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Capítulo 7 — O Espetáculo do Silêncio

A manhã começou fria, como se o próprio sol tivesse medo de atravessar as janelas daquela casa.

Valentina acordou com o som de batidas suaves na porta três, precisas, impessoais.

— São seis e trinta, senhora Montenegro. A voz de Clara era cortante, como sempre. — O senhor pediu que eu a lembrasse do café.

Valentina piscou algumas vezes antes de responder. Dormira mal, quase nada. A cabeça latejava, o corpo ainda pesado da noite anterior.

— Já estou me levantando.

Clara entrou sem esperar convite. Carregava um cabide com um conjunto de roupas em tons neutros, tão elegantes quanto frios.

— Escolha do senhor Montenegro. Disse sem emoção. Disse que o vermelho não combina com a imagem que deseja projetar.

Valentina olhou o vestido, um bege que beirava o apagado.

— Claro. murmurou, e começou a se trocar.

Enquanto ela se arrumava, Clara circulava pelo quarto, ajustando pequenos detalhes: endireitou o vaso de lírios, alinhou o lençol, recolheu o copo d’água. Era como se cada gesto seu dissesse, sem palavras: aqui, nada te pertence.

Valentina terminou de se vestir e encarou o espelho. O reflexo mostrava uma mulher que parecia parte da mobília impecável, mas sem cor.

Clara se aproximou, observou o resultado e assentiu brevemente.

— Melhor. O senhor aprecia discrição.

A frase soou como uma sentença.

Desceram em silêncio. O som dos saltos no chão de mármore ecoava como um lembrete de que cada passo ali era vigiado.

Na sala de jantar, Rafael já estava sentado à cabeceira. Jornal aberto, xícara de café à direita, o celular vibrando sem parar.

Ele não levantou o olhar quando as duas entraram.

— Bom dia. Disse ela, a voz contida.

— Está atrasada. Respondeu, sem erguer os olhos. — O café era às sete.

Valentina olhou o relógio: eram sete e cinco.

O estômago se contraiu.

Ela se sentou devagar. As mãos tremiam levemente ao pegar a xícara.

Rafael fechou o jornal e, por fim, a olhou.

O olhar dele era o mesmo da noite anterior calculado, frio, avaliador.

— Clara te explicou a agenda de hoje?

— Sim. A coletiva, às dez. Respondeu.

— Às nove e quarenta. Corrigiu, seco. — Nunca depois da hora.

Clara colocou discretamente um pequeno estojo sobre a mesa.

— Maquiagem neutra, batom claro, nada chamativo.

Rafael assentiu, sem olhar para ela.

— Ótimo. Murmurou. — A senhora Montenegro deve parecer confiável. Não excessiva.

Ela baixou o olhar para o prato: frutas cortadas milimetricamente, um pão sem manteiga, suco de laranja.

Tocou o garfo, mas o apetite não vinha.

Rafael tomou um gole de café e observou.

— Coma. A imprensa é implacável com rostos abatidos.

Ela obedeceu. Um pedaço pequeno, engolido com dificuldade.

Por um instante, o silêncio pareceu engolir tudo.

Nem Clara ousava se mover.

Rafael voltou a falar, sem alterar o tom:

— Hoje, Clara vai te acompanhar para comprar roupas adequadas. O contrato exige uma imagem pública alinhada. Você representa o sobrenome Montenegro agora.

Valentina ergueu o olhar.

— Entendo.

— Espero que sim. Ele rebateu, sem hesitar. — Você quis este acordo. Agora vai aprender o custo de tê-lo.

O garfo tremeu entre os dedos dela.

Rafael se levantou. O jornal foi dobrado, o café deixado pela metade.

— Nos vemos na empresa às oito e meia. Disse, colocando o relógio no pulso.

Clara o seguiu até a porta.

Valentina ficou sozinha à mesa, com o som distante do motor do carro sendo ligado lá fora.

Por alguns segundos, o mundo parou.

Ela olhou a própria mão sobre o prato tão imóvel quanto o resto dela.

Depois respirou fundo, devagar, e murmurou para si mesma, quase sem som:

— Um dia de cada vez. Só isso.

Mas até o ar parecia pesar.

Naquele lugar, até respirar era um ato que precisava ser aprendido.

Mais tarde, o vidro escuro da limusine refletia o rosto que Valentina aprendera a usar.

Um sorriso contido, olhar sereno, a postura exata de quem nasceu para ser observada. Por dentro, o coração batia como um tambor mas ninguém precisava saber.

Valentina chegou à empresa cerca de quinze minutos antes do início da coletiva. O hall era de vidro e aço, frio como o dono. As pessoas paravam quando ela passava — não por respeito, mas por curiosidade.

No fim do corredor, Rafael surgiu. Nenhuma palavra, só o som dos passos se encontrando no mármore.

— Lembre-se do que eu disse. Falou, sem desviar o olhar da janela. — Ninguém precisa acreditar no nosso amor. Só na imagem dele.

Valentina manteve os olhos fixos adiante.

— Pode deixar. Respondeu com calma. — Eu aprendi a representar muito antes de te conhecer.

Ele a fitou por um instante, surpreso com a firmeza, mas nada respondeu.

A sede do Grupo Montenegro, uma multidão os aguardava.

Câmeras, microfones, flashes o espetáculo do poder.

Ele estendeu a mão, e ela por um instante, hesitou. Depois, segurou-a.

O toque era firme, quase ensaiado.

Ela o acompanhou com o mesmo controle que usava nos tribunais. O vestido bege fluía bem, discreto e elegante. O cabelo preso em coque baixo. Nenhuma joia excessiva. Apenas o suficiente.

Os flashes explodiram, cegando momentaneamente.

Rafael se inclinou levemente, a boca próxima ao ouvido dela.

— Agora sorria.

E ela sorriu.

Um sorriso elegante, equilibrado, o tipo que parece real e por isso engana.

As vozes começaram a se misturar:

— Senhor Montenegro, como foi a fusão com o grupo japonês?

— Doutora Valentina, como se conheceram?

— Foi amor à primeira vista?

— O casamento foi secreto?

Rafael respondeu primeiro, com a precisão calculada de sempre:

— A fusão foi um sucesso. Quanto ao casamento... algumas coisas na vida acontecem sem planejamento, mas com propósito.

Valentina virou-se para os jornalistas. O tom dela saiu doce, natural, estudado.

— Eu não esperava. Mas às vezes o destino tem um senso de humor próprio.

Os risos foram imediatos, suaves. Os flashes dobraram.

— Então é um casamento de amor? Perguntou uma repórter mais atrevida.

Rafael passou o braço pela cintura dela, num gesto rápido, confiante.

O toque pareceu natural quase íntimo.

— É um casamento de verdade. Respondeu ele.

Valentina manteve o sorriso e o olhar fixo nele, como se concordasse com o que sentia, e não apenas com o que dizia.

O público comprou a farsa.

Uma jornalista de cabelos curtos insistiu:

— E a lua de mel, vai acontecer logo?

Ela deu uma risadinha baixa.

— O trabalho não espera. Mas quem disse que o amor precisa de calendário?

Os flashes explodiram outra vez.

A coletiva continuou por quase uma hora.

Valentina respondeu perguntas com diplomacia, elegância e um charme que nem ela sabia ainda possuir.

Vittoria, assistindo pela transmissão ao vivo no salão da mansão, manteve o rosto rígido mas o olhar denunciava desconforto.

A nora, que esperava ver humilhada, parecia uma mulher de aço e seda.

Quando a entrevista terminou, Rafael a conduziu de volta ao carro.

Os dois se sentaram em silêncio por alguns segundos.

A cidade passava em borrões de luz pela janela.

Ele foi o primeiro a quebrar o silêncio:

— Você foi... convincente.

Valentina manteve o olhar na rua.

— É o que esperava, não é? Que eu fizesse o papel direito.

— Sim. Respondeu, olhando-a agora. — Mas não esperava que fizesse tão bem.

Ela virou o rosto para ele, o sorriso breve, controlado.

— Então estamos quites. Você comprou uma imagem. Eu entreguei o produto.

Por um momento, ele apenas a observou.

Não havia sarcasmo no olhar dele, apenas algo que parecia confuso e perigoso.

Mas antes que dissesse algo, o celular de Rafael vibrou. Ele atendeu, o rosto voltando ao modo impenetrável.

Valentina desviou o olhar.

Lá fora, o trânsito seguia caótico, e o céu, cinza.

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