Enquanto Lyanna se dirigia para a aula de literatura, um burburinho começou a crescer pelo corredor. Todos olhavam para a nova chegada — um jovem de cabelos escuros e olhos profundos, com um jeito calmo e quase imperturbável.
Ele caminhava com passos firmes, vestido com o uniforme impecável da escola, mas carregava um ar de mistério que despertava a curiosidade de todos. Quando seus olhos se cruzaram com os de Lyanna, ela sentiu algo estranho, sentiu um frio suave, como se já o conhecesse há muito tempo, mesmo sem nunca tê-lo visto antes. Algo no olhar dele era familiar, e de alguma forma, a fazia se sentir em casa. O jovem se aproximou com um sorriso tranquilo e disse: — Olá, sou Darian. Acabei de me mudar para cá. Lyanna sorriu de volta, sentindo o coração bater mais forte, sem saber exatamente por quê. Os outros estudantes continuaram cochichando, mas Darian parecia alheio a tudo, focado apenas nela. Naquele momento, algo no olhar dele a fazia se sentir em casa como se conhecesse aquele rapaz há muito tempo. Lyanna tentou manter o sorriso natural enquanto ele falava, mas foi impossível ignorar a forma como o coração disparou no peito. Seus pés vacilaram levemente, como se o chão tivesse mudado de lugar sob ela. Cada vez que Darian se aproximava, era como se o ar ao redor se tornasse mais denso, e ela precisasse se lembrar de respirar. O perfume discreto que ele carregava era inebriante, uma mistura de algo fresco, amadeirado e antigo, que a fazia sentir-se estranhamente… em paz. A presença dele era imponente, mas não de forma ameaçadora. Ao contrário, havia algo tranquilizador em sua companhia, como se ela estivesse finalmente onde deveria estar. Mesmo sem entender o motivo, Lyanna sentiu-se segura, como se pudesse enfrentar o mundo enquanto aqueles olhos permanecessem sobre ela. Ela desviou o olhar, tentando disfarçar o turbilhão que se formavam dentro de si, mas no fundo sabia: Darian não era apenas mais um garoto novo na escola. Ele era… diferente E de alguma forma, os destinos deles já estavam entrelaçados. Lyanna se sentou na carteira próxima à janela, tentando recuperar o ritmo do coração. Mas era inútil. Darian ocupava o lugar ao lado dela, e mesmo sem dizer mais nada, sua presença preenchia todo o espaço. Disfarçadamente, ela desviou o olhar para ele. Primeiro para os cabelos escuros, levemente desalinhados de um jeito que parecia natural, como se o vento os tocasse só para deixá-los mais bonitos. Seus olhos desceram até os lábios — firmes, mas com um contorno suave, de quem tinha mais a dizer do que deixava transparecer. Ela se pegou imaginando qual seria o som da risada dele. O colar pendurado em seu pescoço chamou sua atenção. Um cordão de couro simples, com um pequeno pingente, gravado com símbolos que ela não reconheceu. Havia também uma pulseira discreta em seu braço esquerdo, feita de tiras de couro trançado, desgastada pelo tempo, como se carregasse histórias antigas. Seus olhos continuaram percorrendo cada detalhe — as veias discretamente marcadas no pescoço, a maneira como o peito subia e descia de forma calma, como se nada no mundo o abalasse. Era como observar um animal selvagem em paz, mas que, a qualquer instante, poderia se transformar em pura força. Cada movimento dele tinha propósito, e até o jeito como respirava parecia harmônico, como se o ambiente se moldasse à sua presença. Lyanna tentou desviar o olhar outra vez, mas era como se alguma força invisível a puxasse de volta. E, quando Darian virou o rosto e seus olhos se encontraram mais uma vez, ela sentiu o mundo inteiro silenciar. Foi então que ele sorriu de leve. Apenas para ela. E naquele instante, Lyanna teve certeza: alguma coisa havia mudado para sempre. Darian sentou-se ao lado dela, mantendo a expressão calma, mas por dentro, algo em sua essência antiga se agitava. Ele a observava de soslaio, como quem tenta decifrar um enigma que já deveria conhecer de cor, mas que de alguma forma se tornara diferente. Os cabelos dela, negros como a noite mais profunda, desciam em ondas suaves pelos ombros, com fios que reluziam sob a luz do sol que atravessava a janela da sala. Os olhos, de um verde intenso, pareciam guardar segredos que nem ela mesma sabia possuir. E quando ela corava, distraída, as bochechas adquirindo um tom rosado, era impossível não se deter naquela imagem. A pele dela tinha um brilho dourado e delicado, como se guardasse dentro de si um fragmento do próprio sol. As curvas marcadas e naturais denunciavam a força que ela carregava sem saber. Darian não sabia definir o que aquilo era. Passara anos vigiando-a de longe, protegendo-a sem jamais se revelar, e agora, ali tão perto, algo dentro dele se confundia. Era amor? Paixão? Ou apenas o peso antigo do juramento que fizera? Ele desviou o olhar, tentando retomar o controle sobre si, mas quando os olhos verdes dela encontraram os seus outra vez, sentiu o peito apertar. Havia uma beleza nela que não era só física. Era a beleza de algo eterno, de um elo forjado antes mesmo do tempo que ambos conheciam. E, pela primeira vez em séculos, Darian temeu não ser forte o bastante para resistir.