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Capítulo 2: Quem não te quer sou eu

Isso dói. Dói para caralho.

Eu preferia ter meu crânio esmagado de uma só vez, só para não ter que passar mais um segundo aqui.

As palavras de Lucius cravaram fundo no meu coração. 

Ele dizia aquilo como se eu nunca tivesse existido na vida dele. 

Como se eu não fosse nada.

A filha do Alfa? 

Claro. 

Eu nunca teria como competir.

Uma mera Ômega não estaria aos pés de um Beta como Lucius. 

Agora vejo claramente o quão tola eu fui esse tempo todo. 

Ele só estava brincando de casinha com a Ômega. 

Enquanto sua parceira de verdade não havia se revelado.

Vamos, Artemísia. 

Mantenha a compostura.

— Como e quando vocês descobriram o laço de companheiro? Por que tão tarde? — o Alfa líder perguntou após a revelação de Lucius, o normal, na idade deles, seria já terem reconhecido o laço antes.

— Nos conhecemos há dois meses, quando madame Elise voltou do exterior. — Ele começa a falar. Hesitante.

Até então, eu nunca tinha visto a filha mais nova do Alfa. Foi por acaso. A encontrei na entrada da residência Alfa, chegando de viagem. — Lucius continua de forma lenta, como se tentasse recordar os acontecimentos.

— No instante em que nos vimos, sentimos o choque do laço. Foi intenso. Começamos a nos encontrar, aos poucos. Eu ainda estava relutante… por causa do meu vínculo atual. — Ele me lança um olhar de canto. — Isso atrasou minha decisão final.

— E o que você, Elise, minha filha, acha disso? — o Alfa líder se direciona à sua filha mais nova.

— É recíproco, pai. Eu o amo, mais que tudo. Desde o dia em que coloquei os olhos em Lucius, eu sabia que fomos feitos para estarmos juntos — ela responde.

Convicção.

Frieza.

Superioridade.

— E você, Artemísia Goldryn, o que nos diz sobre essa situação? 

Eu não estava pronta para falar, não sei se consigo manter a voz firme. 

Porém, não posso deixar o Alfa líder esperando. 

— Com todo respeito, Alfa Líder Benedict, eu não dou a mínima pro que Lucius vai fazer da vida dele. Ele é bonito, forte… até fofinho. Mas nada demais. Sinceramente? Nunca esperei muito da nossa relação. Eu só estava confortável, e o status de Beta dele era bem conveniente. Só acho que saí em desvantagem nessa história.

As palavras saíram como adagas cegas, lançadas em todas as direções. 

Nenhuma delas era verdade. 

Mas eu não podia deixar essa situação me humilhar mais do que já estava.

Houve burburinhos. 

Os membros presentes estavam chocados. 

O Alfa manteve a postura, mas claramente não esperava aquela resposta. 

Lucius… parecia atordoado. 

O ego ferido. 

Doeu nele.  Um pouco.

Mas não tanto quanto doeu em mim. 

Ainda assim, ver aquela dor trouxe um fiapo de satisfação ao meu coração ferido.

— Então podemos prosseguir com o encerramento do vínculo de vocês? E o que quis dizer com você ter saído em desvantagem? — o Alfa Líder retoma o foco da reunião.

— Bem, o Lucius me marcou, e todo mundo sabe que a marca de reivindicação não é facilmente removível, no entanto, agora que ele quer se desfazer do nosso vínculo, essa marca não me serve de nada, nada além de um fardo que terei que carregar, nenhum outro pretendente irá se aproximar ao ver que já fui reivindicada. 

— De fato, você tem um ponto. Mas o que você sugere que seja feito para resolver essa questão? — o Alfa Líder pondera. 

— Eu temo que não poderei aceitar o encerramento do nosso vínculo, por mais que entenda o lado de Lucius e sua contraparte, até ontem desconhecida por mim. 

Lucius se sobressalta.

Me lançando um olhar raivoso e questionador.

Ele não diz nada mas eu posso ler claramente o que há em seus olhos: “Você não ousaria fazer isso”. 

Não só ousaria, como estou fazendo, querido. 

Todos no salão começam a se agitar e burburinhos se espalham por todo o ambiente. 

O Alfa Líder levanta a mão. Silêncio instantâneo. 

— É compreensível a sua rejeição. Porém, terei que pedir tempo para decidir o que será feito sobre essa questão, logo, encerro por aqui nossa reunião. Nos reuniremos novamente amanhã para eu dar meu veredito. 

Não me sinto confortável em deixar esse assunto pendente. 

Mas entendo que a situação é complexa.

O auditório começa a esvaziar.

Lucius se aproxima de Elise, visivelmente preocupado.

Tenho quase certeza de que ele esperava que eu baixasse a cabeça.

Que deixasse que me humilhasse diante de todos.

Mas ele, mais do que ninguém, deveria saber:

Artemísia Goldryn não sai por baixo.

Elise parecia inquieta.

Se eu me concentrasse, ouviria cada palavra.

Mas não quero mais me envolver.

Só quero ir para casa.

Arrumo minhas coisas rapidamente e sigo em direção à porta. É então que sinto um olhar pesado sobre mim.

Olho ao redor. 

Encontro os olhos azul-escuros de Elise, fixos em mim. 

Ela carrega a fineza da família Alfa… 

Mas eu poderia jurar que havia uma pontada de ódio ali.

Depois de um banho merecido, me jogo na cama. 

Pronta para apagar em segundos. 

Mas o descanso mal começa.

Interrompido por batidas agressivas na porta. 

Suspiro. 

Irritada. 

Vou atender com pouca paciência.

— Lucius, eu não quero mais ouvir nada do que você tem a dizer…

Abro a porta.

Mas me surpreendo.

— Elise? A que devo a honra? Veio me entregar um convite de casamento atrasado?

— Cale a sua boca, Ômega! Precisamos conversar. — ela retruca de maneira nada amigável e com uma arrogância sem limites.

— Seja mais clara, “madame”, ou conversaremos ou mantenho minha boca calada. Aliás, não sei se o Lucius te informou, mas a “ômega” aqui se chama Artemísia, ele já deveria ter aprendido meu nome nesses sete anos juntos. — respondo sem medo, sei que como Beta e ainda mais da família Alfa ela deve ter a bola lá no alto, mas não permitirei que ninguém me tire para pouca coisa, nem a própria deusa.

— Serei breve. Aceite o rompimento do vínculo com o Lucius amanhã de forma pacífica e não terá problemas. — a voz da princesinha soa firme e decidida.

— Problemas eu já tenho, esqueceu que ele me marcou? Não é justo eu conviver com isso enquanto ele pode simplesmente trocar de parceira como troca de roupas. Sinto muito, mas terei que negar.

— Você não entende mesmo o que está em jogo, né? O que você precisa? Dinheiro? Emprego? Cargos? Podemos negociar. 

Eu preciso que ele seja punido devidamente, talvez uma punição para traição de vínculo conforme as leis lunares? É, seria suficiente. 

Ela empalidece.

A punição para traição de vínculo é clara.

Castração.

— Impossível! Isso eu não posso lhe conceber, você está agindo como uma estúpida, apenas nos deixe viver felizes e em paz! 

— Imaginei que recusaria, as bolas do Lucius realmente são muito valiosas, o que vem acompanhado então…

O tapa vem rápido.

Arde como chicote.

A vadia é forte. 

— Não ouse falar do meu companheiro assim!! 

Ela mostra os dentes.

Rosna.

— Você é exatamente o que se espera de uma ômega, uma piranha sem valor que correu atrás de um Beta de prestígio como o Lucius apenas para tentar ser o que não nasceu para ser, você nunca será como nós, você foi escolhida pela deusa para varrer o chão que eu piso, então olhe bem o jeito como fala comigo! 

As palavras dela me irritam.

Beta isso. Ômega aquilo.

Como se eu não fosse tão loba quanto ela.

Mas também sei rosnar.

Mostrar os dentes.

E bater.

Com ódio e dor acumulados, acerto seu rosto com força.

Ela hesita.

Depois vem pra cima com sangue nos olhos.

Nos atacamos com ferocidade.

Freya, inquieta dentro de mim, implora para ser liberada.

Estamos a um passo da transformação.

Sei que Elise é forte.

Filha de Alfa e Beta.

Bem treinada.

Eu sou briga de rua.

Sobrevivência.

Mas Freya é uma loba ônix.

Rara.

Poderosa.

Imprevisível.

Avanço.

Derrubo Elise.

Me preparo para morder seu ombro.

Até que o grito desesperado de Lucius nos interrompe:

— PARE, ARTEMÍSIA! PARE COM ISSO! ELA ESTÁ GRÁVIDA!

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