O sol já beijava as copas das árvores quando o sinal tocou, anunciando o fim das aulas. Os alunos começaram a sair pelos corredores, e o jardim ficou mais silencioso.
Lyanna ajeitou os livros no colo, sorrindo para Darian. Sentia-se estranhamente confortável ao lado dele, como se pudesse confiar nele sem entender o porquê. Era uma sensação boa, embora intensa demais para um simples conhecido. Darian observava as folhas balançarem, o cheiro suave do crepúsculo misturado ao perfume dela — doce e quente, como baunilha e terra molhada. Foi então que ela, num gesto um pouco tímido, mordeu de leve o lábio inferior antes de perguntar: — Se quiser… posso te ajudar com as matérias do começo do ano. Eu sei que é difícil entrar no meio do semestre. Se quiser, pode ir lá em casa sábado à tarde. Darian a olhou, e por um segundo, esqueceu-se até da professora Margaret. O sorriso dela, o brilho nos olhos verdes, a forma como os cabelos escuros caíam sobre os ombros. Tudo nele gritava para aceitar. Não apenas pelo dever, mas pelo desejo de estar perto. Ele sorriu de volta. — Gostaria muito. Que horas? — Às duas. Me passa seu número, te mando o endereço. Ela pegou o celular, e enquanto anotava o contato dele, Darian sentiu, pela primeira vez em anos, que aquele convite significava mais do que parecia. Não era só uma tarde de estudos. Era o início de algo maior. Do outro lado do pátio, Emma observava tudo de longe, sorrindo satisfeita. — Tô de olho em você, novato… — murmurou, meio em tom de brincadeira. E na sala escura, atrás das cortinas fechadas, Margaret assistia a cena, o ódio crescendo como uma chama venenosa no peito. Ela não ia permitir que a esfera fosse tirada dela. A noite caiu sobre a cidade como um véu espesso e silencioso. As estrelas mal conseguiam furar o manto de nuvens que cobria o céu. Na casa ampla e antiga, Lyanna ajeitava as cobertas na cama, a luz do abajur jogando sombras suaves sobre as paredes do quarto. Ela se sentia estranhamente inquieta. Seus pais adotivos haviam viajado para uma conferência fora da cidade e só voltariam na manhã de domingo. Estava acostumada a ficar sozinha, mas naquela noite… havia algo diferente. Apagou a luz, deitou-se e fechou os olhos, tentando relaxar. A brisa noturna balançava as cortinas, e o farfalhar das árvores soava como um sussurro distante. E então veio. Aquela sensação. Como se alguém a observasse. Como se olhos invisíveis acompanhassem cada respiração sua. Não era medo… era uma presença familiar. Um calor no ar, um perfume sutil de madeira queimada e terra molhada. Ela se virou na cama e, pela fresta da janela aberta, teve certeza de ver, por um instante, a silhueta de uma grande criatura de olhos dourados, protegida pelas sombras. Mas quando olhou de novo… nada. Como sempre acontecia. Era como se aquela presença fizesse parte dela. Como se desde que se entendia por gente, soubesse que havia algo ou alguém ali, vigiando. Lyanna puxou o cobertor até o queixo, sentindo o coração acelerar. Logo depois, o sono a venceu. E o sonho veio. Ela estava no grande salão do castelo novamente. O chão de mármore vermelho manchado de sangue, gritos ecoando ao longe. Sua mãe, de cabelos dourados e olhos esmeralda brilhante iguais aos dela, a abraçava com força, enquanto um brilho branco intenso as envolvia. — Nunca se esqueça… você é a luz e a tempestade. O fogo e o renascimento. Eu te amo filha! A voz sumia enquanto o salão desmoronava. Lyanna acordou com um sobressalto. O quarto mergulhado na escuridão, apenas a luz pálida da lua atravessando a janela. O vento fazia as folhas baterem contra o vidro. Ela respirou fundo, tentando se acalmar. E foi então que a sentiu novamente. A presença. Ali, próxima. Invisível, mas protetora. Como braços invisíveis que a guardavam enquanto ela dormia. Lyanna fechou os olhos. De alguma forma, ela sabia… não estava sozinha. Nunca estivera.