Mariana fixou o olhar no teste de gravidez, indicando negativo. Um sorriso irônico curvou seus lábios. Pelo menos Henrique podia ficar tranquilo: ela não daria à luz um filho que fosse verdadeiramente deles. E, pensando bem, ela também não queria mais esse filho.
Henrique soltou um suspiro aliviado. Sua voz tornou-se mais suave, quase gentil:
— Mariana, só não quero que você sofra. Leo e Susana já são suficientes para nós.
Quanta falsidade.
Mariana, no entanto, apenas respondeu com um tom distante:
— Obrigada pela preocupação.
Henrique ficou surpreso com a frieza da resposta:
— Por que está sendo tão formal?
Formal? Ela era a única estranha naquela casa. Como não seria formal?
Mariana refletiu por um momento, antes de se virar para pegar um documento. Era o acordo de divórcio. Ela o entregou a Henrique, mantendo a expressão serena:
— Tudo bem, então não vou ser formal. Quero comprar um ponto comercial.
Aquela foi a primeira vez que Mariana pediu algo para si. Henrique achou estranho. Algo não parecia certo. Ele queira ler o documento com atenção, mas foi interrompido pela voz fria de Mariana:
— Está com pena de me dar o que eu pedi?
Ao ouvir isso, Henrique soltou uma risada breve e assinou o acordo sem pestanejar. Na visão dele, sua esposa podia ter tudo o que quisesse. Não havia nada que ele não pudesse proporcionar a ela.
Mariana pegou o acordo assinado. Sentiu um peso sair de seus ombros. Aquilo era mais uma pendência resolvida.
Do lado de fora da porta, as vozes de Leo e Susana chegaram aos seus ouvidos.
— Será que a mamãe vai mesmo ter outro bebê? — Perguntou Leo, com um tom de desdém. — Ela é tão burra. E se nascer outro idiota igual a ela?
— Pois é! Ela só conseguiu ter filhos tão incríveis como nós por pura sorte. Não suporto ter uma mãe assim. Dá até dor de cabeça! — Respondeu Susana, bufando.
Os dedos de Mariana apertaram o acordo com tanta força que as juntas ficaram brancas. Eles logo teriam seus desejos atendidos. Em um mês, quando o divórcio fosse oficializado, ela não seria mais a mãe deles.
No dia seguinte, Mariana não se levantou às seis da manhã como de costume. As tarefas de cuidar das crianças e de Henrique foram todas delegadas aos empregados.
O caos não demorou a se instalar na casa.
Leo, com seu gosto exigente, recusou-se a comer qualquer coisa que não fosse preparada por Mariana. A empregada se esforçou para preparar mais de dez opções de café da manhã, mas ele não tocou em nenhuma delas.
Susana, por sua vez, implicou com os penteados feitos pela empregada. Como o tempo estava apertado, teve que ir para a escola com um coque que ela odiou, bufando de raiva e emburrada o caminho inteiro.
— Senhora... — Outra empregada apareceu no quarto de Mariana, em tom de súplica. — A nova coleção de ternos da Armani chegou, mas o Sr. Henrique não gostou de nenhuma combinação que eu fiz. Por favor, qual gravata devo escolher?
Mariana pressionou os lábios, mas respondeu com calma, como se fosse automática naquela função:
— Combine com a gravata que está no segundo compartimento do armário à esquerda, no terceiro closet. Use também as abotoaduras de prata fosca que estão na terceira gaveta à direita do quinto closet.
A empregada agradeceu e saiu rapidamente para seguir as instruções.
Instantes depois, Henrique entrou no quarto. Ele estava impecável. O terno escuro, combinado com os acessórios certos, realçava ainda mais a sua postura altiva e imponente. Aquele homem já tinha uma presença marcante, mas, vestido de forma tão elegante, parecia ainda mais inatingível.
Henrique estava encostado na porta, os braços cruzados e o olhar carregado de descontentamento:
— Por que está de greve?
Mariana nem sequer olhou para ele. Sua resposta veio fria e distante:
— Não estou me sentindo bem.
No mesmo instante, Henrique se lembrou de tudo o que tinha acontecido no dia anterior. As feridas que ela sofreu, provocadas por ele e pelas crianças, ainda estavam frescas. Uma expressão de culpa misturada com algo que ele mesmo não conseguia identificar passou rapidamente por seus olhos. Por fim, ele cedeu:
— Descanse bem.
A "greve" de Mariana logo mergulhou a casa no caos.
Mesmo com os empregados seguindo à risca os cardápios que ela havia deixado, Leo reclamava que a comida não tinha o mesmo sabor. Em poucos dias, ele já tinha perdido peso.
As empregadas tentaram imitar os penteados que Mariana fazia em Susana, mas ela sempre reclamava que estava doendo. Quando não era isso, os cabelos se soltavam antes mesmo de chegarem ao destino, deixando Susana em prantos.
Além disso, os inúmeros pequenos detalhes da rotina doméstica, que Henrique nunca tinha se dado ao trabalho de notar, começaram a virar problemas. A cada novo contratempo, ele ficava mais irritado.
Henrique, que normalmente não era exigente com os empregados, perdeu a paciência:
— Vocês não conseguem fazer direito nem as coisas mais simples!
Os empregados trabalhavam pisando em ovos, enquanto Mariana apenas observava de longe, achando tudo profundamente irônico.
Simples?
Talvez, para Henrique, ela fosse apenas uma dona de casa sem importância, e tudo o que fazia parecia pequeno e substituível.
Mas ninguém sabia o quanto Mariana havia se esforçado. Foram incontáveis tentativas, ajustando receitas até encontrar sabores que finalmente fizessem Leo comer melhor. Ela passou horas assistindo e praticando com quase mil vídeos de penteados, até conseguir fazer tranças que fossem bonitas, firmes e confortáveis para Susana.
Quanto a Henrique, que sempre teve um gosto refinado e exigente, Mariana aprendeu design, estudou arte, fez diversos cursos, tudo para aprimorar sua própria visão estética e ser a esposa perfeita para ele.
Essas pequenas coisas, invisíveis para todos, eram a forma como Mariana expressava seu amor genuíno.
Eles desfrutavam de tudo isso como se fosse algo natural, mas nunca reconheceram o valor dela.
E Henrique? Ele nunca parou para pensar que, além de ser sua esposa e mãe dos seus filhos, Mariana era, antes de tudo, uma pessoa com seus próprios sonhos e identidade.
Mas, felizmente, aquela vida estava prestes a terminar. Muito em breve, ela poderia ser ela mesma novamente.
Depois de alguns dias de desordem, Henrique começou a perceber que algo estava errado.
— Precisamos conversar.
Na manhã seguinte, ele olhou diretamente para Mariana, enquanto os dedos batiam levemente contra o criado-mudo ao lado da cama:
— Você ouviu alguma coisa?
O círculo social dos ricos era pequeno. Em um meio como aquele, segredos raramente permaneciam escondidos.
Nos últimos dias, o caos estava confinado à casa, mas, fora dali, as coisas estavam ainda mais agitadas.
Henrique tinha levado Camila a vários eventos. Aquele tipo de leilão onde o item mais valioso sempre era reservado para a Sra. Rocha agora tinha Camila como destinatária.
Quando Camila comentou que não gostava da arquitetura das casas no Brasil, Henrique imediatamente entregou a ela uma de suas propriedades, uma luxuosa mansão em estilo francês.
E quando ela disse que queria trabalhar, ele comprou, sem pensar duas vezes, uma das melhores escolas de elite de Cidade Novo Paulo e a colocou como diretora.
Mesmo depois de tudo isso, ele ainda teve a audácia de dizer a Mariana:
— Não tire conclusões precipitadas. Somos apenas amigos.
Mariana achou aquilo tão absurdo que não conseguiu sequer formular uma resposta.
Henrique franziu o cenho, impaciente:
— Mesmo que você esteja com ciúmes ou chateada comigo, as crianças não têm culpa. Você está piorando a qualidade de vida deles. Por acaso você não quer mais ser mãe?
Mariana cerrou os punhos, as unhas cravando nas palmas das mãos, enquanto tentava conter a explosão de emoções. Mas a raiva em seus olhos já não podia ser disfarçada. Ela ergueu o rosto e encarou Henrique diretamente:
— Tudo bem. Então eu não serei mais a mãe deles.