, cheios de preocupação.
A "família" de Henrique se afastou, deixando Mariana sozinha.
Os explosivos presos ao corpo de Mariana continuavam a marcar o tempo com um bip incessante. Ela tentou se soltar, mas foi inútil. Tremendo, ela gritou:
— Quanto a Camila te deu? Eu pago o dobro!
O sequestrador hesitou, claramente tentado, mas permaneceu em silêncio.
— Eu pago dez vezes mais!
Finalmente, o contador da bomba parou. Mariana caiu de joelhos na beira do penhasco, tremendo de alívio. Sobrevivente, ela reuniu forças, levantou-se e foi pegar todos os seus documentos na casa.
Na tela do computador, ainda estava a foto de família.
Naquele momento, ficou claro para ela: em um instante decisivo, Henrique e as crianças haviam escolhido Camila.
Pensando no fato de que Camila não sabia que Leo e Susana eram seus filhos biológicos, Mariana decidiu manter o silêncio sobre a verdade.
Os problemas daquela família não eram mais da sua conta.
Com frieza, ela deletou a foto de família e mudou o papel de parede para uma imagem de céu azul e nuvens brancas.
Enquanto o carro a levava para o aeroporto, Mariana sabia que ela havia atravessado os anos sombrios passados. Agora, ela estava prestes a abraçar um futuro cheio de luz e liberdade.