O salão de festas ficou em absoluto silêncio.
Mariana pensou que tinha ouvido errado, mas as duas crianças repetiram, com a mesma firmeza de antes:
— Foi a mamãe que jogou!
— Foi mesmo! Eu vi tudo bem claro. — Susana acrescentou com sua voz infantil.
Era um tom inocente, mas carregava o peso de uma mentira cruel. As palavras dos filhos apagaram o último resquício de amor que ainda restava no coração de Mariana.
Ela tentou se defender:
— Eu não fiz isso. Se não acreditam, podemos olhar as câmeras...
— Chega! — Henrique interrompeu-a com um tom frio e autoritário. — Leo e Susana são apenas crianças. Como poderiam mentir? E, além disso, por que Camila usaria algo tão valioso para te incriminar? Você errou hoje, errou de novo, e ainda não tem a decência de admitir. Deve arcar com as consequências.
A voz de Henrique parecia congelada, cada palavra saindo como uma lâmina de gelo:
— Mariana, desça e recupere a pulseira. Só volte quando encontrá-la.
Quando Henrique tomava uma decisão, ela era final. Não havia espaço para negociações.
Os seguranças a levaram para fora, ignorando as suas tentativas de resistência, e a empurraram para dentro do lago.
O fundo do lago estava coberto de pedras e ervas daninhas. Os ferimentos que Mariana havia curado recentemente se abriram novamente, deixando seu corpo em carne viva. A dor era insuportável, e ela tremia de frio e exaustão enquanto procurava desesperadamente pela pulseira.
Ela não sabia quanto tempo tinha passado. Suas mãos estavam pálidas e enrugadas pela água, mas, finalmente, ela encontrou a pulseira.
Henrique a pegou imediatamente de suas mãos. Ele não disse nada, nem olhou para ela. Simplesmente se virou e correu para levá-la a Camila.
Mariana caiu deitada na margem do lago, exausta e cheia de lama.
Logo acima dela, ouviu as vozes de Leo e Susana.
— Maninho, a mamãe está com uma cara tão triste. Será que fomos longe demais?
— Não, papai disse que precisamos ajudar a tia Camila sem questionar. Só estamos obedecendo.
— É verdade. Além disso, a mamãe nos ama tanto que ela não vai ficar brava. Vamos lá falar com a tia Camila...
As vozes das crianças foram ficando cada vez mais distantes, até desaparecerem completamente. Mariana fechou os olhos e, pouco depois, perdeu a consciência.
Quando abriu os olhos novamente, ela estava deitada em uma cama de hospital, sozinha. Duas enfermeiras limpavam as feridas dela enquanto conversavam:
— Dizem que casar é uma questão de sorte, e parece que é mesmo. Olha para essa senhora. Toda machucada, com febre alta, e ninguém para cuidar dela.
— Já a Sra. Rocha é bem diferente. Soube que ela chorou tanto pela pulseira que o Sr. Henrique reservou um andar inteiro de uma ala VIP só para ela. Até chamou os melhores especialistas do país para tratar o inchaço nos olhos dela.
— Pois é. Além do marido que a ama, os filhos também são um encanto. Mesmo tão pequenos, um descascava lichia para ela, enquanto o outro contava histórias. Dá até inveja. Ter um casal de filhos é mesmo uma bênção!
Quando perceberam que Mariana tinha acordado, elas pararam de falar imediatamente. O quarto ficou mergulhado em silêncio, interrompido apenas pelo som do celular de Mariana vibrando.
Era uma mensagem de Henrique:
[Aproveite este tempo no hospital para refletir sobre seus erros.]
O contraste entre ser amada e ser ignorada era brutal. Mas, para Mariana, já não doía mais. Seu coração estava tão vazio que não havia espaço para tristeza ou raiva. Tudo o que ela queria era ir embora o mais rápido possível.
No dia em que recebeu alta, o motorista de Henrique foi buscá-la. Ele estacionou o carro em frente a um clube exclusivo e disse:
— Senhora, o Sr. Henrique está esperando lá dentro.
Mariana não desconfiou. Durante anos, como Sra. Rocha, ela o acompanhou em inúmeros eventos sociais e encontros de negócios.
Ao chegar na entrada indicada, ela ouviu um som estranho vindo do outro lado da porta. Achando que talvez tivesse se confundido de sala, ela olhou pela fresta da porta.
Dentro do quarto, estavam Camila e um homem que Mariana nunca tinha visto antes.
O homem estava com a camisa aberta, respirando com dificuldade, enquanto se tocava de forma perturbadora. Camila, por sua vez, permanecia sentada com uma expressão tranquila, como se nada de estranho estivesse acontecendo. Ela bagunçava os próprios cabelos e se arranhava no pescoço, deixando marcas vermelhas evidentes.
A cena era surreal e profundamente desconfortável. Algo dentro de Mariana gritou que aquilo era perigoso. Ela se virou para sair, mas não teve tempo.