A noite estava silenciosa na escola. As luzes da sala dos professores já tinham sido apagadas, exceto por uma: a da sala no final do corredor, onde a professora Margaret permanecia.
Sentada à mesa, ela organizava papéis da excursão, seus óculos com aro de tartaruga refletindo a luz da luminária. As garras delicadamente disfarçadas marcavam os papéis, rasgando levemente as pontas. Seus olhos castanhos escureceram de repente. Um cheiro diferente no ar… uma energia sobrenatural atravessava a cidade. Ela se levantou devagar e foi até a janela. Do alto, avistava parte do bosque atrás da escola. As árvores pareciam mais agitadas naquela noite, como se algo antigo e perigoso tivesse despertado. Um calafrio percorreu sua espinha. Nesse instante, o celular antigo e meio gasto que ela mantinha no bolso interno do casaco vibrou. Uma mensagem criptografada apareceu na tela: "Cheguei. Me encontre no antigo moinho. A esfera será minha." Ela sorriu, mostrando discretamente as presas afiadas. — Tão cedo… — murmurou. — Isso vai ser mais divertido do que imaginei. Guardou o celular, pegou uma caixa de madeira escura da estante e trancou a sala, atravessando o corredor vazio. Ela sabia que não seria fácil. Descubriu finalmente quem era o aluno novo. Darian! O Guardis Real, e a besta era um adversário de respeito. Mas… se outros caçadores haviam chegado, o jogo estava mudando. Ela sabia que teria que agir rápido. Ou perderia a chance de capturar Lyanna — e a esfera. A lua cheia pairava alta no céu, iluminando o bosque atrás da cidade com uma luz prateada e fria. As árvores antigas balançavam como se sussurrassem segredos esquecidos, e o vento carregava o cheiro metálico de algo antigo… e perigoso. No meio da trilha de terra batida, uma figura encapuzada caminhava calmamente. O capuz ocultava seu rosto, mas os olhos brilhavam em um tom quase tão dourado quanto os de Darian, só que mais selvagens… mais sombrios. Ele carregava consigo uma lâmina antiga, presa às costas, e uma corrente com um pingente semelhante a um dente de dragão. Parou diante de uma clareira, respirando fundo. — Finalmente! — murmurou. — A esfera está perto. Uma sombra se aproximou: Margaret. — Você demorou, Kieran. — disse ela com desdém. Ele sorriu, e os dentes caninos apareceram nítidos. — Ainda sou livre para caçar do meu jeito, bruxa. — Eu não sou bruxa. — ela retrucou, os olhos faiscando. — E cuidado… Darian está aqui. Você sabe quem ele protege. Kieran gargalhou baixinho. — Ótimo. Faz tempo que quero medir forças com a velha Besta. E com a esfera tão exposta… será uma caçada interessante. Enquanto isso, na casa de Lyanna, ela rolava na cama, inquieta. Sentia um peso no ar, como se alguém a observasse. Uma leve tontura, uma pontada no peito. Algo antigo, primal… o instinto de algo que estava dentro dela e que há anos dormia, agora começava a despertar. Ela se sentou ofegante, as mãos suadas. — O que está acontecendo comigo? — sussurrou, passando a mão pelos cabelos. Lá fora, Darian se movia pela noite, os sentidos em alerta. Ele sentira o mesmo cheiro que anos atrás marcara o massacre no reino: cheiro de sangue antigo, de ameaça. Eles tinham chegado. A energia pesada no ar denunciava. Darian correu em direção à casa de Lyanna, atravessando ruas e becos sem esforço. Aquela sensação no peito — não era só o dever. Era ela. Se algo acontecesse com Lyanna… ele jamais se perdoaria. Ao chegar próximo da casa, sentiu o olhar de Margaret no bosque, e uma energia estranha mais ao fundo. Kieran. — Droga. — murmurou. — Claro que ele veio. Saltou o muro do quintal silenciosamente e subiu até a janela do quarto de Lyanna, como fizera tantas noites antes, mas dessa vez… sem máscara de vigilante distante. Abriu a janela devagar. Ela estava sentada na cama, os olhos marejados e assustados. Ao vê-lo, o coração dela disparou. — Darian? — a voz falhou. Lyanna tentava regular a respiração, sentada na beira da cama, ainda sentindo o coração disparado. Darian, encostado no batente da janela, forçou um meio sorriso, tentando esconder a tensão que ardia sob sua pele. — Eu… estava passando por aqui. — ele começou, encolhendo os ombros de maneira casual. — Vi a luz acesa e… bom, depois daquele babaca do Kyle hoje mais cedo… fiquei meio preocupado. Ele tem andado estranho, sabe? Meio obcecado. Só quis conferir se você tava bem. Lyanna sorriu, apesar do susto, o coração se acalmando um pouco só pela presença dele. — Obrigada… eu tô bem. Foi só… um pesadelo. Ele se aproximou devagar, sem cruzar a linha que poderia parecer invasiva. — Se quiser, posso ficar só até você dormir. Prometo não roubar a geladeira. — brincou, tentando aliviar a tensão. Ela riu baixinho, balançando a cabeça. — Você é estranho, Darian. Mas… do tipo bom. Ele sorriu de leve, mas por dentro, a raiva pela presença de Kieran e Margaret queimava como brasa. Eu vou proteger você… custe o que custar.