“Ela foi rejeitada pelo amor. Exilada pela matilha. Agora, pode ser a única capaz de impedir que o mundo seja devorado pela escuridão" Artemísia Goldryn sempre acreditou que o destino era uma armadilha. Como Ômega, ela foi rejeitada pela própria matilha e trocada pelo homem que amava — Lucius, o Beta que a escolheu como parceira até encontrar sua companheira predestinada e abandoná-la sem olhar para trás. Ferida e determinada a nunca mais se curvar aos caprichos da Deusa da Lua, Artemísia causa um escândalo no julgamento que selaria sua separação... e acaba exilada para Umbra, uma matilha amaldiçoada governada por Lioran, um Alfa marcado por uma maldição ancestral. Mas Umbra guarda mais do que sombras. Artemísia e Lioran são atraídos por um laço que desafia tudo o que ela jurou rejeitar. E enquanto uma seita secreta se move nas trevas para despertar uma entidade lupina esquecida — uma força capaz de consumir tudo —, Artemísia descobre que talvez o destino não seja uma prisão... mas uma guerra. Ela pode ser a chave para quebrar a maldição. Ou o sacrifício que a seita precisa para libertar o caos. Entre profecias, traições e uma loba que carrega o nome de uma deusa, Artemísia terá que decidir: lutar contra o destino... ou se tornar parte dele.
Leer más— Vamos terminar, Artemísia. Isso não pode continuar.
As palavras dele cortaram o ar como lâminas. Por um instante, tudo parou. O homem que prometeu me amar por toda a eternidade agora se escondia atrás de mãos trêmulas e olhos que evitavam os meus como se fossem maldição.
Lucius.
O homem que atravessou minhas defesas, que me fez acreditar que o amor podia ser escolha — e não destino.
— Que merda você tá dizendo, Lucius? — rosnei, sentindo o gosto metálico da raiva subir pela garganta.
— Exatamente o que ouviu. Acabou. E... preciso que você venha comigo até a família Alfa. Vamos desfazer nosso vínculo.
Ele não conseguia me encarar. A covardia escorria pelos olhos azuis que antes me prometeram o mundo.
— Um vínculo de lobo não se desfaz, Lucius. Você jurou diante da deusa da Lua. Diante da alcateia inteira.
— Isso é irrelevante. Você não é minha companheira predestinada.
— E daí? Você me escolheu! Você nunca ligou pra essa baboseira de destino. Era você e eu contra o mundo, lembra? Agora seja macho o suficiente pra me dizer o verdadeiro motivo.
— Eu... encontrei ela.
O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor.
— Ela quem, Lucius?
— A minha companheira predestinada. Conheci ela há alguns meses. — sua voz era um fio de arrependimento. — Eu tentei resistir, Artemísia. Mas o laço... é forte demais. Tá me consumindo. Eu tô ficando louco.
Espinhos. Cada palavra dele era um espinho cravado no meu peito.
— VOCÊ ME MARCOU! — gritei, puxando a gola do vestido e revelando a marca de reivindicação em meu pescoço. — Como eu fico com isso agora?
— Eu sinto muito…
Ele hesitou por um momento, como se quisesse dizer algo mais, mas o silêncio entre nós era um abismo.
— É só isso? — minha voz saiu como um sussurro, carregada de incredulidade e dor.
Lucius finalmente ergueu os olhos, e por um instante, vi o homem que me prometeu o mundo. Mas ele logo desviou o olhar, como se a culpa fosse um peso insuportável.
— Eu não posso mudar o que sinto, Artemísia.
— Não pode ou não quer? — retruquei, minha voz agora firme, quase desafiadora.
Ele não respondeu. Apenas deu um passo para trás, como se a distância pudesse aliviar a tensão.
— Você vai se arrepender disso, Lucius. Um dia, vai perceber o que perdeu.
Não tinha muita certeza de que iria. Mas repetiria como uma maldição.
Ele fechou os olhos por um breve momento, como se quisesse gravar minhas palavras. E então, sem olhar para trás, ele se virou e foi embora.
O som da porta se fechando ecoou como um ponto final na história que eu acreditava ser eterna..
Corri até a porta, o impulso de implorar quase me dominou.
Mas não.
Eu prendi as lágrimas com a força de uma loba ferida.
— COVARDE! VOCÊ É UM COVARDE, LUCIUS!
Minhas presas saltaram, minhas garras também. A porta atrás de mim virou alvo da minha fúria, marcada por cortes profundos. Meu peito ardia. Minha respiração falhava.
"Eu te avisei que devíamos ter esperado nosso parceiro predestinado."
Freya, minha loba, ressoou em minha mente com seu tom julgador.
"Cala a boca, Freya!" — retruquei, sentindo-a se calar.
Fechei a porta e fui para o quarto.
Eu deveria ter previsto isso.
Sempre fui desconfiada, sempre mantive distância. Mas Lucius... ele atravessou tudo.
E agora, me deixou em pedaços.
"Tola. Garota tola."
A voz da minha mãe ecoou como uma maldição familiar.
Ela sempre dizia que ninguém cumpre promessas com uma Ômega inferior. Que somos descartáveis.
E talvez ela estivesse certa.
Me joguei na cama, o corpo tremendo, a alma em ruínas. A marca no pescoço ardia como se tivesse sido feita há minutos. A lembrança do toque dele, do olhar apaixonado, da promessa de que seríamos nós dois contra o mundo... tudo isso agora parecia uma piada cruel.
Eu me permiti chorar. Pela primeira vez em anos, deixei as lágrimas escorrerem sem resistência. Não era só Lucius que eu perdia. Era a versão de mim que acreditava que o amor podia vencer qualquer sistema. Que bastava querer para ser suficiente.
Mas não era.
Na matilha, querer não significa nada. A Deusa da Lua decide. Ela escolhe. Ela dita. E nós obedecemos.
Eu fui tola. Acreditei que podia ser diferente. Que um Beta podia amar uma Ômega sem que o destino interferisse. Que o vínculo que criamos com nossas próprias mãos seria mais forte que qualquer laço predestinado.
Mas agora eu sabia: não era.
Lucius escolheu outra. Uma mulher que nasceu para ser dele antes mesmo dele saber que a queria.
E eu? Eu nasci para servir. Para ser esquecida. Para ser descartada.
Mas isso acaba hoje.
A dor ainda latejava, mas algo dentro de mim começava a se transformar. Uma chama. Um instinto. Uma fúria ancestral que não aceitava ser domada.
Eu não sou escória. Eu não sou inferior. Eu sou Artemísia Goldryn. E ninguém mais vai me fazer duvidar disso.
Amanhã, eu vou até a família Alfa. Vou desfazer esse vínculo. Vou encarar Lucius uma última vez. E depois disso, ele não terá mais nenhum poder sobre mim.
Nem ele, nem ninguém.
Porque amanhã, a garota que acreditava em promessas estará morta.
E a mulher que nasceu da dor — a loba que não se curva — vai emergir.E ela não vai perdoar.
-POV: Artemísia-Quase um dia inteiro de viagem. O carro cortava a estrada como uma flecha silenciosa, mas meu coração batia como um tambor de guerra. Cada quilômetro nos aproximava das coordenadas. Cada minuto me deixava mais inquieta.E então, entre as árvores, o primeiro sinal.— Ali! — disse Serys, apontando.O carro de Lioran. Estacionado, discreto, como se tivesse sido deixado às pressas.Descemos do nosso veículo e nos aproximamos. O cheiro era antigo, mas não velho. Como se o tempo tivesse parado ali.Serys abriu a porta do carro com cuidado, vasculhando o interior.— A bagagem está toda aqui — disse ele, franzindo o cenho. — Isso não é bom.Assenti, sentindo o peso da constatação. Se eles chegaram aqui por volta da manhã anterior… E se tivessem encontrado Oliver… Já teriam voltado.Algo os impediu.Serys pegou o celular, ergueu o braço, girou o corpo tentando captar algum sinal.Nada.— Sem sinal. — murmurou.Olhei para a floresta à frente. As coordenadas nos levavam direto p
-POV: Lioran-Nymerra deixou o carro estacionado a uma distância segura, os olhos varrendo o entorno com precisão. Descemos em silêncio, os sentidos em alerta, cada passo medido. O ar ali era mais denso, como se a floresta respirasse diferente. As coordenadas nos levaram até uma clareira esquecida, onde a floresta parecia se fechar em silêncio, como se guardasse um segredo antigo. Ali, entre raízes retorcidas e pedras cobertas de musgo, havia uma casa de pedra, discreta, envelhecida, como se o tempo tivesse passado por ela sem parar, mas sem deixá-la cair.A casa parecia abandonada. Mas havia algo estranho.A porta rangeu ao abrir, revelando um interior simples, mas estranho. O cheiro era de pedra úmida e madeira antiga, mas não havia poeira acumulada, nem teias de aranha. Era como se alguém tivesse limpado tudo… e saído há pouco.No canto da sala, um alçapão de ferro embutido no chão de pedra. Nymerra o encontrou com facilidade, como se já soubesse que estaria ali. Abrimos com cuida
-POV: Artemísia-Dois dias. Dois dias correndo como loba, atravessando vales queimados, florestas silenciosas, campos que pareciam lamentar o que aconteceu. O mundo não parou. Mas dentro de mim, tudo estava em ruínas.Minha mente parecia vazia. E ao mesmo tempo, cheia demais. Gritos. Chamas. Corpos pequenos. Ylva em meus braços. O sangue. O fim.Não encontrei Illía. E não tinha grandes esperanças. O silêncio da caverna ainda ecoava em mim.Valkira… Com apenas um braço. Cercada. Eu tinha noção da sua força tremenda, mas até as montanhas caem.O coração apertava a cada passo. A cada lembrança. A cada falha.E agora… Umbra.Os portões da alcatéia se erguiam diante de mim, imponentes, frios, como sentinelas que julgavam minha chegada.Hesitei.Por um segundo, pensei em voltar. Em desaparecer. Em deixar que o mundo seguisse sem mim.Mas não podia.Ylva acreditou em mim. Valkira lutou por mim. Illía… podia me agarrar na esperança de que ela poderia estar viva por aí. E todos os que caíram…
-POV: Lioran-O mapa estava aberto sobre a mesa, as coordenadas marcadas com precisão. A luz do escritório tremia com o vento que soprava pelas janelas entreabertas. Nymerra estava em pé ao meu lado, os braços cruzados, o olhar atento. Serys, do outro lado da mesa, com a expressão cada vez mais fechada.— Você não pode ir sozinho — disse ele, firme.— Não vou — respondi, sem hesitar. — Nymerra vai comigo.Serys franziu o cenho.— E eu também, certo?Olhei para ele. Aquele olhar que precede uma notícia que sei que ele vai odiar. Ele percebeu antes mesmo de eu abrir a boca.— Sem chance — disse, já se sobressaltando. — Você não vai sozinho com Nymerra e me deixar aqui em Umbra sem saber o que está acontecendo!Suspirei.— Serys, você precisa ficar. Alguém tem que manter tudo em ordem enquanto eu estiver fora. Umbra não pode ficar sem liderança. Você sabe disso.— Eu sei que você está prestes a se meter numa missão suicida — retrucou, os olhos ardendo. — E quer que eu fique aqui, sentado
-POV: Artemísia-Ylva estava em meus braços, o sangue escorrendo pelas vestes brancas, tingindo de vermelho tudo que antes era pureza. Sua respiração era fraca, entrecortada, como se cada fôlego fosse uma batalha.— Não… — murmurei, pressionando o ferimento com a mão trêmula. — Você não vai partir. Não agora.Ela tentou sorrir, mas o gesto se perdeu na dor. Seus olhos, ainda vivos, me encararam com uma ternura que rasgava o peito.— Artemísia… — disse, com a voz rouca. — Você… é tudo que esperávamos. Tudo que o mundo precisa.— Não fala assim — pedi, as lágrimas já escorrendo. — Eu ainda preciso de você. O mundo ainda precisa de você.Ela ergueu a mão com esforço e tocou meu rosto, os dedos manchados de sangue.— Não… o mundo precisa de você. Eu tenho fé em você. Você vai salvar todos nós.— Ylva…— Você vai salvar o mundo.E então… Seus olhos se fecharam. O corpo perdeu o peso da alma.Fiquei ali, segurando-a, como quem segura o último fio de esperança. Mas o fio havia se partido.E
-POV: Artemísia-A luz suave das lanternas penduradas na tenda tremeluzia com o vento da noite. Deitei sobre os lençóis de linho, o corpo ainda aquecido pelo banho, o traje valquiriano dobrado ao lado, pronto para o amanhecer.Essa seria minha última noite no Refúgio Vé Freyja.Fechei os olhos por um momento, deixando que as memórias me envolvessem.Os treinos com Valkira, duros e precisos, moldando meu corpo e minha mente como ferro em brasa. As aulas de magia com Ylva, onde cada gesto, cada palavra, parecia abrir uma nova janela dentro de mim. As brincadeiras com Illía, leves como o vento, doces como o mel das colinas.Ali era um lugar de paz. De aprendizado. De cura.Foi a primeira vez que estive entre humanos que não queriam me caçar. E isso… mudou algo em mim.Há muito no mundo que precisa ser salvo. Muito mais do que eu imaginava.Pensei em Oliver. Meu pai. Ele esteve aqui. Treinou, aprendeu, cresceu. Tudo isso enquanto pensava em mim, enquanto tentava me proteger.Toquei o cola
Último capítulo