O homem dentro do quarto estendeu a mão e puxou Mariana para dentro. No segundo seguinte, Henrique entrou às pressas com as duas crianças, o rosto tomado pela preocupação.
— Henrique! — Camila gritou, chorando de forma desesperada. Ela correu até ele e se atirou em seus braços, a voz carregada de desespero e histeria. — A Mariana não acredita que somos apenas amigos. Ela me dopou e disse que só ficaria tranquila se visse com os próprios olhos eu sendo violentada por outro homem!
Camila mostrou os cabelos bagunçados e as marcas vermelhas no pescoço:
— Ainda bem que você chegou a tempo, senão eu...
— Eu não fiz isso! — Mariana respondeu imediatamente, tentando se defender. — Foi o motorista que me trouxe aqui, dizendo que você me esperava.
Mas o motorista entrou pela porta antes que Mariana pudesse dizer mais alguma coisa:
— Senhora, não diga coisas que não são verdade. Foi a senhora quem me pediu para trazê-la aqui e ainda disse que algo interessante estava prestes a acontecer.
O homem dentro do quarto também se apressou a falar, parecendo desesperado:
— Sr. Henrique, a Sra. Rocha me disse que tinha arranjado uma prostituta para mim. Se eu soubesse que era sua mulher, jamais teria feito qualquer coisa! Por favor, me perdoe!
Henrique olhou fixamente para Mariana. A incredulidade em seus olhos foi rapidamente substituída por uma profunda decepção:
— Mesmo que você quisesse disputar minha atenção com a Camila, não precisava recorrer a algo tão desprezível. Você já foi vítima de algo assim no passado e agora quer usar o mesmo método para destruir a Camila? Você é cruel demais.
A voz de Henrique foi ficando cada vez mais fria:
— Hoje você vai aprender uma lição: quem fere os outros, fere a si mesmo.
Henrique então voltou-se para o homem que estava ajoelhado, implorando por misericórdia:
— Vou lhe dar uma chance de se redimir.
O coração de Mariana afundou de vez:
— O que você vai fazer? Henrique, você não pode fazer isso comigo!
Henrique soltou uma risada fria:
— Eu não sou tão imundo quanto você. Já que você queria destruir a dignidade de alguém, eu destruirei a sua imagem.
Ele deu a ordem ao homem:
— Bata no rosto dela. E bata com força.
O homem levantou-se imediatamente e começou a desferir tapas no rosto de Mariana, um após o outro.
Depois de levar cem tapas, o rosto de Mariana estava inchado de forma grotesca. O sangue escorria pelos cantos de sua boca como se fossem lágrimas feitas de dor.
A dor era insuportável. Mas, além da dor física, o que mais machucava era o desprezo no olhar de todos ao seu redor. No quarto, as pessoas exibiam expressões indiferentes ou mal disfarçavam o prazer em vê-la naquela situação.
Henrique sequer direcionou um olhar a Mariana. Ele apenas baixou os olhos e começou a consolar Camila.
— Vamos ao hospital tratar disso. O efeito do remédio vai passar logo.
— Não! — Camila chorou, agarrando-se a ele com firmeza. — Eu estou me sentindo tão mal. Eu só quero você.
E, sem qualquer hesitação, ela o beijou. Henrique sabia, racionalmente, que deveria afastá-la, mas seu corpo parecia incapaz de resistir. As lágrimas dela, o calor de seus lábios, tudo o fazia perder o controle.
Finalmente, Henrique cedeu. Ele a segurou pela cintura e a levou para o quarto ao lado, fechando a porta com um chute.
A porta fechada não conseguiu abafar os sons que se intensificavam dentro do outro quarto.
— Bravo! — Leo exclamou em francês, os olhos brilhando de entusiasmo. — A tia Camila é incrível! Como ela mandou, colocamos o remédio no café do papai, e eles finalmente se beijaram!
— É mesmo! Logo teremos um irmãozinho ou irmãzinha muito inteligente! — Susana completou em tom animado.
Mariana virou-se lentamente, o corpo rígido. Desde que as crianças começaram a aprender francês, elas passaram a tratá-la com frieza. Por isso, ela também havia começado a estudar a língua, mesmo que em segredo.
Ela nunca imaginou que o verdadeiro alvo do remédio havia sido Henrique. Muito menos que Camila tivesse manipulado crianças tão pequenas para alcançar seus objetivos.
Quando Mariana fixou o olhar em Leo e Susana, Leo tentou disfarçar:
— Mamãe, não fique triste. Nós acreditamos que não foi você quem fez isso.
Susana concordou rapidamente:
— Pois é! E aquela história da pulseira? Foi só um mal-entendido, não fique brava com a gente, tá?
Mariana soltou uma risada irônica:
— Não estou mais brava.
Ficar com raiva por causa de pessoas assim realmente não valia a pena.
Ao perceberem que Mariana havia se acalmado, as crianças voltaram a conversar animadamente em francês, sem se preocuparem em serem ouvidas.
— Mamãe é tão boba! Caiu na nossa mentira de novo! — Leo disse, rindo.
— Ela gosta da gente, é nosso gado. Claro que ela não vai ter coragem de ficar com raiva. — Susana respondeu com desdém.
— Não, não. A tia Camila explicou que homem assim é que chama de gado. Quando é mulher, o nome certo é vadia.
— Ah, é mesmo! Mamãe é uma vadia! A tia Camila é muito melhor, ela sempre ensina coisas úteis para a gente.
Mariana permaneceu em silêncio. O francês era uma língua bonita, mas usado para dizer coisas tão sujas, soava terrivelmente ofensivo.
Então era isso que Camila ensinava às crianças. Mas, se Camila soubesse que Leo e Susana eram, na verdade, seus próprios filhos biológicos, será que ela continuaria a tratá-los assim?