Dizem que, em tempos antigos, havia um reino onde a magia corria pelo sangue dos nobres como rios de luz. No trono desse reino, sentava-se a Rainha Elenara, herdeira do sangue do Dragão Branco — a criatura mais poderosa que já caminhou entre os mundos. O Dragão Branco era a origem de todas as cores, a fusão de todas as forças elementares. E dentro da rainha, crescia uma nova vida: a princesa Lyanna destinada a carregar a esfera sagrada, o núcleo de poder da linhagem. Mas onde há poder, há cobiça. Os rivais da rainha, temendo a força da herdeira, tramaram nas sombras. Enquanto trovões cortavam o céu e os soldados lutavam para proteger o reino, a rainha foi capturada, e a guerra pelo futuro da esfera começou. No momento em que as dores do parto vieram, Elenara tomou a decisão que mudaria tudo: selar todo o poder da esfera e de sua linhagem no coração da criança. Uma magia envolveu a menina, que passou a absorver toda a energia à sua volta. Antes que os inimigos alcançassem a bebê, a rainha chamou a Besta de Guardis, a criatura mais leal do castelo. Com um feitiço antigo, enviou a criança ao mundo dos homens, onde ninguém poderia encontrá-la. Guardis, agora preso à promessa, tornou-se o vigia invisível da menina. E todas as noites, ele sussurrava as mesmas palavras, protegendo-a dos perigos ocultos: "Boa noite meu anjo!" Após seus 17 anos os poderes de Lyanna começaram a se revelar a trama envolvente demonstra a ardente paixão que Lyanna e Adrian o Guardis sentem um pelo outro, prometida ao príncipe Ryan, e sendo a nova promessa do Reino. Com a ajuda de sua melhor amiga Emma ela tenta equilibrar tudo enquanto luta contra seus inimigos mortais que tiraram a vida de sua mãe.
Leer másO relógio da pequena cidade de Windale marcava onze e quarenta e cinco quando um vento estranho soprou pelas ruas vazias. As janelas tilintaram, e as árvores pareciam se curvar como se cumprimentassem alguém invisível.
Na casa de número 17 da Rua Elmswood, uma menina dormia profundamente. Seu nome era Lyanna. Ela tinha cabelos negros como a noite sem lua e olhos verdes esmeralda que, vez ou outra, brilhavam como se capturassem pedaços de estrelas. Lyanna fora encontrada ainda bebê, há dezesseis anos, na soleira daquela mesma casa. O casal de humanos que a encontrou nunca entendeu quem a deixara ali. Mas criaram a menina como se fosse sua, embora soubessem, no fundo, que ela era diferente. Lyanna tinha sonhos que não sabia explicar. Sonhos de batalhas, de um castelo envolto em chamas, e de uma mulher de cabelos dourados que sussurrava: "Seja forte, minha pequena." E sempre, antes de adormecer, uma voz grave e reconfortante dizia: "Boa noite, meu anjo." Ela nunca contou isso a ninguém. Como poderia? Quem acreditaria que uma sombra a vigiava e que uma voz desconhecida embalava seu sono todas as noites? Mas naquela noite, algo mudaria. No instante em que o relógio marcasse meia-noite, o selo que a protegia começaria a enfraquecer. E do outro lado do véu entre os mundos, olhos famintos a procuravam. O relógio marcou meia-noite. Lyanna começou a se remexer na cama. As mãos apertaram o lençol enquanto seus olhos se moviam rápido sob as pálpebras. No sonho, ela corria por corredores de pedra, iluminados pelo fogo. O ar era denso, cheiro de fumaça, e ao fundo, uma voz feminina gritava seu nome. — Lyanna… não…! Uma figura de cabelos dourados estendia as mãos para ela, mas antes que pudesse alcançá-la, uma sombra colossal caiu sobre ambas. Lyanna gritou. — Mãe?! Acordou ofegante, sentindo o quarto mais frio do que o normal. O relógio no criado-mudo marcava exatamente 00:01. Ela se sentou na cama, passando a mão pelo rosto suado. O coração disparado batia tão forte que ela conseguia ouvir. Um calafrio percorreu sua espinha. Foi então que sentiu. Algo… alguém… a observava. Virou lentamente o rosto para a janela, onde a cortina dançava suavemente com um vento que ela não lembrava de ter ouvido antes. E ali, do lado de fora, na escuridão do jardim, dois olhos dourados a fitavam, imóveis, como se fizessem parte da própria noite. Os olhos não eram humanos. Eram profundos, antigos, e em vez de medo, Lyanna sentiu uma estranha segurança. Ela se aproximou devagar da janela, o coração ainda acelerado, mas os olhos misteriosos se afastaram como uma sombra que se dissolve no escuro. E junto com eles, o vento cessou. Por um instante, ela achou ter ouvido, no mais profundo silêncio da noite: — Boa noite, meu anjo. Mas não havia ninguém ali. A manhã chegou radiante em Windale. O sol iluminava as ruas e lançava reflexos dourados pela janela do quarto de Lyanna, agora cuidadosamente arrumado com pôsteres de bandas, prateleiras cheias de livros de poesia e medalhas escolares. No espelho do banheiro, ela ajeitou a fita vermelha no cabelo, parte do uniforme da equipe de líderes de torcida da escola. Com um sorriso largo e brilho no olhar, desceu as escadas para o café da manhã, onde seus pais adotivos já a esperavam. Na escola, Lyanna era conhecida por sua alegria contagiante. Sempre pronta para animar a torcida, sua voz era forte e cheia de energia, e suas notas — impecáveis. Ela adorava poemas, especialmente aqueles que falavam sobre coragem e esperança, e às vezes escrevia seus próprios versos escondida no caderno de anotações. Apesar da popularidade, era uma garota doce e amiga de todos, que sabia ouvir e espalhar sorrisos. Mas, naquele dia, enquanto caminhava pelo corredor lotado, uma sensação estranha lhe percorreu a espinha — como se tudo estivesse prestes a mudar em um piscar de olhos. Lyanna sorriu para as amigas, sentindo que algo maior estava começando, mesmo que ela ainda não soubesse exatamente o quê.A alvorada ainda não havia rompido no céu de Veradorn quando Darian adentrou os aposentos do rei Aldrak. O soberano estava sentado à grande mesa de estratégia, os olhos cansados e atentos sobre o mapa do reino. Vários alfinetes marcavam as últimas movimentações nas vilas e nas fronteiras. Darian se aproximou com passos firmes, ajoelhando-se com um punho sobre o peito em respeito. — Majestade. Tenho o relatório. Aldrak fez um gesto para que se levantasse. — Fale, Darian. O Guardis resumiu os acontecimentos: o nome da criada, a infiltração, o brasão da casa Cobalto, a fuga súbita, e os relatos incompletos sobre a movimentação da família Cobalto, que governava Lioren. O rei ouviu tudo em silêncio, tamborilando os dedos sobre a mesa. Por fim, inspirou fundo e se levantou, caminhando até a janela larga de pedra, olhando para os jardins ainda mergulhados na penumbra. — Se foi realmente a casa Cobalto de Lioren, Darian… — murmurou — então acabamos de tropeçar no início de uma conspira
As portas do castelo ainda nem haviam se fechado por completo quando a voz firme do Rei Aldrak ecoou pelo pátio: — Lyanna Velkaryn e Emma, ao meu salão. Agora! O tom não admitia contestação. Emma lançou um olhar preocupado para a amiga, mas Lyanna apenas respirou fundo, ajeitou a capa encharcada e juntas caminharam em direção ao salão privado. Darian tentou acompanhá-las, mas o rei ergueu a mão, ordenando que elas viessem sozinhas. O salão estava quente, o fogo ardia forte na lareira, mas o clima ali era frio. Aldrak estava de pé, de costas para a porta, observando a tempestade lá fora pela janela. Ele não se virou quando elas entraram, mas falou baixo, com a voz pesada de preocupação. — Feche a porta. Lyanna obedeceu. O silêncio que se instalou por alguns segundos parecia esmagador. Então, finalmente, ele se virou, e o olhar que ela encontrou não era apenas de um rei, mas de um pai dilacerado entre o orgulho e o medo. — Emma... pode ir por favor. Quero conversar a sós com a Lya
A chuva batia ritmada contra as pedras antigas, e o fogo seguia aquecendo o ambiente. Depois de algumas histórias e risadas, Ryan se recostou no banco de madeira improvisado, passando a mão pelos cabelos molhados.— Olha… na verdade, a curiosidade maior aqui é minha. — ele disse, encarando Emma e Lyanna com um meio sorriso. — Vocês duas cresceram em outro mundo, entre os humanos… até o Darian passou os últimos 17 anos lá, mas vocês duas… Como foi isso? Como se conheceram?Emma, trocou um olhar cúmplice com a Lyanna, e deu uma risada abafada.— Ahh, essa é boa demais! — Ela se ajeitou animada. — A gente tinha uns dez, onze anos… nossos pais nos colocaram em um desses acampamentos de verão só pra garotas.Lyanna cobriu a boca, já prevendo o final da história.— Eu tinha cortado o cabelo. — completou Emma, rindo. — Mas ficou horrível. Eu surtei, achei que minha mãe ia me matar, juro. E aí, desespero total, vejo essa garota aqui— — apontou para Lyanna — com cara de quem podia ajudar. Ped
O cheiro de terra úmida e fumaça mágica ainda pairava no ar quando os corpos carbonizados dos monstros repousavam na clareira. Lyanna respirava com dificuldade, os fios negros colados na pele suada, e Darian se mantinha atento, analisando o ambiente como um predador. Emma ajeitava a adaga ensanguentada no cinto, ainda trêmula.O som de cascos apressados cortou o silêncio. Um cavalo surgiu entre as árvores, e sobre ele vinha Ryan, o rosto marcado pela preocupação, os cabelos desalinhados pela viagem apressada.— Lyanna! — ele chamou, descendo rápido antes mesmo que o cavalo parasse. Correu até Emma, segurando os ombros dela com força demais. — Você está bem? Por Kharadorn, o que você estava pensando vindo pra cá?!Emma arfou, surpresa, mas antes que pudesse responder, Lyanna se aproximou.— Calma, príncipe. — disse Lyanna, ofegante mas firme. — Ela está bem. Nós cuidamos disso.Ryan se virou, o olhar cruzando com o de Darian, e por um instante, o velho desconforto ardeu ali, mas dissi
A floresta de Lorneden parecia viva… e faminta.As copas das árvores se entrelaçavam acima das cabeças de Lyanna, Darian e Emma, criando túneis de escuridão onde nem a lua ousava entrar. Um nevoeiro rasteiro cobria o solo, e o cheiro de madeira úmida misturado a sangue antigo pairava no ar.Darian ia à frente, os sentidos aguçados. O lobo dentro dele rosnava em alerta, percebendo coisas que os olhos humanos não viam. Ele ergueu a mão, pedindo silêncio, e os passos cessaram.— Tem algo por perto. — murmurou ele, com a voz baixa e cortante como uma lâmina.Lyanna apertou o cabo da adaga, seus olhos verdes cintilando em meio à escuridão. Ela se concentrou e sentiu uma energia antiga e distorcida rondando.— Eu também sinto. Não é humano… e não é só um.Emma engoliu em seco, pegando a faca que carregava presa à cintura.— Ótimo. Me meti mesmo na toca dos bichos…Avançaram mais alguns metros, até que Darian parou ao lado de uma árvore grossa. Havia marcas profundas de garras na madeira — l
A noite havia caído sobre a planície de Kharador, e a única iluminação vinha da luz pálida da lua e das chamas trêmulas de algumas casas ainda ardendo em brasas. Anveris, antes um vilarejo simples e acolhedor, agora era um cenário de destruição e silêncio opressor.Os três cavalgaram em silêncio pela estrada de terra batida, e Darian foi o primeiro a erguer a mão, sinalizando para que parassem.— Estamos perto — murmurou ele, os olhos de lobo atentos, farejando o ar como se pudesse sentir o cheiro da morte e do medo impregnados no ambiente.Emma engoliu seco, agarrando o cabo da adaga que carregava na cintura como se aquilo fosse capaz de protegê-la de criaturas que nem sabia nomear.Lyanna, por outro lado, sentia o peito arder em uma mistura de ira e dor. Os olhos esmeralda refletiam a chama distante como duas brasas.— Que lugar… — Emma sussurrou.O portão de madeira que separava Anveris da estrada havia sido arrancado das dobradiças, e marcas profundas de garras riscavam as paredes
Último capítulo