Capítulo 2
Depois que o médico da família terminou de tratar os ferimentos de Mariana, ela se levantou com esforço e foi até o escritório. Mariana precisava imprimir uma cópia do acordo de divórcio.

Ela sabia que teria que encontrar uma forma de convencer Henrique a assiná-lo, e só então poderia deixar para trás aquela vida que nunca foi realmente dela.

Quando o monitor do computador acendeu, ela parou por um instante, os dedos suspensos sobre o teclado. Seu olhar ficou fixo, paralisado. O papel de parede do desktop do computador era uma foto de família.

A imagem foi tirada no aniversário de um ano de Leo e Susana. Naquela época, as crianças eram completamente apegadas a ela. Com as pequenas mãos rechonchudas, eles a agarravam com força, como se nunca quisessem soltá-la.

O fotógrafo tentou várias vezes fazer com que olhassem para a câmera, mas, mesmo balançando os brinquedos favoritos dos dois, eles só tinham olhos para Mariana.

Os rostos redondos e cheios de vida estavam voltados para ela, com olhares tão cheios de amor que pareciam transbordar. Henrique também estava na foto, com um sorriso leve e caloroso nos lábios, abraçando suavemente Mariana e os filhos.

Mariana ficou perdida por um momento, enquanto lembranças invadiam sua mente. Henrique tinha a mesma expressão suave e carinhosa quando a convenceu a fazer fertilização in vitro.

— Quero ter um casal de filhos com você. Mas passar por duas gestações seria muito cansativo para você, e eu não quero te ver sofrer. Melhor fazermos logo tudo de uma vez. — Ele disse, com um tom tão gentil que ela acreditou.

Quando descobriu que estava grávida, Mariana chorou de felicidade. Aqueles seriam os filhos dela e de Henrique, unidos pelo mesmo sangue. Mesmo passando por enjoos que a deixavam exausta e noites intermináveis com o peso da gravidez, ela suportou tudo com esperança e amor.

Para garantir que os filhos fossem saudáveis e se sentissem próximos da mamãe, ela passou dois anos sem dormir uma única noite completa. Cada gesto foi carregado de carinho e cuidado.

Vinda de uma família disfuncional, Mariana só queria dar aos seus filhos o amor que ela nunca teve.

E assim, com o tempo, Leo e Susana foram crescendo, alimentados por esse amor. As palavras que eles mais repetiam eram:

"Mamãe é incrível!"

"Eu amo muito a mamãe!"

Mas quando eles completaram três anos, Henrique contratou uma professora de francês para eles. Foi então que as coisas começaram a mudar.

Os dois começaram a menosprezar Mariana. Diziam que ela era apenas uma dona de casa, uma pessoa sem importância. Ainda assim, depois de cada comentário cruel, eles rapidamente voltavam a ser as crianças doces e carinhosas, tentando agradá-la.

Mariana acreditava que era só uma fase, que eles ainda eram pequenos e não sabiam o que estavam dizendo. Ela nunca levou a sério. Não até o dia de hoje, não até o momento em que foi empurrada escada abaixo. Foi ali que ela finalmente entendeu.

Os filhos que ela tanto amou e cuidou, que ela sacrificou noites e dias para criar, não viam valor algum nela. No fundo, eles a desprezavam.

Aquela foto calorosa, aquela suposta família feliz... tudo não passava de uma ilusão frágil, tão fácil de se desfazer quanto uma bolha de sabão.

Respirando fundo para conter as lágrimas, Mariana rapidamente imprimiu o acordo de divórcio. Quando estava prestes a desligar o computador, ela notou algo piscando no canto inferior direito da tela.

Henrique, na pressa de sair, tinha esquecido de sair de sua conta em uma rede social. Mariana franziu o cenho. Era um perfil que ela nunca tinha visto antes, um usuário que ele claramente mantinha em segredo.

Curiosa, ela clicou. Todo o conteúdo daquela conta era sobre Camila. Tudo girava em torno dela.

Foi então que Mariana descobriu a verdade: Camila era a professora de francês de Leo e Susana.

Henrique vinha, há tempos, dizendo a eles que Mariana era burra, que Camila era infinitamente melhor. Ele manipulava os próprios filhos para colocá-los contra a Mariana.

No vídeo mais recente, Henrique estava em uma festa organizada em um luxuoso hotel cinco estrelas. Ele havia contratado os melhores amigos para dar as boas-vindas a Camila.

Leo e Susana estavam lá, abraçando Camila com entusiasmo.

— Tia Camila, você é ainda mais bonita pessoalmente do que nos vídeos! — Disse Leo, com um sorriso radiante.

— É verdade! Tia Camila é melhor que a mamãe em tudo. Eu gosto tanto de você! — Disse Susana, com a voz doce e animada.

Henrique, que estava ao lado deles, não fez qualquer esforço para corrigir os filhos. Muito pelo contrário. Ele permaneceu ao lado de Camila, e, depois de hesitar por alguns segundos, pousou a mão na cintura dela, como se finalmente tivesse tomado uma decisão.

Mariana não conseguiu desviar o olhar. Era como se estivesse se torturando, mas continuou assistindo ao vídeo até o fim. Quando terminou, sua mão tremia enquanto desligava o computador.

Afinal, ali estavam eles. Henrique, Camila, Leo e Susana. Pareciam uma família perfeita. E ela? Ela era apenas uma peça fora do lugar. Algo que nunca deveria ter estado ali.

Naquela noite, Henrique voltou para casa com as crianças.

— Mamãe, eu não empurrei você de propósito! — Disse Leo de jeito inocente.

— É mesmo, foi sem querer! Não fica brava, tá? — Susana completou com sua voz doce.

Os dois pareciam anjinhos arrependidos, achando que algumas palavras gentis bastariam para Mariana esquecê-los e perdoá-los, como sempre fazia. Mas, dessa vez, ela apenas assentiu com um gesto frio de cabeça, sem esboçar sequer um sorriso.

As crianças ficaram paradas, confusas. Henrique, que observava tudo, arqueou as sobrancelhas levemente. Ele se aproximou e, com um toque suave, deslizou os dedos pelo rosto dela:

— Ainda está doendo?

Mariana tentou recuar, mas não conseguiu evitar o toque. No instante em que sentiu a mão dele em sua pele, ela lembrou-se de como aquelas mesmas mãos já haviam segurado a cintura de Camila. Uma onda de repulsa tomou conta dela, e, sem conseguir se controlar, ela começou a engasgar, como se fosse vomitar.

Ao vê-la assim, o semblante de Henrique imediatamente se fechou.

— Está grávida de novo? — Perguntou ele, com a voz carregada de desconfiança. — Essa já é a segunda vez que você fica grávida sem planejarmos. Nós tomamos todas as precauções. Tantas coincidências assim não existem. Foi de propósito, não foi?

Henrique continuou, agora com um tom de reprovação mais evidente:

— Eu já deixei claro que ter outro filho só vai nos atrapalhar. Não quero dividir o amor que Leo e Susana recebem.

Sem esperar por uma resposta, ele agarrou Mariana pelo braço, com força o suficiente para fazê-la perder o equilíbrio, e começou a arrastá-la em direção ao banheiro no sentido de fazer um teste.

Mariana tropeçou enquanto ele a puxava, e seu corpo acabou esbarrando em um vaso decorativo. O objeto caiu no chão, se despedaçando em fragmentos. Alguns pedaços afiados cortaram as pernas dela, já doloridas e marcadas pelas pancadas da queda anterior.

Ela sentiu o vidro penetrar sua pele, a dor aguda arrancando suspiros entrecortados, mas Henrique nem percebeu.

A dor física parecia uma rede apertada, prendendo Mariana sem saída. No entanto, o que realmente a destruía era a dor em seu coração.

Ela se lembrou de quando Leo e Susana tinham cerca de três anos. Naquela época, ela engravidou novamente, de forma inesperada. Mariana sempre amou crianças e ficou radiante com a ideia de dar à luz mais um filho.

Mas Henrique não compartilhou da mesma felicidade. Ele disse:

— Da última vez, você sofreu muito durante o parto. Eu não aguento vê-la passar por isso de novo. Escute o que estou dizendo: não podemos ter outro bebê.

Leo e Susana também reagiram mal. Os dois pequenos faziam birras e repetiam que não queriam outro irmão. Pressionada por todos os lados, Mariana cedeu. Com lágrimas nos olhos e o coração em pedaços, ela aceitou interromper a gravidez.

Henrique, na época, parecia compreensivo. Ele cancelou compromissos de trabalho para ficar ao lado dela e, com uma voz suave, tentou consolá-la:

— Temos um casal de filhos perfeitos. Não fique triste por isso, está bem?

Mas agora Mariana sabia a verdade. Toda aquela gentileza e cuidado não eram por ela. Henrique não queria outro filho porque temia que Leo e Susana, os filhos que ele tanto amava por serem de Camila, perdessem atenção.

A lembrança pesava como uma lâmina cega, cortando seu coração repetidamente. Ela perdeu o único filho que seria verdadeiramente seu, enquanto ele e Camila tinham seus filhos "perfeitos".

O teste de gravidez estava em suas mãos. E o resultado já estava claro.
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