CONTRATO DE TRAIÇÃO

CONTRATO DE TRAIÇÃO PT

Romance
Última atualização: 2025-10-15
Tônia Fernandes   Atualizado agora
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Índice

Aos 21 anos, Gemima aceita o casamento imposto por sua família, acreditando que o destino a recompensaria com amor. O que não imagina é que seu noivo original deveria ter sido Jano, o irmão mais velho, que recusou o arranjo por achar injusto desposar alguém tão jovem. A escolha recai sobre Juno, mas a farsa desmorona no próprio dia da cerimônia: Gemima flagra o marido traindo-a com a filha da madrasta. Humilhada, mas firme, ela expõe a verdade diante de todos. Enquanto o escândalo abala os negócios e destrói a reputação das famílias, Jano observa em silêncio — e percebe que a jovem que julgara ingênua tem a fibra e a força de uma mulher que não aceita ser subjugada.

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Capítulo 1

CAPÍTULO 01

A Caminho do Altar

Hoje deveria ser o dia mais feliz da minha vida. Mas o que posso dizer? Feliz? Não.

Faz apenas dois dias que deixei a escola de freiras onde vivi os últimos dez anos. Desde os meus onze anos de idade, o convento foi a minha verdadeira casa; esta mansão, apenas um endereço onde eu passava alguns dias, um cenário onde meus pais raramente tinham tempo para mim, sempre envolvidos em eventos, ou viagens de negócios.

E agora, três dias após eu sair da clausurado convento, caminho para assinar a minha próxima sentença de prisão. Saí do convento apenas para descobrir que meus pais haviam assinado, quando eu ainda era criança, um contrato de casamento — um vínculo, uma união forçada de fortunas entre famílias antigas e tradicionais. E aqui estou, atravessando o corredor da capela da mansão, cercada por flores, vestidos e olhares curiosos.

Esperei a frase clássica, o sopro de cuidado que todo pai pensa em pronunciar, e veio apenas aquele lacônico “pronto”. Não houve “cuide bem da minha filha”. Não houve calor. Sentia um frio que já não era da igreja, vinha dele, atravessava os ossos como quem anuncia um contrato selado há muito tempo.

— Mas, ele disse apenas, está entregue...

Juno estava ali; Juno — com a cara e o jeito que eu imaginara nas noites solitárias do colégio de freiras, quando eu deixava a imaginação pintar futuros. Ele sorriu quando me viu. Um sorriso claro, jovem, de quem ainda acredita que o mundo é para ser conquistado com bons modos. A face leve dele, a maneira com que sustentava o olhar — tudo me disse que eu tinha escolhido bem ao me apaixonar. Eu me senti pequenina e inteira ao mesmo tempo: tomada por um afeto que parecia de verdade.

O padre falou. As palavras correram, solenes, em voz que me soava distante; eu já conhecia a liturgia, decorara frases como quem decora preces para os dias ruins. Tinha preparado votos, escrevera cada linha com uma esperança quase religiosa: promessas lacadas com fervor e medo bom. Guardei o papel no bolso do vestido, sentei o coração em posição de entrega e esperei que Juno dissesse as dele para então eu dar voz às minhas juras.

Ele não disse nada.

Houve silêncio quando o padre perguntou sobre os votos. Juno deixou a mão pousar sobre a minha, apertou-a com gentileza, mas não pronunciou as palavras que eu esperava. Olhei para ele por trás das pestanas e vi apenas um semblante contido, educado. Nunca antes eu havia sentido tão vivamente que as convenções podem ser cavernas vazias: o formato estava ali, perfeito, e o conteúdo — a chama que eu havia acendido no meu interior — parecia prestes a faltar oxigênio.

Resolvi — no impulso de quem teme estragar o que já foi selado — não ler os meus votos. Tudo que havia escrito ficou no papel, guardado. Decidi aceitar. Talvez fosse covardia; ou talvez fosse vontade de acreditar que o amor pode preencher lacunas que o formal não cobre. Pensei, por um segundo, que poderíamos improvisar depois, nas noites de sono, no gesto, no café morno, nas promessas sussurradas entre lençóis. Pensei que ele viria e diria as palavras que eu deixara guardadas.

O padre pronunciou a bênção; os presentes suspiraram; Juno beijou minha testa. Naquela lacônica confirmação, senti um frio cortante: um ósculo na testa, quando a boca humana sabe que, para selar de verdade, deveria pousar onde se sente o outro inteiro — na boca, no sopro que busca a reciprocidade. Saímos. As lentes buscaram nosso rosto, e eu sorri como quem tenta imprimir a paz que não sente. Juno era gentil na frente das câmeras; cumprimentava os tios, fazia uma piada tímida, apertava minha cintura com ademanes ensaiados. Eu, por minha vez, me permiti alguns momentos de felicidade; a música preenchia, o vestido rodopiava sob os refletores e por vezes eu me esquecia de que tudo era por contrato.

Então eu vi Jano.

Ele passou como quem não se move contra o ar, imponente e severo, Jano Bishop Villach caminhou com a quietude de quem domina o espaço. Era mais alto que Juno, e havia nele uma concentração de mundo que me desarmou. Olhos azuis como gelo que reflectiram algo profundo, cabelo loiro-escuro penteado de modo formal, postura de homem que fora designado a governar impérios. Quando nossos olhares se cruzaram, sentira uma pressa calma me atravessar. Não era somente o queixo firme e a mandíbula desenhada; era uma presença que impunha respeito, uma espécie de soberania silenciosa que crispava o ar.

Os pais de Juno observavam com aquela complacência vazia de quem vê um acordo bem fechado. Ao meu lado, Ofélia sorriu com a rigidez de quem estudara o mercado das aparências. Luna manteve-se austera, quase distante; aquele rosto dela ficou gravado em mim com a dureza de quem nada tem a perder. E eu — que chegara ali para selar um destino — percebi que a coreografia do mundo real começava a operar com seus fios invisíveis.

A recepção na mansão foi como um lago no qual me mergulharam sem aviso. Lanternas, arranjos, a mesa de doces que brilhava como um altar de abundância — tudo conspirava para que a festa fosse o preâmbulo de uma vida plena. Dançamos a valsa; Juno tropeçou uma vez e riu, e eu ri com ele, tentando tornar o riso perene. Ele foi gentil, atencioso, e eu quis acreditar de todo o meu ser. Lembrei da mãe: Isobel, que sonhara um destino de solidez para a filha e assinara, com Armand, o documento que agora nos prendia. Quis, por um momento, sentir que a mãe invisível estaria ao meu lado, aplaudindo a coragem da menina que havia sobrevivido ao colégio de freiras e finalmente habitava um mundo de alfaiataria e porcelana.

Fotografias, brindes, sorrisos que pareciam sinceros. Eu estava feliz. O bolo foi cortado; houve um brinde lacônico e eu ergui a taça com a sensibilidade de quem acreditou que todo o afeto que recebera até ali poderia responder por tudo.

— Querida, sua maquiagem está começando a borrar. Eu aconselho você a ir até o toalete retocar ou enxugar um pouco; você ainda vai tirar muitas fotos.

Agradeci com um sorriso rápido, agradecida pelo cuidado. Saí em direção ao lavabo que fica fora da mansão, um recanto discreto para os convidados.

Ah… quando cheguei lá, qual não foi a minha surpresa? Fiquei em choque.

Abri a porta do lavabo, e o que vi cortou meu coração em mil pedaços: Juno, o homem que eu acabara de se tornar meu marido, em plena união carnal com Luna, minha meia-irmã, no banheiro da mansão onde o casamento foi celebrado.

O choque me atravessou como uma lâmina. O vestido branco, que minutos antes parecia um símbolo de promessa, agora pesava como uma mortalha. A dor deu lugar à raiva. Minha voz explodiu antes que eu pudesse contê-la:

Pensei em recuar, em fingir que a música do salão ainda me chamava de volta. Mas meu corpo me traiu, a memória dele empurrou meus pés até a porta entreaberta. E então tudo se deu em câmera lenta.

Ali, no espaço que deveria guardar apenas toalhas e perfumes, encontrei a cena que aniquilou o que eu acreditara ser amor.

Juno e Luna.

Enlaçados. Despidos. A urgência dos corpos deles se entrelaçava sem vergonha, apenas desejo bruto. O rosto de Juno estava contorcido pelo prazer; Luna arqueava-se como se reivindicasse um trono roubado. Eles não me ouviram, tão perdidos estavam na própria volúpia.

Mas eu vi.

Vi com a clareza dolorosa de quem testemunha a própria alma sendo rasgada. Vi como quem assiste a uma traição ser costurada diante dos próprios olhos, ponto a ponto, sem misericórdia.

O mundo que eu havia imaginado — meu e dele — desfez-se em um estilhaço.

Senti a roupa em mim esfriar. O vestido de renda e seda, antes sonho, agora pesava como uma armadura inútil contra o veneno humano. Minha boca secou. O chão sob os meus pés pareceu ceder, como se quisesse me engolir inteira.

— O que vocês dois estão fazendo?! — gritei tão alto que o som ecoou pelos corredores. — O meu noivo… com a filha de Ofélia, no dia do meu casamento?!

Eles se soltaram num pulo, o susto estampado nos rostos suados. Mas já era tarde. O barulho atraiu convidados, e logo uma pequena multidão se apertava na entrada do banheiro. Os fotógrafos, sempre à espreita, ergueram suas câmeras. Flashes iluminaram a cena grotesca: os dois, seminus, tentando cobrir-se às pressas, e eu, de vestido de noiva, a dor e a indignação marcadas no meu rosto.

— Podem considerar este casamento anulado aqui e agora! — declarei, olhando fixamente para todos, a voz firme, mesmo que por dentro eu estivesse em pedaços. — Continuem aproveitando a festa, porque o que era para ser o meu casamento acabou de virar o meu descasamento. Hoje me casei, mas amanhã mesmo estarei pedindo o divórcio.

Um murmúrio percorreu os presentes. Alguns recuaram chocados, outros, excitados pelo escândalo, cochichavam. Os flashes não cessavam, imortalizando aquele instante que seria manchete nos jornais de todo o país.

Virei-me de costas para eles, não derramei uma lágrima diante dos convidados. Guardei a dor somente para mim, subi as escadas correndo, cada passo que dei ecoando como martelo, até chegar e me trancar em meu quarto. A respiração vinha em soluços, me permiti desmoronar, quanta humilhação meu Deus! Todos viram os dois no ato obsceno, e assistiram minha humilhação.

Não demorou muito tempo, ouvi as batidas na porta, e ouvi meu pai me chamando, ele me chamou com a frieza de sempre:

— Gemima, abra a porta agora, precisamos conversar!

Abri de repente, tomada por uma fúria que queimava mais do que qualquer lágrima.

— Você sabia! — cuspi as palavras, o peito arfando. — Você sabia que Juno e Luna tinham um relacionamento, e mesmo assim me obrigou a esse contrato maldito! Eu saí do convento direto para esse altar, para ser entregue como um sacrifício! Como você pôde, papai?!

Ele tentou se justificar, como sempre, com a máscara do homem de negócios:

— Era um acordo necessário, filha, um contrato assinado há anos, e você precisava se casar para garantir o futuro das empresas.

— Não! — interrompi, erguendo a voz, — o contrato não foi eu quem assinou, foram vocês . Eu não devo nada a ninguém, me recuso a permanecer nesse casamento com um trapaceiro, nem ser jogada como moeda em um jogo de ambição. Esse casamento será anulado, e nada que você diga vai me deter.

O silêncio caiu pesado entre nós, ainda de vestido branco, despida de qualquer ilusão de felicidade. E meu pai, em seu terno escuro, me mostrou sua face de covardia, naquele instante,

nós dois nos tornamos adversários em lados opostos em um campo de batalha que já não tinha volta.

E dentro de mim, algo se quebrou — e ao mesmo tempo nasceu. A noiva ferida cedia lugar a uma mulher que jamais aceitaria ser reduzida a contrato algum.

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####CAPÍTULO 07
####CAPÍTULO 08
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