Meu corpo inteiro paralisa ao ouvir as palavras que saem da boca de Lucius. Instantaneamente, interrompo o ataque e me afasto de Elise.
Lucius corre até ela, tomado pela preocupação. A envolve com seus braços fortes, protetores, perguntando sem parar se ela está bem. Ela se encolhe em seu abraço, e suas mãos pousam instintivamente sobre a barriga, ainda imperceptível.
Estou em choque. Ele não só passou mais de um mês com ela pelas minhas costas, como também transou com ela. E pior: fez um filhote.
Não posso ter o sangue de um inocente nas minhas mãos. Mas a vontade de quebrar o focinho empinado de Elise ainda pulsa forte. Só depois de arrancar o do Lucius primeiro.
— Desculpa, eu não sabia que estava grávida. Meus parabéns, você deve ser bem fértil para conseguir essa proeza em poucos meses, ou talvez seja porque vocês tentaram com tanto afinco. Realmente impressionante. — digo, sem conseguir segurar todo o deboche.
— Chega, Artemísia! Já chega disso. — Lucius esbraveja.
— Amanhã nós resolvemos isso oficialmente, Lucius. Quero te deixar ciente que eu pedirei a sentença da lei lunar como indenização pela quebra do nosso vínculo e a marca que você deixou em mim. — falo enquanto limpo a sujeira do meu pijama.
— O quê? Você não seria capaz disso, Artê! Tenha consideração por todos nossos momentos juntos, nós fomos felizes durante esses anos, mas agora temos que tomar rumos diferentes.
— E você teve essa consideração comigo? Veio me contar isso agora, depois de ter marcado e engravidado outra, nem para me deixar ciente antes você foi macho suficiente. E não me chame mais pelo meu apelido. Vão embora daqui, os dois.
— Sua estúpida! Você vai ter o que merece. — Elise late. Eu apenas mostro meus dentes para ela e rosno.
— Vamos, Elise. Não adianta de nada continuar aqui. — Lucius a carrega e finalmente vai embora.
Vou precisar de outro banho para lavar a sujeira da briga. Mas dessa vez, seja o que for, nada vai me tirar da cama até o sol raiar.
Ou pelo menos era o plano. A insônia me fez refém. Não consigo dormir depois de tudo que aconteceu.
Cada vez que paro para pensar, percebo o tamanho da merda que fiz. Eu agredi a filha de um Alfa. A filha grávida de um Alfa.
E duvido muito que ela vá ser piedosa e esconder isso do pai. Agredir os herdeiros de um Alfa é um desrespeito enorme — um crime gravíssimo. Nem mesmo um Beta escaparia ileso. Quanto mais uma Ômega como eu.
Ai, minha deusa... Estou completamente fodida.
Já era. Não há muito que eu possa fazer para salvar minha pele. Só me resta engolir o medo e aparecer amanhã de cabeça erguida diante do Alfa, pronta para receber o que vier.
Mas nem precisei esperar o amanhecer. Eram quatro da manhã quando os oficiais Beta bateram à minha porta. Fui levada sob custódia até a cadeia, onde aguardaria o julgamento.
-POV: AIDEN-
— Mãe, acorda. — digo, sacudindo de leve a loba que ainda dorme como um bebê, apesar dos seus cinquenta anos. Ela se remexe na cama, mas não dá sinal de que vai acordar.
— Mãe... a Artê foi presa.
Dessa vez, os olhos dela se abrem num estalo. Apesar disso, sua expressão continua serena. Ela se senta devagar, ainda na cama, e me encara com seus olhos dourados e afiados, estudando meu rosto.
— O que você disse?
— Artemísia está presa. — repito, mais firme.
— Eu ouvi da primeira vez. Na verdade... não me surpreende. — diz, com um tom quase indiferente. — Foi o quê agora? Briga de rua?
— Ela atacou a filha do Alfa líder...
A serenidade se desfaz. Dessa vez, vejo preocupação real em seu olhar.
— Mas o quê?! Ela é louca? Ela tem noção do que vai acontecer com ela? Do que vai acontecer com a gente?
— O que temos a ver com isso, mãe?
— Meu filho... nesse sistema, temos tudo a ver. Não é só Artemísia que será punida. Nós também seremos. Somos uma família de Ômegas. Se ela não se mostrou confiável, seremos vistos da mesma forma. — diz, já se levantando e separando uma roupa.
— O que você tá fazendo? — pergunto, desconfiado, ao vê-la se aprontando.
— O que você acha? Temos um julgamento pra ir.