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Capítulo 8 — O Espetáculo da Humilhação

Os flashes ainda piscavam quando Rafael pousou a mão nas costas de Valentina.

O sorriso dele continuava impecável frio, estudado, quase ensaiado até a última câmera ser desligada.

Ela ainda sentia o calor do toque, mesmo depois que os jornalistas começaram a dispersar.

Mas, assim que a porta de vidro se fechou atrás deles, o ar mudou.

O silêncio veio primeiro. Depois, o frio.

Rafael soltou a mão dela o toque desapareceu como se nunca tivesse existido.

O corredor principal do Grupo Montenegro era largo, revestido de vidro e aço. O som dos passos ecoava com perfeição matemática, como se até o chão tivesse sido projetado para intimidar.

O assistente de Rafael se aproximou, entregando-lhe um tablet.

— Senhor, as ações subiram três pontos desde o início da coletiva. Disse, apressado.

Rafael assentiu, o olhar já fixo na tela.

— Confirme a reunião com o conselho às quatorze. E avise Clara para acompanhar a senhora Montenegro.

Clara surgiu logo atrás deles, impecável, como se tivesse sido invocada pelo próprio comando.

— Sim, senhor.

Valentina vinha alguns passos atrás, ainda ofuscada pelos flashes que pareciam arder em sua memória.

O corpo dela seguia a rotina da performance: andar, respirar, manter o queixo erguido. Mas a alma ainda estava presa no barulho das perguntas e na sensação de ser observada como um produto novo em prateleira.

O elevador abriu. Os três entraram.

O silêncio ali dentro era absoluto, pesado o tipo de silêncio que fala mais do que qualquer palavra.

Rafael observava o próprio reflexo na parede espelhada; Valentina observava o dela.

Dois estranhos unidos por contrato.

E Clara, imóvel, era o lembrete vivo de que nada daquilo era escolha.

Quando as portas se abriram, eles estavam no andar executivo.

Rafael caminhou à frente, passos firmes e direção clara. A cada metro, o ambiente parecia mudar de temperatura: do neutro ao gélido.

Ao chegarem ao escritório, o assistente tentou entrar, mas Rafael ergueu a mão.

— Deixem-nos.

Clara hesitou, olhou para Valentina e depois para ele, e finalmente se retirou, fechando a porta atrás de si.

O silêncio que ficou era diferente. Mais denso. Quase físico.

Rafael parou diante da parede de vidro que mostrava a cidade São Paulo brilhava lá fora, indiferente a tudo.

— A coletiva foi eficiente. Disse, ainda de costas. — As ações subiram três pontos desde as sete da manhã.

Valentina manteve a postura.

— Fico feliz em ter ajudado.

Ele se virou lentamente, o olhar cravado nela.

— Fez o que devia. Mas o que se vê ainda não é o suficiente.

A voz dele era calma, mas havia nela uma tensão quase imperceptível. O tipo de calma que precede o comando.

Rafael caminhou até a mesa e apoiou as mãos sobre o tampo de vidro.

— Clara vai te levar à Maison Moretti. Disse, direto. — Quero que a transformem.

Valentina franziu o cenho.

— Transformar?

— Roupa, cabelo, acessórios, tudo. Respondeu ele, como quem dita uma ordem de guerra. — Não poupe despesas. Quero a senhora Montenegro como a mulher mais bem-vestida do país.

Houve um instante de surpresa nos olhos dela depois, apenas o cansaço.

— Isso não é necessário.

Rafael ergueu o olhar, impassível.

— É. Você carrega meu nome agora. E o nome Montenegro não admite aparência de fragilidade.

A frase ficou pairando no ar, cruel e bonita de um jeito estranho.

Valentina respirou fundo, tentando conter o que fervia por dentro.

Ele se virou para a janela.

— Clara vai providenciar a visita ao salão. Quero o relatório completo até o fim da tarde.

O tom seco, corporativo.

Um homem falando de fusões, não de pessoas.

— E se eu não quiser ser “transformada”? Perguntou ela, por fim.

Ele voltou-se para ela com aquele olhar de aço o mesmo que ela já aprendera a temer.

— Vai ser. Querendo ou não.

O coração dela disparou, mas o rosto permaneceu imóvel.

Ela o encarou por um instante, longa o bastante para que ele percebesse que não havia submissão, só exaustão.

— Entendido. Respondeu, e virou-se para sair.

Rafael a observou caminhar até a porta.

O som dos saltos dela ecoou, seco, preciso.

Antes que a maçaneta girasse, ele falou mais para o próprio vazio do que para ela:

— É impressionante o quanto uma mulher pode mudar em tão pouco tempo.

Ela não respondeu. Mas, por um segundo, ele viu a sombra de uma expressão um sorriso quase imperceptível, cortado pela dor.

Quando a porta se fechou, Rafael ficou sozinho.

O vidro refletia a própria imagem um homem de terno caro e olhos vazios.

E por trás desse reflexo, ele viu a lembrança.

Era o corredor de universidade, um riso leve no ar, livros nos braços e o vento bagunçando o cabelo dela.

Valentina, de jeans e casaco claro, cercada de colegas, rindo como quem ainda acreditava no futuro.

O som daquela risada ficou preso na mente dele.

Tão viva e distante quanto a própria juventude.

Agora, à sua frente, havia apenas silêncio.

O telefone vibrou sobre a mesa, trazendo-o de volta à realidade.

Ele respirou fundo, ajustou o paletó e apertou o botão para atender.

A máscara voltava ao rosto.

O império continuava.

No corredor, Clara esperava de braços cruzados, o tablet nas mãos.

— O carro está pronto, senhora Montenegro. Disse, com frieza. — O senhor pediu que eu cuidasse de tudo.

Valentina assentiu, o olhar distante.

— Claro.

Caminharam lado a lado pelo corredor reluzente.

O som dos saltos de Clara e dos dela se confundia, dois ritmos idênticos, duas mulheres tentando parecer perfeitas.

Mas só uma delas sabia o peso de estar sendo apagada.

O elevador desceu devagar.

Valentina observava o reflexo o coque, o vestido bege, o batom pálido.

E se perguntou quanto tempo levaria até não se reconhecer mais.

O carro estacionou diante de uma fachada de vidro e ouro.

O nome da loja brilhava em letras cursivas no alto: Maison Moretti o templo da moda que alimentava o ego da elite.

Clara desceu primeiro, o salto soando alto demais no piso de mármore.

Valentina a seguiu, o corpo tenso, o olhar atravessando as vitrines cheias de manequins etéreos vestindo o tipo de perfeição que se compra.

— Vamos, senhora Montenegro. Disse Clara, o tom frio. — O senhor pediu que eu cuidasse de tudo.

As atendentes se apressaram ao vê-las. Um desfile de sorrisos treinados, mãos elegantes, perfumes caros.

Uma delas, loura, magra e de olhos exageradamente azuis, inclinou-se em reverência:

— É uma honra recebê-la, senhora Montenegro.

Valentina não respondeu. Apenas assentiu, sentindo o nó na garganta apertar ao ouvir aquele sobrenome.

Clara tomou a dianteira.

— Vamos precisar de vestidos, conjuntos formais, bolsas, sapatos, tudo. Disse, olhando Valentina de cima a baixo. — O senhor Montenegro não gosta de cores gritantes. Escolham tons neutros, clássicos. Nada que chame atenção.

A atendente sorriu, cúmplice.

— Entendido.

Valentina deixou-se conduzir até o provador. As luzes eram intensas, o espelho multiplicava cada detalhe.

Enquanto experimentava o primeiro vestido um tom cinza-perolado que a fazia parecer parte da parede ouviu a voz de Clara atrás dela:

— O senhor Montenegro aprecia discrição. Mulheres casadas devem ser elegantes, não provocantes.

Valentina virou-se devagar.

— Elegância e ausência são a mesma coisa pra você?

Clara arqueou uma sobrancelha.

— Elegância é saber o próprio lugar. E o seu, senhora Montenegro, não é o palco é a plateia.

O silêncio cortou o ar.

Valentina respirou fundo, controlando a resposta que ameaçava escapar.

A mulher no espelho parecia outra: mais pálida, mais contida.

— Esse vestido está bom. Disse, apenas.

Clara analisou com olhos clínicos.

— Não. Esse apaga seu tom de pele. Vai parecer cansada nas fotos. Olhou para a atendente. — Traga o bege rosado, o que lembra o usado por Isabella Moretti na semana de moda de Paris.

Valentina sentiu o estômago contrair.

Isabella. O nome pairou como veneno doce.

Clara sorriu de leve, notando o desconforto.

— A senhorita Moretti tem um senso de estilo inigualável. Refinada, elegante, um verdadeiro símbolo da família. fez uma pausa teatral. — Uma pena que não pôde vir este ano.

Valentina apenas segurou o tecido nas mãos, firme, tentando não demonstrar nada.

A assistente se aproximou, o olhar satisfeito com a própria crueldade.

— Viu como ela se porta? Continuou, girando uma revista de moda aberta numa página onde Isabella Moretti posava ao lado de um logotipo Montenegro. — É isso que se espera de uma esposa: classe, sobriedade e… silêncio.

Valentina ergueu os olhos para o reflexo e, por um segundo, quis rir ou gritar.

Mas não fez nenhum dos dois.

Depois vieram os sapatos, os acessórios, as bolsas.

A cada escolha, Clara fazia um comentário que soava como golpe:

— Muito juvenil.

— Vermelho é vulgar.

— O senhor Montenegro detesta brilhos.

— Esmalte escuro? Não. Nude ou nada. Ele é obcecado por limpeza.

Cada frase arrancava dela um pedaço invisível.

Por fim, Clara entregou uma caixa com um conjunto simples, bege e pérolas.

— Isso. Disse, satisfeita. — Finalmente parece uma Montenegro.

Valentina olhou-se no espelho.

O reflexo era perfeito, sim.

Mas vazio.

A mulher que retribuía o olhar não tinha cor, nem voz, nem rastro do que um dia fora.

— Terminamos? Perguntou, a voz baixa.

— Por hoje, sim. Respondeu Clara, digitando algo no celular. — Amanhã temos o salão. O cabelo precisa ser ajustado — essas mechas são… pouco profissionais.

Valentina assentiu, sem expressão.

No fundo, sabia que o que Clara realmente queria ajustar não era o cabelo — era a identidade.

Enquanto saíam da loja, algo no canto da vitrine chamou sua atenção:

um pôster enorme de Isabella Moretti. Vestido branco, olhar altivo, um leve sorriso.

Atrás dela, o logotipo Montenegro em letras douradas.

Valentina parou.

Por um instante, encarou aquela imagem como quem encara o próprio túmulo.

Clara se aproximou, o tom carregado de falsa inocência:

— Linda, não acha? — sussurrou. — Ela sempre soube o que é ser uma verdadeira Montenegro.

Valentina não respondeu.

Apenas continuou olhando o pôster até o motorista abrir a porta.

Quando entrou no carro, o espelho do teto refletiu seu rosto impecável, vazio, apagado.

Ela inspirou fundo, o peito pesado, e pensou:

"Faltam onze meses."

Virou o rosto para a janela.

Lá fora, São Paulo seguia em movimento viva, barulhenta, cheia de cor.

Exatamente tudo o que ela já não era.

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